Algumas das minhas respostas chegam por intermédio das pessoas que erguem suas bandeiras e gritam, calorosamente, na Praça de São Pedro, muitas vezes, debaixo de um calor escaldante em agosto ou do frio que atinge a casa dos 2 graus no mês de dezembro aqui na Itália: “Viva o Papa!” ou “Nós te amamos, Bento XVI!”.
Mas, como escrevi anteriormente, essas manifestações respondem a apenas algumas das minhas perguntas. O que mais me intriga é que, no meio de tudo isso e de tantas pessoas que têm a graça que muitos não têm de escutar os discursos proferidos pelo Santo Padre na íntegra e sem cortes, existem alguns que têm a coragem de transmitir àqueles que não estiveram presentes uma versão reduzida daquilo que o próprio Papa disse e diz. Nessas horas, me vêm as próprias palavras de Jesus no Evangelho: “Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça” (Mateus, 13, 9).
A partir dessa orientação de Jesus, lanço também a reflexão: Como estamos ouvindo o que o Sumo Pontífice nos diz? Até que ponto as interpretações que faço dos discursos de Bento XVI estão imbuídas de minhas ideologias ou até mesmo do medo de me aprofundar em uma pessoa que sabe o que diz?
Vou começar citando uma visão distorcida que, no decorrer de cinco anos, acabou sendo criada: “ O Papa é inimigo da ciência”. Mas como aceitar tal afirmação se esse mesmo Papa é membro de várias academias científicas da Europa, como a francesa Académie des sciences morales et politiques e recebeu oito doutorados honoríficos de diferentes universidades, entre elas da Universidade de Navarra? Sem contar que ele ainda traz em seu “currículo” o domínio de 6 idiomas, fora aqueles em que não tem total fluência.
Hoje, residindo em Roma, eu não consigo aceitar que manchetes de jornais transformem o Santo Papa em alguém insensível e alheio às realidades do mundo.
Agora vamos partir para um novo rótulo que criaram para Sua Santidade: “O Papa é inimigo da mídia”, afirmação feita por vários jornais da Europa e do mundo no último dia 8 de dezembro, após o ato de veneração a Imaculada Conceição de Maria, na Piazza Spagna, na capital italiana. Se essa informação passou realmente pelo crivo da ética, como explicar que, – no pontificado de Ratzinger –, vários projetos inovadores e “midiáticos” foram aprovados, incluindo a inserção do Vaticano em ferramentas como o Facebook e o YouTube, entre outros, sem contar o trabalho de inúmeras rádios e TVs católicas espalhadas pelo mundo que têm o aval da Igreja de Roma para funcionar?
Outro detalhe importante que todos devem saber (já que eu estava presente no evento no qual o Papa falou um pouco sobre o que os “mass media” divulgam) é que Bento XVI, em um de seus discursos, criticou as pessoas que fazem mau uso da mídia e em nenhum momento citou que os recursos tecnológicos não são necessários nos tempos de hoje.
Mais uma vez, ressoam as palavras de Jesus: “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”, e completo dizendo: e nos esforcemos para ouvir bem. Espero que este pequeno artigo contribua para que todos nós estejamos atentos ao que o Papa realmente quer nos dizer e, a partir disso, nos deixemos transformar por estas palavras cheias de vida.
Mirticeli Medeiros
Comunidade Cancao Nova
Roma, Itália.