Entrevista com John Hass, diretor do Centro Católico de Bioética dos EUA
O Dr. John Hass, diretor do Centro Nacional Católico de Bioética dos Estados Unidos e membro prominente do Instituto Internacional para a Cultura, foi o encarregado de pôr em marcha a segunda geração do mestrado em bioética ministrado no Centro de Pesquisa Social Avançada (CISAV), em seu novo campus, em Querétaro (México).
A conferência inaugural dessa importantíssima pós-graduação do CISAV foi dada pelo Dr. Hass, sobre o tema dos riscos que a humanidade enfrenta com a clonagem.
De fato, o mestrado em bioética do CISAV é o primeiro em seu gênero na América Latina e enfrenta, com rigor acadêmico e baseado na doutrina social da Igreja, estes fenômenos que poderiam parecer exclusivos de países desenvolvidos, mas que, pouco a pouco, vão sendo introduzidos nas legislações dos países que formam – do ponto de vista católico – “o continente da esperança”.
Entrevistado por El Observador, John Hass foi enfático ao afirmar que a Igreja Católica tem uma enorme área de oportunidade nos temas que a bioética abrange. Nos Estados Unidos, a Igreja está na vanguarda. No México, através de centros de pesquisa como o CISAV, tem esse importante futuro.
Que papel a Igreja Católica está desempenhando neste debate sobre a ética e a biologia nos Estados Unidos?
John Hass: Uma questão que é muito interessante de observar é que a Igreja Católica esteve e está na vanguarda. O mundo inteiro fala de bioética hoje, mas devo dizer que nosso centro foi estabelecido em 1972, antes de que o aborto fosse legalizado nos Estados Unidos, antes de ouvirmos falar da AIDS, antes de que as células estaminais fossem isoladas… Nos Estados Unidos, depois do governo, a Igreja Católica é a entidade provedora mais importante de serviços de saúde à população. São milhões de dólares destinados pela Igreja aos serviços de saúde dos americanos, todos os anos. Isso nos levou a ser capazes de antecipar os temas que, amanhã, serão centrais na medicina e nas ciências da vida. Temos de estar preparados para enfrentá-los a partir do Evangelho.
Qual é o tema mais importante na bioética hoje?
John Hass: Em minha opinião, é a despersonalização e desumanização dos serviços de saúde. Os seres humanos estão sendo concebidos como carentes de direitos. A doação de órgãos se converteu em um negócio internacional. Ocorreu o mesmo com a fertilização in vitro que, nos Estados Unidos, movimenta cerca de 5 milhões de dólares por ano… Homens e mulheres não estão sendo considerados como seres humanos, mas como material de uso para experimentos científicos, inclusive, algumas vezes, para experimentos que, na fachada, parecem ter ótimas intenções de ajudar os outros.
Está havendo avanço nos comitês de bioética dos hospitais? Estão levando em consideração a Igreja Católica?
John Hass: Isso é muito importante. Há mais de 5 anos, a organização que acredita os hospitais nos Estados Unidos estabeleceu como norma a posta em marcha de um comitê de ética para cada hospital. Mas cada hospital católico nos Estados Unidos já o tinha e sempre o teve. Este é outro exemplo de como a Igreja Católica caminha adiantada com relação aos tempos. O Comitê Nacional de Bioética, que presido, tem um programa de um ano para certificar os hospitais neste tema. Médicos, enfermeiras, pessoal administrativo, todos recebem o curso completo. Isso nos permite uniformizar critérios bioéticos com a essência católica e fazer que a moral e os princípios do catolicismo estejam nos hospitais que a Igreja administra. E nos outros hospitais, estão seguindo o nosso exemplo e os nossos métodos.
Vocês enfrentam a “lenda negra” de que a Igreja Católica se opõe ao progresso científico?
John Hass: Sua pergunta é muito interessante, pois nos Estados Unidos ninguém escutou nada sobre a “lenda negra”, mas os efeitos são os mesmos que se produzem na América Latina com relação ao papel da Igreja na conquista e na colonização. Nos Estados Unidos é diferente, pois se trata de um país de maioria protestante. E os protestantes acreditam que suas ideias são o que a religião é. Lutero dizia que somos salvos pela graça e somente pela fé. Para ele, a razão era perigosa. Em seu comentário à Carta aos Gálatas, diz que, se os cristãos querem se salvar, devem matar a razão e oferecê-la como um sacrifício a Deus. O problema é que muitas pessoas no meu país acreditam que “isso” faz parte de todas as religiões. Portanto, a Igreja Católica seria “irracional” e “legalista”. E nada menos perto da verdade, como mostraram os Papas João Paulo II e Bento XVI: fé e razão são as duas forças que temos para conhecer a verdade. Também nada mais afastado da verdade que dizer que os católicos rejeitam o aborto, a anticoncepção etc., porque alguém manda fazer isso, não porque descobriram a imoralidade, a inumanidade dessas práticas a partir do Evangelho, do espírito do Evangelho, da liberdade do Evangelho.
Como se pode reintroduzir a verdadeira cultura católica no contexto em que vivemos?
John Hass: Em sua encíclica “o esplendor da Verdade”, o Papa João Paulo II diz, quase no final, que a verdadeira força do ensinamento da Igreja e da cultura da Igreja Católica é a de permanecer com o olhar dirigido a Jesus Cristo crucificado. Daí parte tudo, pois já não estamos na época dos argumentos, mas na época das testemunhas, como disse uma vez à Conferência Episcopal dos Estados Unidos o então cardeal Joseph Ratzinger.
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Mais informações sobre o Centro de Pesquisa Social Avançada e o mestrado em bioética: www.cisav.mx
(Jaime Septién)
Fonte: Zenit