O texto abaixo relata uma experiência que vivi no dia 20 de Novembro de 2007. Não esqueço essa data, pois ela é um marco na minha amizade com o Flavio, meu irmão de comunidade. Nesse dia eu tomei consciência que Deus estava me oferecendo um tesouro, um novo amigo, e o quanto eu estava me fechando a essa nova amizade. Assim nasceu o Chinelo Partilhado.Que todos nós sejamos ousados em partilhar o que somos, e prontos a assumir os tesouros do Céu. Dessa forma, toda a Igreja do Senhor será beneficiada!
Chinelo partilhado
“…uma viúva necessitada deu duas moedinhas…” (Lc 21,2)
A tarde de hoje me marcou. O sol era intenso, montanhas belíssimas – e imensas, céu azul… era por volta das três da tarde. Estávamos em dia de confraternização numa fazenda, próxima à cidade de Cachoeira Paulista, interior do estado de São Paulo.
O fazendeiro estava nos apresentando sua propriedade. Já havíamos caminhado pelo curral, e nos dirigíamos ao pasto com a intenção de ver o gado e a paisagem do monte. Nessa hora Jesus se revelou a mim no gesto de um dos meus irmãos de comunidade. Seu nome Gevanildo, o Geva.
O fato se deu quando o Flávio, também membro da comunidade, havia tomado a decisão de não continuar o percurso pela fazenda, pois estava descalço e poderia ferir seu pé. Imediatamente pensei comigo: vou fazer-lhe companhia, pois não é justo que ele fique aqui, sozinho. Aprendi que quem ama sabe esperar, e até morrer para suas vontades e eu não poderia perder a oportunidade de demonstrar meu amor pelo Flávio. Entretanto, alguém foi mais longe no amor…
Geva me surpreendeu com um gesto seu: tirou o chinelo de um dos pés e deu-o ao Flávio para que ele pudesse nos acompanhar com, pelo menos, um chinelo. Fiquei boquiaberto com aquela cena. Eu nunca vi alguém partilhar seu chinelo! Eram dois jovens de vinte e poucos anos de idade! Não era filme, nem tampouco uma estória que lia num livro… era real, estava acontecendo ali diante dos meus olhos… Eu estava vendo alguém partilhar seu chinelo para dar ao outro a alegria da presença.
Cheguei à conclusão que eu não posso ser tímido nos meus atos de amor! Quem ama vai além… surpreende!
Deus gritou comigo hoje à tarde me ensinando a partilhar os chinelos da minha existência: aquilo que é só meu, que eu até preciso, mas que posso partilhar com alguém que precisa mais do que eu. E que ao partilhar se multiplica. Partilhar o que sobra é até fácil. Mas a vida cristã nos ensina a progredir. A amar sem esperar nada em troca.
Continuamos o passeio… o Geva com um pé descalço e outro calçado, como Flávio, para que ele estivesse conosco, e eu com o coração no chinelo partilhado… Porque alguém ousou dividir sua pobreza.
Que Deus nos ajude a dividirmo-nos uns aos outros! Porque o meu “próximo é aquele de quem eu me aproximo” (Dom Alberto Taveira).
Grande abraço,
Maranathá!!
Edmilson Dias.
Seminarista – Comunidade Canção Nova