Jesus, manda teu Espírito,,
para transformar-nos em irmãos!
Se tivese que modificar uma frase desta canção que Deus me inspirou, certamente modificaria o refrão. Sempre que escuto o povo cantar: “Jesus, manda teu Espírito, para transformar meu coração!” acho que isso é insuficiente. A ação reparadora do Santo Espírito não modifica apenas o indivíduo. Ele não renova apenas o EU. Mais que isso, o Espírito nos Cristifica, ou seja, coloca um “J” antes e um “S” no meio e outro no final do EU… agora somos JESUS. Como diria o apóstolo Paulo em sua bela carta aos Gálatas no capítulo dois: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Ser inserido como membro do Corpo de Cristo significa fazer parte de uma “corporação”. Não somos mais isolados em nosso mundo. Agora fazemos parte da Igreja, que é o corpo de Cristo. Por isso devemos nos exercitar em conjugar o verbo da vida nas pessoas do plural: nós, vós, eles!
Ser cristão é acreditar que a fraternidade é possível e que começou em Jesus de Nazaré. É superar o individualismo tão exaltado na modernidade. Hoje todos querem conjugar o verbo no singular: eu, tu, ele. Muitos já reduziram esta conjugação a uma estranha composição: eu, eu, eu! Vivemos a era do narcisismo. Ouvi uma mulher dizer que é a favor do aborto porque ela é dona do próprio corpo. Outro adolescente me disse que não tem que prestar contas aos seus pais porque é dono do seu próprio nariz. Um jovem matou sua namorada adolescente porque ela lhe disse “não”. E ele reconheceu: matei porque ela não quis “me” ouvir.
Muitas de nossas canções de louvor tem EU demais e DEUS de menos… tem EU demais e JESUS de menos. É certo que a experiência espiritual é um fato profundamente pessoal, porém, ou ela nos insere na caminhada do povo de Deus, ou pode ser pura ficção de auto-ajuda, esoterismo barato, egoísmo espiritual. Sim. Os pecados capitais podem ser espirituais também quando não vivemos como irmãos.
A “avareza espiritual” fez aquele sacerdote da história de Jesus pasar em frente ao homem caído no chão e ir adiante, pois tinha compromisso no templo. Podemos viver tão apegados a nossas verdades pessoais que chegamos a colocar aviões em prédios ou bombas pelo corpo para defender nossos ideais. É assim que nascem os fundamentalismos.
Vejo por aí muita “gula espiritual”. Há pessoas que rezam demais e nem sempre com uma motivação honesta. No fundo são rezadores compulsivos. Não se assuste em me ouvir dizer isso. Mas tudo o que é demais é veneno… até rezar. Conheço pessoas que gastam todas as finanças da família em livros, CDs, tercinhos, cartões, retiros, etc. Justificam todos os seus gastos dizendo que é coisa santa, que é de Deus, mas no fundo é para satisfazer uma gula egoísta.
Outro pecado capital é a “inveja espiritual”. É quando alguém tem um desejo pela espiritualidade do outro; queria ser tão santo quanto aquele santo; sente que não é tudo o que poderia ser e sente inveja daquelas pessoas da TV que passam o dia em adoração. Ela nunca consegue ver os milagres que Deus lhe dá; preferia os milagre que o irmão recebeu. No fundo a inveja é um certificado de incompetência. Invejar faz muito mal para quem inveja e para quem é invejado. Não é difícil que a inveja espiritual me leve a inventar mentiras a respeito das pessoas que vivem a santidade para diminuir seus méritos e diminuir minha frustração.
Um pecado que vemos muito em nosso mundo de hoje é a “ira espiritual”. É incrível que alguém consiga matar em nome de Deus. Grandes guerras da humanidade foram provocadas por ódio racial ou religioso. Há nações inteiras que nutrem rancor por causa de diferenças religiosas. Isso acontece também dentro de nossas famílias quando um é católico e o outro é evangélico. A certeza de que minha fé é a verdadeira não pode me levar a odiar quem reza ou crê de um modo diferente.
Existe também a “luxúria espiritual”. É uma verdadeira constradição, pois luxúria se refere aos prazeres da carne, como poderia se referir também aos prazeres do “espírito”? Pois é! Acontece que algumas pessoas buscam na religião somente uma fonte de “gozo espiritual”. Para estes Jesus não é o mestre da cruz. Eles são apenas fãs, admiradores. Gostam apenas de ir na missa do padre mais bonito, que prega melhor, que tem programa na televisão, que canta e encanta. Mas aquela missa de dia de semana do padre do nosso bairro que já está um pouco idoso… bem, esta não lhe dá muito prazer. São beija-flores de missa. Nunca ficam em uma paróquia só. Vão aonde te um pregador “forte”. Só querem saber da fé se for “espetacular”. Por isso sua religião é marcada pela luxúria individualista e egoísta.
Temos ainda a “preguiça espiritual”. Como vimos nos pecados descritos acima, o grande problema é que a motivação espiritual é o egoísmo individualista. Quando a religião não me leva para irmão, não é verdadeira religião, pois esta palavra sgnifica re-ligação. Quando ela me des-liga da realidade do compromisso com as pessoas é uma forma sutil de alienação. Se você convidar esta pessoas para uma ação religiosa transformadora ela vai dizer que está indisposta, que não em tempo, que poderia ser em outro dia, ou seja, vai ter preguiça.
O último pecado capital do espírito é a “soberba”. Esta falta de humildade está na raiz de todos os outros pecados, pois conjuga o verbo amar da seguinte forma: amar a mim sobre a mim mesmo e aos outros somente depois de mim! No fundo o soberbo acha que ele é Deus. Ouvi um pastor das madrugadas “determinando” que Deus deveria ser fiel. É um anto soberbo determinar o que Deus deve ou não deve fazer, não é?
Bem diferente de tudo isso é o fruto do Espírito em nossas vidas. Ele sempre nos coloca no coração da Santíssima Trindade, nos insere no seio da comunidade de amor. O Espírito nos cristifica para que possamos clamar: Abba, Pai! O Apóstolo Paulo diz isso com todas as letras no capítulo 8 de sua Carta aos Romanos: “Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8,15-17).
No lugar da “avareza” o Espírito coloca em nós o espírito de partilha e a opção preferencial pelos pobres. Você começa a verificar sua fé por meio das obras. No lugar da gula, o Espírito gera em nós a liberdade espiritual. Não ficamos dependentes de um sacerdote ou de um pastor. Temos autonomia espiritual. Não dependemos dos paratos externos ou dos discursos prontos. Somos livres de verdade. No lugar da inveja, o Espírito nos dá a auto-estima. Podemos dizer que somos felizes por sermos católicos. O Espírito que fraterniza, afasta para longe de nós a ira. Não existe em nossa religião lugar para o ódio. No lugar recebemos o dom da ternura. É claro que esta ternura não nos tira o vigor. Também Jesus era manso, sem deixar de ser forte. A luxúria é substituída leveza espiritual. Não vivemos de prazeres. Vivemos da Água do Espírito que nos torna uma família de irmãos. É claro que isso nos dará muita satisfação. Fomos feitos para ser felizes, mas sem sermos escravos de nenhum tipo de apetite humano. A preguiça é deixada de lado e em seu lugar vem a disposição de lutar pelas coisas do Reino de Deus. Finalmente a soberba é vencida pela humildade que aprendemos do Sagrado Coração de Jesus. Por isso, todo devoto pode dizer e repetir sem medo de errar: Jesus, manso e humilde de coração, fazei o NOSSO coração semelhante ao vosso. Ele foi o irmão maior que inaugurou a fraternidade universal na terra… somos seus discípulos, seus missionários.
Não descansaremos enquanto a terra não for um reino de irmãos!
Pe. Joãozinho, scj