Realizar as obras de Deus é bem outra coisa do que observar os seus mandamentos
Paz e bênção. Eu sou o pão da vida.
Perguntaram ‘que devemos fazer para realizar as obras de Deus?’ Considero esta grande pergunta. Sim, realizar as obras de Deus é bem outra coisa do que observar os seus mandamentos – Jo 6, 24-35. Como Jesus faz a vontade do Pai, os seus seguidores verdadeiros devem crer e fazer também a vontade do Pai.
Obra de Deus é a criação; obra sua é a libertação do povo da escravidão e, ainda, a maravilhosa vontade de construir uma história de aliança. Realizar a obra de Deus é participar na construção, sendo capaz de criar e inventar estradas que conduzam à liberdade e a relações boas de aliança com tudo o que vive. Uma regra fundamental para interpretar a Bíblia diz: cada indicativo divino se torna um imperativo humano. Significa que tudo o que é descritivo de Deus se torna prescritivo para o homem. Uma proposição resume esta regra de ouro: ‘Sejam santos porque eu sou santo’.
O fundamento da ética bíblica é colocado no fazer o que Deus faz, no agir como age Deus, comporta-se coo Ele se tem comportado, como Jesus mostrou.
Assim, esta é a obra de Deus, crer naquele que Ele enviou. Deus Pai dá o Seu próprio Filho. É Ele o pão vivo que desce do Céu e que dá vida ao mundo. É preciso desejar e comer o pão que desce do Céu, que é o próprio Jesus.
No coração da fé está a tenaz, doce confiança que Deus é Jesus, um que sabe somente amar, curador do desamor do mundo.
‘Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti?’ A resposta de Jesus: ‘Eu sou o pão da vida’. Nutrir a vida é obra de Deus. O homem busca pão do Céu: quer saborear a vida, alegrar-se em comunhão, saciar-se de amor, embriagar-se do vinho de Deus.
Eu sou o pão da vida, o pão que alimenta a vida. O homem nasce faminto e o pão da vida sacia a fome, mas depois tem fome de novo, acordando em nós um desejo de mais vida, que clama do profundo por mais liberdade e mais criatividade e mais aliança.
Deus continua a dar o que satisfaz. Deus não pede, Deus dá. Deus não pretende, Deus oferece. Deus não exige nada, doa tudo.
Mas Deus não dá coisas, Ele não pode dar nada menor de Si mesmo. Mas dando-nos a Si mesmo, Ele nos dá tudo. Deus é na vida doador de vida. Das Suas mãos a vida flui ilimitada. E nos chama a ser como Ele, nela vida doadores de vida. A obra de Deus é corrente de amor que nos invade e faz florescer as raízes do coração.
A Eucaristia que Jesus instituiu na Última Ceia está ligada, entre outras coisas, ao costume de Jesus de sentar-se à mesa com os pobres e pecadores e especialmente com a multiplicação dos pães, aquele Jesus que anunciou a Boa Nova aos pobres e que multiplicou os pães para a multidão faminta está realmente presente quando nos reunimos em Seu nome e celebramos a Ceia em sua memória.
Liturgia e vida estão intimamente unidas. Não tem sentido participar da entrega de Jesus na Ceia e na Cruz e não dar a vida pelos irmãos e pelas irmãs no dia a dia da vida. Quem come o Pão da vida, deve fazer o que o Pão da vida fez.
Não posso comungar Jesus na Eucaristia e não comer o Seu modo de viver e o Seu modo de Se dar aos outros.
A fome no mundo é sempre um escândalo, pois mostra a falta da partilha, a falta do modo de vida de Jesus.
Jesus quer dar e ser Ele próprio o pão que dá a vida para sempre. Jesus é pão que alimenta e traz a ‘vida eterna’, Ele sacia para a vida eterna.
Abençoado Domingo. Abraço!
Dom João Inácio Müller, ofm – Bispo da Diocese de Lorena – SP