Os salmos são escritos em forma de canto e o propósito dos artistas dos salmos em suas intenções era cantar e louvar o Senhor que cura e que liberta das mãos dos potentes da terra.
Não somente nos salmos mas em outros livros da Biblia estes são presentes. Os exemplos mais evidentes estão nos salmos e não por acaso, em alguns deles somente. Lembro aqui o próprio livro dos Salmos, o Cântico dos cânticos, Lamentações. Em sua grande maioria estes louvores são caracterizados pelo louvor e pela oração ou melhor pela “a-oração” – do latim “ad oratione” = adoração. São frequentes as expressões de louvor como: “Deus é minha força”, “o louvarei com meu canto”… Assim escrevia o rei Davi, músico e compositor das coisas do alto! (Salmo 28,7).
Davi dispunha de 4.000 homens da Tribo de Levi para que servissem como músicos e cantores de Jerusalém. Destes, 288 eram cantores escolhidos para o louvor a Deus no Templo. Leia quanto narra o livro das das Cronacas, o primeiro livro no capitulo 23,4-5 e capitulo 25, 7. Sem dúvida estes cantores se exercitavam assiduamente. De fato, a música era assim tão importante na adoração a Deus, que os cantores eram dispensados de outros serviços como vimos, para concentrarem-se no canto. Leia 1 Cro, 9,33.
Nas origens do culto cristão, a música e o canto eram presentes com seus instrumentos proprios para cada um deles para serem tocados, como os Salmos de Davi. Estes foram o fundamento do repertório liturgico cristão, di fato os primeiros cristãos, foram ebreus convertidos e levavam consigo este repertório litúrgico partindo dos salmos: O canto cristao tem suas raizes na sinagoga de Israel. Eram mais conservadores e respeitosos que o próprio rito do culto dos hebreus de então. Por isso os primeiros testemunhos sobre a liturgia cristã, propõem hinos, salmos e cânticos espirituais de origem e cultura hebraica em suas raizes. Na cultura europea con as perseguições dos primeiros cristãos, muito foi perdido daquelas origens a partir do ano 64 a.c. O culto cristão recebeu uma maior liberdade após o fim das perseguições, este tempo marcou a historia do cristianismo que até hoje o canto, o louvor, a música de adoração e de louvor a Deus é determinado e se inspira ao repertório e à forma dos antigos cantos cristãos do oriente.
João Paulo II escreveu um texto curioso sobre a importancia da arte em geral, pondo-a em seu devido pedestal e demostrava sua importancia necessária para o louvor a Deus. Ele escreveu na carta aos artistas que “Para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte. De fato, deve tornar perceptível e até o mais fascinante possível o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso, tem de transpor para fórmulas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora, a arte possui uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê e ouve. E isto, sem privar a própria mensagem do seu valor transcendente e do seu halo de mistério. A Igreja precisa particularmente de quem saiba realizar tudo isto no plano literário e figurativo, trabalhando com as infinitas possibilidades das imagens e suas valências simbólicas. O próprio Cristo utilizou amplamente as imagens na sua pregação, em plena coerência, aliás, com a opção que, pela Encarnação, fizera d’Ele mesmo o ícone do Deus invisível.
A Igreja tem igualmente necessidade dos músicos. Quantas composições sacras foram elaboradas, ao longo dos séculos, por pessoas profundamente imbuídas pelo sentido do mistério! Crentes sem número alimentaram a sua fé com as melodias nascidas do coração de outros crentes, que se tornaram parte da Liturgia ou pelo menos uma ajuda muito válida para a sua decorosa realização. No cântico, a fé é sentida como uma exuberância de alegria, de amor, de segura esperança da intervenção salvífica de Deus.
A Igreja precisa de arquiteto, porque tem necessidade de espaços onde congregar o povo cristão e celebrar os mistérios da salvação. Depois das terríveis destruições da última guerra mundial e com o crescimento das cidades, uma nova geração de arquitetos se amalgamou com as exigências do culto cristão, confirmando a capacidade de inspiração que possui o tema religioso relativamente também aos critérios arquitetônicos do nosso tempo. De fato, não raro se construíram templos, que são simultaneamente lugares de oração e autênticas obras de arte”.
O Senhor te abençoe e te guarde,
Seu irmão, Padre Antonio Lima.
– Escritor, cantor católico e diretor espiritual diocesano da RCC na Diocese de Nova Iguaçú-RJ. Padre Antonio Lima é mestre em Ecumenismo e em Comunicação Social pela Pontíficia Universidade da Santa Cruz.