Dar limites, dá trabalho!
Lembro de quando eu era criança em que hora e outra sempre escutava minha mãe dizendo: “Quando você for mãe vai me entender!” E para mim aquilo não passava de uma chateação. Há oito anos minha primeira filha nasceu e de repente eu passei a entender cada letra dessa frase.
Na correria de uma família muitas vezes o que menos queremos são filhos desobedecendo ou fazendo birras. Nessas horas(em meio ao cansaço) daríamos qualquer coisa por um bom comportamento. Porém quando não temos mais forças é que precisamos respirar fundo e não deixar pra depois a educação de nossas crianças.
Uma das coisas mais exigentes é ter que sustentar o “Não” diante de seres tão insistentes. Tenho duas princesas que me testam dia e noite, buscando me fazer ceder. E é isso que as crianças querem, nos testar para ver até que ponto conseguimos resistir. Se um dia cedemos um pouco, no outro eles testam mais um tanto. Até que quando percebemos não temos mais domínio da situação.
O limite dá segurança. E na verdade eles clamam por isso. Só não sabem se expressar.
Quando não desistimos (apesar do cansaço emocional), os filhos podem até se alterar, mas logo percebem que em casa tem regras em que eles mesmos podem se apoiar, e com o tempo vão aderindo naturalmente. Nesta hora o diálogo é muito importante.
Precisamos deixar claro quais regras são essas e que, principalmente na casa do amigo, quem dita essas regras são o pai e a mãe dele. Nós não seguimos necessariamente o que vive o vizinho. Cada família tem suas normas e nós pais somos os responsáveis por essa base que os forma para a vida adulta.
As crianças de hoje têm um acesso imenso à informação, e por isso precisamos conversar muito, explicar o por que do “Não”. Mostrar que o limite que colocamos é uma atitude de amor. E se mesmo explicando a criança não se conforma, o “Não” precisa continuar sendo “Não”. São João Bosco já dizia: “Sem disciplina não há santidade.”
Diversos estudiosos têm chegado à conclusão que a criança que não aprende a ter limite, cresce com uma deformação na percepção do outro. As consequências são muitas e bem graves como, por exemplo: desinteresse pelos estudos, falta de concentração, dificuldade de suportar frustrações, falta de persistência, desrespeito pelo outro, por colegas, irmãos, familiares e pelas autoridades.
A família é essencial nessa construção do caráter, sendo os adultos, referência a todo momento. Sendo assim, o pai e a mãe devem sempre sustentar o que o outro fala ou o que é determinado como conduta em casa, para que os filhos entendam que regras existem e precisam ser cumpridas. Isso os tornarão aptos para mais tarde viverem de forma equilibrada em sociedade.
Os princípios de um bom cristão e cidadão começam aí. Não tenha dúvida!
A firmeza e a coerência são essenciais nesse processo. Se somos firmes e não vivemos o que falamos não adianta também. Por isso é importante reconhecer quando falhamos e que as frustrações são coisas da vida e precisam ser superadas. Nesse processo eles aprendem que todos estamos suscetíveis a erros e que dependemos da graça de Deus. O Pai e a mãe não são anjos e muito menos perfeitos, e não devem enganar os filhos com esta falsa imagem.
Uma dica é quando perceber que você excedeu na correção ou que deu um grito desnecessário, busque viver, com seus filhos, esta ordem de Deus: “Não se ponha o sol sobre a vossa ira.”
(Ef 4,24) Esse é um lindo testemunho que você pode dar a eles.
Tenho o hábito de não dormir sem pedir perdão a eles quando falho. Explico onde erraram e o que não pode acontecer de novo. E logo após peço perdão pelo meu excesso. Momentos depois já percebo que nos aproximamos mais um do outro, com um abraço gostoso e o sentimento de amor profundo. O retorno é muito mais frutuoso, pois a criança aprende a perdoar, a pedir perdão e entende que não somos perfeitos. Estamos num árduo caminho de conversão.
O limite é extremamente necessário para a saúde mental e para a formação da pessoa, mas sem amor e exemplo se torna autoritarismo.
E por isso dá trabalho, pois é um sair de nós mesmos o tempo todo. Hora por que precisamos superar aquilo que não conseguimos ser, hora por que temos que superar o nervosismo, o estresse, o cansaço, a decepção.
Precisamos a todo momento dizer não ao comodismo e ao conformismo. Se queremos que nossos filhos sejam melhores, temos que muitas vezes agir até mesmo com uma firmeza que não faz parte de nós, mas que é necessária em determinado momento. Nossos filhos precisam disso. A nossa sociedade sofre hoje o reflexo da ausência desse valor, vindo dos pais
A Doutrina Social da Igreja nos ensina sabiamente que “a família é a alma e a norma da sociedade”. Seja firme com amor e entregue a raiva do momento para Nossa Senhora! Assim a intuição paterna e materna sempre nos levarão para o caminho certo. Que Deus nos dê a graça da fidelidade nessa missão responsabilizante de formar homens e mulheres novos para um mundo novo. O lugar de nossa família é o céu!
Elzirene Pereira
Membro da Comunidade Canção Nova, jornalista e mãe de 4 filhos lindos.