OS TRÊS CORAÇÕES QUE JESUS AMA

Há momentos na vida que se faz necessário parar, mesmo que a gente não queira. Somos forçados a fazer silêncio, a descer no quarto interior do coração e permanecer sozinho sem ninguém, sem uma palavra de apoio, macerando na solidão e curtindo o sofrimento que é necessário para crescer. Nunca devemos esquecer as palavras sábias, já conhecidas, mas repetidas pelo Papa Bento XVI “não se pode fugir do sofrimento, da dor, são necessários na nossa vida”…Sabemos disto mas não nos convencemos disto. Nesta hora de deserto em que muitos tentam decepcionar a nossa esperança, se reassume que o único que nunca nos decepciona é Deus. Ele é amigo fiel, honesto, que promete e que cumpre e não esconde as dificuldades que podemos encontrar para seguir os seus passos e nos tornar semelhantes a ele.

Num destes desertos brabos que Deus me deu de presente sem procurá-lo mas que ele no seu amor me ofereceu e não teve jeito de recusá-lo vi que Deus ama e acolhe com imenso carinho três corações que devem estar presentes dentro de nós:

  1. UM CORAÇÃO DE POBRE: Deus quer que nós tenhamos de verdade um coração de pobre. Somente os pobres são livres. Eles não têm agenda, tudo está marcado no coração de Deus e sabe acolher a mensagem de esperança e de vida. Eles sabem que, ao confiar nos outros, um dia ou outro seremos abandonados e sozinhos devemos caminhar pela estrada que é nossa. Os discípulos de Emaús experimentaram toda a solidão e a decepção mas na solidão reencontraram o amigo companheiro de viagem Jesus, e nele colocaram toda a confiança e o reconheceram ao repartir o pão. Somente os que têm coração de pobre se abrem à esperança, à vida, à alegria, não como euforia, mas como consciência de que Deus é pastor amigo de todas as horas. Os ricos, os auto-suficientes não necessitam dele, têm tudo e tendo tudo se fecham sobre o próprio tudo.
  2. UM CORAÇÃO DE CRIANÇA: Deus ama corações que não se deixam contaminar pela malícia da idade adulta. Jesus amava imensamente as crianças porque nelas via sinceridade, amor e abandono pleno. Sabia que elas o amavam de verdade e corriam ao seu encontro não para ganhar alguma coisa mas pela alegria de “tocar” Jesus, estar com ele. Santa Teresinha reassumiu na sua vida a pobreza e infância espiritual numa forma magistral. “Vou me apresentar diante de Deus com as mãos vazias…” e “mesmo que vivesse 80 anos sempre seria uma criança.”
  3. UM CORAÇÃO DE PECADOR: Jesus ama os pecadores por isso veio fixar a sua tenda entre nós, veio para nos amar, para nos buscar e procurar em qualquer lugar onde nós estivermos. Como não se sentir reanimados nos desertos da vida quando vemos que Cristo nos procura como um dia procurou a ovelha perdida? Deus nos carrega nos seus braços.

Não podemos em determinados momentos da vida não dizer para Deus “obrigado Senhor, por ser pobre, criança e pecador!” Nunca Deus se afasta destes três corações. Podemos sempre encontrar um espaço dentro dele e perto dele.

Sem estes corações nós sempre seremos grandes, fortes e poderosos, mas quando entramos nos desertos será necessário nos despedir de tudo, deixar tudo e assumir que somos pobres, necessitados de tudo, crianças necessitadas de amor e pecadores necessitados de misericórdia.

Frei Patrício Sciadini, ocd