Lanternas de Papel

Em tempos antigos, no Japão, usavam-se lanternas de papel e de bambu com uma vela dentro. Também não havia iluminação pelas ruas. Uma noite, um cego foi visitar seu amigo. Ao despedir-se dele, o amigo ofereceu-lhe uma lanterna para poder voltar em segurança à sua casa.- Eu não preciso de lanterna – disse o cego – escuridão ou luz, para mim é tudo a mesma coisa .

– Eu sei que o senhor não precisa de lanterna para encontrar o caminho da sua casa – retrucou o outro – porém, se não tiver nenhuma luz, alguém pode atropelá-lo. Portanto deve levar, sim, a lanterna.

O cego foi embora com a lanterna. Após alguns passos, chocou-se violentamente com outra pessoa.

– Olhe para onde anda – reclamou o cego – não viu a lanterna?

– A sua vela está apagada – respondeu o desconhecido e foi embora.

O cego do evangelho deste domingo tem um nome, chama-se Bartimeu. Significa que ficou conhecido pela coragem de gritar, pela fé e a cura que recebeu de Jesus. Talvez fez algo mais, seguindo o Mestre no caminho. Também não pode ser por acaso que o evangelista Marcos tenha colocado os anúncios da morte e da ressurreição do Senhor entre a cura de dois cegos, o de Betsaida e o de Jericó. Eles são curados e começam a enxergar claramente.

Os apóstolos, ao contrário, continuavam cegos porque não entendiam nada. Não aceitavam que Jesus pudesse ser perseguido e morto; e não compreendiam o que queria dizer ressuscitar dos mortos. Cego é justamente alguém que não vê. Também o que não entende nada, ou quase, é como se fosse cego, falta-lhe a luz da compreensão. Contudo Jesus está disposto a ajudar. Pode abrir os olhos, a cabeça e o coração a quem, da beira dos caminhos da vida, pede-lhe socorro, a quem grita por luz.

É evidente também que no escuro, na falta de luz, somos todos cegos, só avançamos tateando. Por isso cegueira e luz andam juntas nos evangelhos. Uma situação chama a outra. Para poder seguir Jesus de verdade no caminho da cruz, do sofrimento e da morte, precisa ter a luz da fé, sem ela tudo aquilo continua absurdo, incompreensível, uma noite total.

Diante disso precisamos nos perguntar: como está a luz da nossa fé? Seria bom conferir se a vela acesa que recebemos no nosso Batismo, talvez recém-nascidos, ainda está nos servindo na idade adulta. Pela vida que tantos batizados conduzem é o caso de nos perguntarmos onde foi parar a luz fé. Não aparece mais nas pequenas decisões e menos ainda nas grandes. Os faróis da vida são outros. O clarão do dinheiro, do prestigio, do comodismo e do sucesso nos cegou. Essas são as únicas coisas que enxergamos. O resto é pura escuridão.

Raramente temos tempo para rezar, agradecer a Deus, ir à Igreja, visitar os pobres e os sofredores. O caminho da vida também vai no sentido contrário: deveria servir para chegar mais perto de Deus e dos irmãos, no entanto pode ser que esteja nos conduzindo cada vez mais longe deles.

Estamos ficando cegos e com a vela da fé, que recebemos em dom, apagada, como o homem da historinha. Pensamos estar seguros, conhecer bem o caminho. Só acordamos se alguém, ou as circunstâncias da vida, nos atropelam. E não adianta reclamar, estamos na escuridão completa, deveríamos carregar uma luz, porém a deixamos apagar.

Que bom se muitos tivessem mais coragem e nos gritassem: “Meu irmão, minha irmã a tua vela está apagada!” Talvez os nossos olhos se abririam, então começaríamos a enxergar a nossa pobre condição humana, as nossas fraquezas e pecados, começaríamos a gritar como o cego Bartimeu para que Jesus tivesse piedade de nós. Infelizmente estamos tão cheios de orgulho que nos custa admitir que deixamos apagar a fé em nós.

Um detalhe, o homem da história, que deu de encontro ao cego na escuridão, pelo jeito também andava sem lanterna ou com a vela apagada. Nenhum dos dois tinha luz. Se ao menos um deles tivesse um pouquinho de luz, não só os dois não teriam se chocado, como o que tinha “o fogo” teria podido transmiti-lo ao outro. Quem perde a fé, arrasta sempre outros para a escuridão.

Vamos sair dessa. Coragem! Levantemos! Jesus continua a nos chamar.

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá