Dia do Sacerdote: um chamado de entrega e amor

A MAIS BELA PROFISSÃO DO HOMEM É REZAR E AMAR 

Hoje a Igreja celebra a vida de um homem que há 234 anos se transformou, pelo exemplo de vida, ‘modelo de ascese sacerdotal, de piedade, e sobretudo de piedade eucarística, modelo de zelo pastoral’¹ e o padroeiro dos párocos: São João Maria Vianney, o Cura D’Ars. Nascido em Lion, na França, em 1876, em uma família simples de camponeses, não teve condições de ter ensino adequado, experimentando as consequências religiosas da recém surgida Revolução Francesa. Mas a graça de Deus tinha seus caminhos e, depois de superar muitos desafios e dificuldades,  chegando a ser expulso do seminário, foi ordenado padre, dando vida ao desejo nutrido desde os 13 anos, ao receber a primeira Eucaristia. 

Foi encaminhado, então, para cuidar dos pouco mais de 230 habitantes da pequena ‘aldeia’ de Ars. Ali, promoveu admiravelmente a vida cristã, através de uma pregação eficaz, com a mortificação, a oração e a caridade. Uma verdadeira revolução religiosa na cidade marcada pelo alcoolismo, blasfêmias, festas e até o trabalho aos domingos. “Não há muito amor de Deus nessa paróquia, tereis vós de o despertar“, lhe disseram quando para lá o mandaram. E assim ele fez: incutiu o amor a Deus no coração dos que estavam distantes do sagrado, de forma muito particular pela Eucaristia e pelo sacramento da penitência (chegava a passar mais de 15 horas no confessionário).

Escreveu uma vez o santo que A mais bela profissão do homem é rezar e amar². Pela oração, o sacerdote cumpria o que prometera à criança que o ensinou o caminho para a futura paróquia: “Mostra-me o caminho para Ars e te mostrarei o caminho do céu”, episódio eternizado na estátua de São João Maria Vianney no pórtico de entrada do Seminário Interdiocesano da cidade francesa. Reconhecido como alguém de oração Vianney sempre apontava a direção correta aos corações atribulados: o Céu, o lar definitivo onde o Cordeiro nos espera, à semelhança do santo ao qual nutria forte devoção: São João Batista (não à toa João Maria Vianney acrescenta o nome Batista após ser crismado). Por isso, acorriam fiéis de todas as partes para receber os santos conselhos que dava.

Prestai atenção, meus filhinhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus. Por isso, o nosso pensamento deve estar voltado para onde está o nosso tesouro. Esta é a mais bela profissão do homem: rezar e amar. Se rezais e amais, eis aí a felicidade do homem sobre a terra. […] É uma felicidade impossível de se compreender.

Em um mundo sedento de felicidade, preso muitas vezes aos episódios fugazes de alegria momentânea, a voz do Cura de Ars continua ecoando: não é na Terra, nesta vida, seja nos prazeres ou em bens, que repousa a felicidade da alma. Está em Deus; no Céu conquistado para nós, mas que como todo tesouro tem seu preço. O mesmo sacerdote que apontava o céu, ensinava que sem ascese, sem penitência, sem sacrifício não haveria possibilidade de alcançá-lo. Homem simples, penitente, rico para dar aos outros, mas pobre para si mesmo, São João Maria Vianney era um homem de oração. Dela emanava tantas outras virtudes: a castidade brilhava no seu olhar, sua adesão à vontade dos superiores era plena, era dotado de conhecimento sobrenatural do valor das almas.

Meus filhinhos, o vosso coração é por demais pequeno, mas a oração o dilata e torna capaz de amar a Deus. A oração faz saborear antecipadamente a felicidade do céu; é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita, os sofrimentos desaparecem, como a neve que se derrete sob os raios do sol.

E foram muitos os sofrimentos vividos e vencidos pelo santo pela oração sincera: a infância de trabalho duro na fazenda dos pais; as limitações na aprendizagem do latim; a luta contra a irreligiosidade presente em seu país; as batalhas constantes contra o demônio, que o perseguia sempre, mas com mais intensidade à véspera da conversão de um grande pecador no confessionário de Ars. Mas não lhe faltava Deus; não o desamparou a proteção da Virgem Maria, senhora a quem se consagrou pelo método de São Luís Maria de Monfort. Sobrava-lhe humildade, em atribuir seus feitos miraculosos a outra santa de devoção, Santa Filomena.

E por que tudo isso? Porque no centro do coração e da alma deste gigante havia um desejo único e insaciável: amar a Deus até os últimos limites de sua vida. Em seu ato de amor escreveu: “Eu Vos amo, ó meu Deus, e amar-Vos até o último suspiro da minha vida é meu único desejo e prefiro morrer amando-Vos do que viver um só instante sem vos amar”. 

Neste dia em que celebramos o dia do padre, rezemos pelos sacerdotes que conhecemos: quer vivos ou não, pedindo para que seus corações também sejam abrasados do mesmo amor que não apenas elevou aos altares São João Maria Vianney, mas que levou tantas outras almas ao conhecimento de Deus.

¹Carta Encíclica Sacerdotii Nostri Primordia. DO SUMO PONTÍFICE PAPA JOÃO XXIII SOBRE O SACERDÓCIO NO CENTENÁRIO DA MORTE DO SANTO CURA D’ARS.

²Catéchisme sur la prière: A.Monnin, Esprit du Curé d’Ars, Paris1 899, pp.87-89.

George Facundo

Missionário Comunidade Canção Nova