De modo geral costuma-se definir a oração como um diálogo entre a criatura e o criador e, neste sentido, parece que o mais importante nesse diálogo é aquele que reza.
Todavia esse conceito não exprime a verdade, uma vez que o mais importante na oração não é o eu, a criatura, mas o tu, Deus.
Na oração o agente mais importante, assim é o próprio Deus que vem em auxilio da criatura para libertá-la da escravidão da corrupção e conduzi-la à libertação e à felicidade.
O Catecismo da Igreja Católica nos diz:”A oração é a vida do coração novo e ela deve nos animar a cada momento. Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo. Por isso os Padres espirituais, na tradição do Deuteronômio e dos profetas, insistem na oração como “recordação de Deus”, despertar freqüente da “memória do coração”: É preciso se lembrar de Deus com mais freqüência do que se respira.” (confira inciso 2697).
Embora pareça que somos nós que temos o impulso de orar, na verdade, esse impulso vem de Deus, por isso São Paulo na Epistola aos Romanos diz: “Também o Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza, porque não sabemos pedir o que nos convém. O próprio Espírito é que advoga por nós com gemidos inefáveis.”
O inesquecível Papa João Paulo II, a quem quero reverenciar pelos meus quase cinco lustros de episcopado nesta semana celebrados, afirma: “O homem atinge a plenitude da oração não quando nela exprime com intensidade o seu próprio eu, mas quando permite que nela se torne plenamente presente o próprio Deus. É o que atesta a história da oração mística no Oriente e no Ocidente: São Francisco, Santa Teresa d`Ávila, São João da Cruz, Santo Inácio de Loyola e, no Oriente, por exemplo, São Serafim de Sarov, e muitos outros”. (cf. Cruzando o Limiar da Esperança – Editora Francisco Alves, pág. 37).
Na tradição católica temos três tipos de oração: oração vocal, a meditação e a oração mental.
Na oração vocal Deus fala ao homem por sua palavra, mas o mais importante é presença do coração àquele a quem falamos na oração.
Aos discípulos encantados com a oração silenciosa do Mestre, ele lhes ensinou a oração do PAI NOSSO.
A oração vocal, por ser exterior é a mais proclamada pelas multidões, mas essa oração se torna interior, na medida em que tomamos consciência daquele a quem nos dirigimos. Isso é o mais importante.
A meditação, na verdade é uma procura, na qual o cristão busca compreender a palavra de Deus, se apropria do conteúdo lido, confronta-o com a própria vida e tira critérios para agir segundo a mentalidade de Deus.
Importante neste tipo de oração é substituir o nome referido no texto pelo próprio nome e escutar o que Deus me fala por aquela palavra.
“A oração cristã procura de preferência a meditar “os mistérios de Cristo”, como na “lectio divina”ou no Rosário. Esta forma de reflexão orante é de grande valor, mas a oração cristã deve ir mais longe: ao conhecimento de amor do Senhor Jesus, à união com Ele.”(cf. Catecismo da Igreja Católica, número 2708).
Finalmente temos a oração mental, que segundo o pensamento de Santa Teresa de Ávila “… é apenas um comércio de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com esse Deus por quem nos sabemos amados.”
Assim, o primeiro mandamento, não consiste em amar a Deus, mas em deixar-se amar por Ele, daí, ainda afirmar Santa Teresa de Ávila, na oração ela busca “aquele que meu coração ama.”
“A oração mental é também um tempo forte por excelência da prece. Na oração, o Pai nos “arma de poder por seu Espírito para que se fortifique em nós o homem interior, para que Cristo habite em nossos corações pela fé e sejamos arraigados e fundados no amor”(Ef 3, 16-17) (Catecismo da Igreja Católica, inciso 2714).
A oração é, assim, o olhar de fé fito em Jesus: “Eu olho para ele e ele olha para mim” dizia um camponês ao Santo Cura de Ars em oração diante do tabernáculo.
Vista a oração desta maneira, parece simples orar, mas não é. Nossa mente é como uma borboleta errante a esvoaçar, pois vive sempre inquieta e quando nos pomos a orar, nos lembramos de coisas e mais coisas e, desta forma, não ficamos com Deus, como aquele extasiado camponês.
A oração é uma arte e como arte necessitamos aprender a orar, subjugando nossa mente, para nos fixarmos no Deus único, que nos ama e a quem devemos reverencia e gratidão.
Por esse fato, há métodos de aprender a orar, como os EXERCICIOS EXPIRITUAIS DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA e mais recentemente, as OFICINAS DE ORAÇÃO E VIDA, instituídas por FREI IGNÁCIO LARRAÑAGA.
Segundo nos ensina FREI IGNÁCIO LARRAÑAGA, a oração é uma convergência entre a natureza e a graça. A graça é dom de Deus e como tal, Ele pode por si sem qualquer auxílio conceder a qualquer pessoa o dom da oração, sem o auxílio de qualquer método.
Mas, no comum da vida, a natureza necessita ser educada para entrar em contato com o Deus único e, por isso, os métodos de pacificar nossa mente são não só úteis, mas necessários, para podermos entrar em colóquio com nosso Deus e Pai.
Termino com o apelo do João Paulo II na Carta Encíclica”NO MILLENNIO INEUNTE”: “As nossas comunidades, amados irmãos e irmãs, devem torna-se autenticas “escolas” de oração, onde o encontro com Cristo não se exprima apenas em pedidos de ajuda, mas também em ação de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta de alma, até se chegar a um coração verdadeiramente “apaixonado.” Uma oração intensa, mas sem afastar do compromisso na história: ao abrir o coração ao amor de Deus, aquela abre-o também ao amor dos irmãos, tornando-nos capazes de construir a história segundo o desígnio de Deus.” (cf. item 33, capitulo III).
Dom Eurico dos Santos Veloso