Não é fácil dizê-lo. Certamente significa, antes de tudo aprofundar a mensagem lida que Deus te quer comunicar.
Exige, pois, um esforço e algum cansaço, porque a leitura deve ser uma reflexão atenta e profunda. Noutros tempos, o cristão sabia de cor (tinha no cor-ação…) as Escrituras e repetia-as interiormente com extrema facilidade.
Também hoje tu deves dedicar-te à reflexão, proporcionalmente à tua cultura, à capacidade e aos meios intelectuais que possuis. É válido o princípio:
«Não a erudição mas a unção, não a ciência mas a consciência, não o papel mas a caridade»,
Ao mesmo tempo, não é útil uma escuta ocasional e indisciplinada, feita sem o rigor requerido por todos os estudos sérios e sem o uso dos instrumentos úteis à compreensão.
Se tens oportunidade, recorre aos comentários dos Padres da Igreja sobre os diferentes livros das Escrituras, muitos já traduzidos para as línguas modernas; às concordâncias, de modo a comentares a Bíblia com a Bíblia; a estudos exegéticos ou comentários espirituais.
Faz sempre uma selecção das obras a consultar, pois algumas têm a pretensão de serem sérias e espirituais, mas não contêm mais do que opiniões pessoais ou delírios que não obedecem aos textos divinos ou à tradição e, sobretudo, desconfia dos comentários que se dizem ser “reapropriações da Palavra” mas em que se “escraviza” a Palavra; também os comentários espirituais ao leccionário litúrgico festivo e ferial devem ser criteriosamente escolhidos, pois muitos são extemporâneos, escritos artificialmente com uma relação muito ténue com os textos e repletos de palavras do autor.
“A escuta não é a recepção passiva de um texto, mas antes, o esforço, da parte do cristão, em penetrar cada vez mais a fundo o sentido inesgotável da Palavra divina em relação ao próprio grau de plenitude e à tenacidade na aplicação“, dizia Orígenes.
Todos estes meios exegéticos, patrísticos, espirituais são úteis à meditatio e ao crescimento da compreensão, todavia importante na lectio divina é o esforço pessoal, não privado, ainda mais fecundo se quem o faz vive uma experiência comunitária ou de fraternidade, ou de grupo – lugares por excelência da Palavra – nos quais, não se lê apenas em conjunto, mas experimenta-se e vive-se em conjunto a Palavra. Este esforço pessoal tende a procurar a ponta espiritual do texto: não a frase que marcou mais, mas a mensagem central que orienta, de imediato, para o evento morte-resurreição de Cristo.
Paz e bem!
Seu irmão, Padre Antonio Lima.