Os filmes bíblicos eram praticamente considerados reproduções de histórias cristãs
Conteúdo enviado pela internauta Nicolli Pereira
Filmes bíblicos não são novidade. Um dos primeiros longa-metragens produzidos foi o filme mudo “A Vida e a Paixão de Cristo”, lançado em Paris em 1903. O filme conta de forma clara, embora muda, os principais acontecimentos contidos nos Evangelhos. Alguns anos depois, em 1923, o filme “Os Dez Mandamentos” obteve muito sucesso, estabelecendo o recorde de bilheteria da Paramount durante os 25 anos seguintes. Atualmente, só nos últimos dois anos, tivemos mais de sete filmes e séries baseados em histórias bíblicas – “Noé”, “Êxodo: Deuses e Reis”, “O Livro de Ester”, “O Livro de Daniel”, “A Tenda Vermelha [The Red Tent]”, etc. Mas há uma grande diferença: antigamente, os enredos eram mais fiéis à Bíblia do que são hoje em dia. Os filmes bíblicos eram praticamente considerados reproduções de histórias cristãs; enquanto Noé e Êxodo, por exemplo, ambos lançados em 2014, têm causado polêmica entre críticos e religiosos no mundo todo, a ponto de ser banido em alguns países.
O impacto causado pelos filmes bíblicos atuais
O filme “Noé”, que estreou em abril de 2014, teve o melhor resultado de bilheteria para um filme original (não atrelado a uma franquia) no Brasil durante o ano. Segundo a distribuidora do filme, Paramount, a produção dirigida por Darren Aronofsky registrou um público de mais de 1,340 milhão no fim de semana, acumulando R$ 20 milhões de bilheteria e se consolidando como a maior abertura do ano no país, até então. Noé terminou o ano em 4º lugar em ranking de bilheteria, e na mesma lista, Êxodo ficou em 11º lugar, uma posição também significativa diante de tantos filmes lançados durante o ano.
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Quando se trata de um filme, supõe-se que o próprio seja uma releitura artística e, na maioria das vezes, subjetiva do diretor sobre o tema abordado. Isso é muito fácil de entender no gênero da ficção científica, que depende exclusivamente da imaginação do diretor e de curiosidades e teorias humanas a respeito do sobrenatural. No entanto, quando se fala de religião, o assunto é mais sensível. Para os céticos, a religião é quase como a ficção científica – algo que se pode mexer, deturpar, esticar e distorcer a fim de provar um ponto, provocar um sentimento ou apenas externar uma história inédita e instigante. Isso se torna um problema para nos fiéis, que sabemos que não se trata de apenas um história, mas algo real e concreto. Dessa forma, os tais filmes bíblicos que fizeram grande sucesso nas bilheterias, como Noé e Êxodo, em vez de propagar a mensagem cristã, tornam-se uma oportunidade perdida e se distanciam do aspecto religioso da história.
Figura 2 Christian Bale interpreta Moisés, em Êxodo: Deuses e Reis Fonte: www.combomultinet.com
Os católicos devem apoiar essas produções?
Existem dois fatores para se considerar sobre a repercussão de um filme. Primeiro, a relevância que ele traz ao tema. E segundo, o conteúdo, propriamente dito. No caso de Noé e Êxodo, por mais que haja o fator positivo de chamarem atenção à Bíblia e tornarem as histórias retratadas relevantes e atuais, a questão da doutrina falsa não pode ser ignorada. É preocupante pensar que, para muitos espectadores descrentes, ateus, agnósticos ou de outras religiões, os filmes podem ser o primeiro e único contato que eles terão com essas histórias. Para o espectador ingênuo, a impressão tirada do filme é a que vai permanecer para sempre; algo que seria evitado com um simples estudo do quê, de fato, está na Bíblia.
Com isso em mente, não seria sábio o católico apoiar essas produções. Não que o boicote seja a solução ideal, mas um apoio oficial seria irresponsável; seria uma propagação errônea de crenças básicas católicas.
O real intuito dos filmes bíblicos
Aí resta a dúvida. Qual é o real intuito desses filmes? Levar à descrença? Gerar debates? Causar confusão? Será que as intenções dos diretores são tão deturpadas assim?
Difícil concluir uma resposta exata.
O fato é: Noé não é um filme bíblico, é um filme de Darren Aronofsky. Êxodo não é um filme bíblico, é um filme de Ridley Scott. São criações que têm como base histórias encontradas na Bíblia, mas não são contadas a partir de uma perspectiva bíblica ou cristã, apenas histórica, divergente e especulativa. Ambos os diretores estão plenamente cientes disso. Como espectadores críticos, algo que todos devemos procurar ser, precisamos separar o assistir do assimilar. Se estivermos em busca de filmes por puro entretenimento e curiosidade, temos inúmeras opções. Mas, se o intuito for assistir a filmes inspiradores que aumentem nossa fé nas histórias bíblicas, já sabemos a quais não assistir.
Posicionamento da igreja
O jornal oficial do Vaticano, “L’Avennire”, não chegou a boicotar oficialmente o filme épico “Noé”, mas expressou seu descontentamento com o fato de o profeta ser retratado de forma bastante distante de como é descrito no livro de Gênesis. Além disso, a crítica do jornal descreve o filme como “estranho” e “desconcertante”, embora “visualmente potente”. Nenhuma outra declaração oficial foi feita em nome da igreja.