Quando criança adorava um doce que minha avó fazia para o almoço de domingo: “amor em pedaços”. Confesso. Nunca entendi a razão de tal nome. Sempre procurei concatenar idéias como amor, pedaços, doçura, corte, dor, prazer, alegria, separação, tristeza e por aí vai. Estas palavras aportam em minha mente quando penso: amor e aos pedaços.
Bethânia tem me ensinado muito sobre o amor de todos os dias. Não aquele de novelas e filmes, mas o amor real feito de gente, por gente e para gente. Esse amor real é exigente em todos os níveis e graus de relação. Ele exige de nós. Como homens e mulheres falíveis, erramos e acertamos, definimos e projetamos, concordamos e discordamos. Numa palavra: amamos.
Não é fácil! Amar trás em seu bojo a dor. Amar dói. Se for amor de verdade vai doer. Pe. Léo dizia que amar é preparar o coração para decepcionar-se. Pois é, quem ama decepciona-se. Elevamos nossas expectativas. Esperamos demais do outro. Arrogamos-nos o direito de exigir que o outro corresponda ao que acreditamos ser o melhor. Engraçado! Já ouvi muitos pais dizerem: “como não pode ser verdade para ele, se é verdade para mim”. Ingênua tentação. Às vezes, me apanho no mesmo engodo.
É exatamente por isso, que só Deus realmente ama. Todos os demais amores são derivações. Só Deus realmente ama, pois, respeita a liberdade de seu amado. Mesmo quando essa liberdade caminha para o erro ou causa dor. Imagino Deus, sentado ao nosso lado, chorando conosco nosso erro, chorando nosso pecado. Mesmo sabendo que tudo seria mais fácil se o amado tivesse ouvido e obedecido. Obedecer, do latim “ob+audire”, ouvir certo, ou seja, ouvir com retidão. Deus sofre e como sofre. Amar trás consigo sofrer, e, como trás.
Em Bethânia, me solidarizo com mães e pais que sofrem com seus filhos que tomaram tantos caminhos. Solidarizo-me com mães e pais que não tem respostas prontas, mas sabem distinguir perguntas erradas. Perguntas erradas trarão respostas erradas. Solidarizo-me com mães e pais de Bethânia, pois, sei bem de suas dores.
Peço ao Senhor que nos cure de todas as projeções frente a nossos filhos e que muito nos impedem de amar como Deus ama. Muitas e muitas vezes amar nos colocará na rota do pai do filho pródigo de Lucas 15. Aquele pai que olha da janela a espera que o filho volte. Quando voltar, que não falte abraço, beijo, anel no dedo e muita festa. Enfim, que não falte amor.
Por hora, ofereço a vocês uma boa fatia de “amor aos pedaços”, mesmo que por enquanto, fique aquele gosto amargo na boca.
Fique na paz de Deus!
Pe. Vicente,scj