A GRAÇA QUE EU MEREÇO

 
Padre, por que eu peço tanto e parece que Jesus não me escuta?”
 

Nesses últimos dias recebi uma carta de alguém que me fazia este questionamento. Aliás, não foi a primeira vez que escutei isto. Muitos continuam ainda hoje a se perguntar: “Se Jesus disse que o que pedisse em nome dele, ele faria, por que não faz comigo?”

 

Entender essa situação não é tarefa fácil, porém podemos tentar um caminho. Olhando a Escritura Sagrada, vamos encontrar algumas possibilidades de resposta. Em João 15, Jesus deixa seu recado e a condição para que a graça aconteça na vida daquele que o ama e o segue: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”.

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Vivemos numa sociedade que tem como desafio maior a constância, a perseverança nas coisas, uma vez que tudo parece descartável, para uso e prática temporária, experimental apenas. Ora, o que dizer de um Deus que fosse experimental onde hoje eu quero e amanhã ele já não me serve mais? Eis o desafio: permanecer nele, do jeito que um ramo permanece ligado ao tronco. Até que alguém possa podá-lo, o ramo se mantém fiel e ligado à sua raiz. É a nossa situação e desafio frente à exigência de Jesus: como manter-se unido a Ele em meio a um mundo em constantes mudanças?

 

E então, como fica a questão da prece que não é atendida? Que ligação tem com o pedido de Jesus?

 

Podemos trilhar um caminho de compreensão a partir de uma simples comparação. Se colocarmos um vasilhame embaixo de uma torneira com água corrente ou de uma bica, certamente este vasilhame encherá e até transbordará, caso não se encontre nele nenhum dano que impeça de assim acontecer. Se o vasilhame, porém, não estiver em bom estado, provavelmente a água passará por ele, sem que ele retenha nenhuma gota. Do mesmo modo podemos entender quando fazemos os pedidos diante de Jesus e exigimos que ele nos atenda.

 

A água (a graça) vem e virá sempre. Mas precisa que o “depósito” (nós) que vai recebê-la esteja em perfeita condição para isto. E qual a condição para que o nosso “depósito” receba a “água”? Em 1João 3,22 nos diz que “qualquer coisa que pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos”. Aí esta a chave da questão: recebemos a graça à medida que guardamos os mandamentos. E para não deixar dúvidas em nós, São João diz com clareza que o mandamento de Deus é este: “que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que Ele nos deu”.

 

Aqui chegamos ao ponto alto da questão. Pelo que se vê, são duas as condições para receber a graça: crer em Jesus e amar o próximo.

Quer saber por que a graça não chega, então? Revise a sua vida nesses dois pontos. Pode ser que em um deles, ou até nos dois, você esteja ainda precisando melhorar. Para tanto, é necessário compreender claramente o que significa hoje crer em Jesus, fugindo do perigo de querer transformá-lo em astro, ídolo, idéia, espírito apenas ou coisa parecida. Não cremos num espírito. Cremos numa pessoa que tem nome e identidade: Jesus de Nazaré que, assumindo a condição humana, em tudo se fez igual a nós, menos no pecado.

 

Portanto, cremos em alguém real que, permanecendo vivo entre nós, caminha conosco. Por isso, somos a Igreja da presença. Afirmamos sempre e a cada momento: Ele está no meio de nós. Crer em Jesus significa, portanto, seguir os seus passos, assumir o seu projeto, fazer-se um com ele, a exemplo da videira e dos ramos que unidos caminham como parte um do outro. E a forma mais bonita de demonstrar essa união com Jesus é quando o reconhecemos vivo e presente no mundo, testemunhando essa presença com sinais e gestos de fraternidade e solidariedade entre nós.

 

Gente fraterna e solidária é gente merecedora de graças do céu porque crê em Jesus e expressa isso em gestos que fazem o mundo menos descrente.

 

Portanto, antes de se perguntar: por que Jesus não me atende?, será sempre bom perguntar: quantas vezes a graça chegou e eu deixei passar?

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Pe. Edson Rodrigues
Pároco de Alagoinha-PE 

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