O DOMINGO DE RAMOS: “HOSANA!” E “CRUCIFICA-O!” COMO ENTENDER?
O Domingo de Ramos é a porta de entrada da Semana Maior, Santa. Durante a Quaresma vamo-nos preparando, a cada dia, para chegar ao cume desta jornada, que é acompanhar Jesus no seu caminho de redenção. Muitas vezes, na leitura dos Evangelhos, lemos que o Senhor se dirige a Jerusalém, e aos seus discípulos ele não esconde qual é o ponto final: a morte violenta, humilhante.
De que paradoxo estou falando quando me refiro ao Domingo de Ramos? Eu sempre ficava incomodada com as duas leituras do Evangelho do dia, uma cheia de hosanas, e a outra com a longa descrição da Paixão do Senhor. Onde tinham ficado as homenagens, os gritos de hosana, os ramos, os mantos estendidos no chão dando boas vindas ao Messias prometido? E por quê, poucos dias depois, tudo parece ter sido esquecido, quando o povo grita “fora! crucifica-o!”?
Os judeus já conheciam, desde a sua consciência de ser um povo, como era estar sob o jugo de outra nação. Quantas vezes o povo gemeu debaixo da vara do opressor, muitas vezes viveu o exílio, a ausência das celebrações rituais, a dispersão. Havia no coração de cada um, sem dúvida, uma ansiedade quanto a identificar Aquele que se levantaria com mão poderosa e que, a exemplo dos heróis antigos, quebraria a corrente dos opressores e devolveria a liberdade e a grandeza de que eles se julgavam merecedores, por ser o povo eleito por Deus.
Quando Jesus entra em Jerusalém, ele não vem com pompa e poder, mas montado num jumentinho. É o povo que o recebe com festa, louvores, com cânticos messiânicos, porque o reconhecia como o Filho de Davi prometido, e ele já havia demonstrado que não era um homem comum pela sabedoria, pelo ensino e pelos milagres. A recepção calorosa a Jesus chega a incomodar os fariseus, mas o próprio Senhor as defende, ao dizer: “se estes se calarem, as pedras falarão”.
Como entender, então, esta mudança de comportamento lá diante de Pilatos, quando o povo prefere César (que eles odiavam) Àquele que lhes traria um novo reino? Como entender que prefere Barrabás, notório criminoso, Àquele que só fez o bem por onde passou, dando de comer aos famintos, ressuscitando os mortos, curando os enfermos, libertando os oprimidos pelo maligno?
Uma ideia me veio à mente quando meditava sobre isso: essa atitude do povo, que parece volúvel demais, não reflete as nossas próprias atitudes? Quantas e quantas vezes fazemos movimentos sem convicção, apenas porque vemos os outros fazerem? Ou por que nos deixamos ser convencidos por alguém cujo interesse desconhecemos? Somos uma espécie de “Maria-vai-com-as-outras”. Já que todos foram para as ruas gritar “hosana” e agitar os ramos, eu também vou. Já que todos gritam “fora”, “crucifica-o”, eu também grito, porque se todos estão gritando isso, deve ser o certo a fazer.
É certo que nós, na nossa humanidade, vivemos picos de alegria e de tristeza, de euforia e de desalento, de crença e de descrença, e por aí vai. Jesus, que vinha preparando os discípulos para a Sua Paixão, vê-se abandonado na agonia do horto, na traição do amigo, no martírio da flagelação, na condenação injusta e, finalmente, na hora máxima da morte. O mesmo Pedro que confessara Jesus como o Filho do Deus Vivo, logo iria negar que O conhecia; todos aqueles mais próximos estavam perdidos e assustados, muitos até decepcionados.
Qual o remédio para nós? O ponto de partida, fundamental, é buscar fazer a experiência do amor de Nosso Senhor Jesus, vivo e ressuscitado. E não é aquela experiência que acontece uma vez e que fica no passado, mas uma experiência que se atualiza diariamente.
A partir disto, é imprescindível trilhar um caminho de santidade. Caminho é movimento, é decisão, é sair da nossa zona de conforto. É também um caminho de decisão, de tomada de posição. Ainda que estejamos sujeitos aos altos e baixos e sujeitos às intempéries da vida, atingidos pelas dores e pelos fracassos, precisamos nos decidir qual é a nossa meta. Não é ir na onda, aderir às novidades do momento, saborear as benesses da vida, e deixar cair a bandeira quando a dificuldade chega. Aquele povo esperava que Jesus fosse escorraçar os romanos, derrubar os seus deuses pagãos, esmigalhar as suas torres de guarda. Mas a frustração de vê-lo condenado, coroado de espinhos e flagelado permitiu que, insuflado pelos seus líderes, o mesmo povo do “hosana” gritasse “fora”! Não entenderam que o que Jesus veio esmagar, escorraçar e esmigalhar foi o pecado e suas consequências na nossa vida. O Seu Reino não é deste mundo, Ele mesmo o disse. Se esperamos viver na opulência, no conforto, nos prazeres, não estaremos fazendo a escolha pelo Reino de Jesus. Precisamos ser espertos: se o próprio Mestre já nos ensinou que é preciso ajuntar tesouros no céu, por que a gente está gastando energia no apego daquilo que passa? Por que a gente está indo na onda da massa anestesiada, ao invés de procurar responder ao que Deus quer de cada um de nós?
Que eu e você, nesta Quaresma, tiremos proveito das oportunidades que o Senhor nos dá. Que aproveitemos este tempo propício para decidir sobre as nossas escolhas. Que persigamos a nossa meta, que é o céu, não só para nós, mas também para aqueles que Deus nos confiou. Que a Virgem Santíssima, silenciosa e ao mesmo tempo majestosa aos pés da cruz do Filho amado, nos conduza e nos treine nesta jornada.
Nossa Senhora das Dores, rogai por nós!
Maria Helena
Comunidade Canção Nova