Liturgia do 4° Domingo do Tempo Comum

Jr 1,4-5.17-19 – Sl 70 – 1Cor 12,31-13,13 – Lc 4,21-30

Introdução:

Continuamos neste domingo nossa reflexão a partir das contribuições do Evangelista Lucas. Você se recorda que no texto de domingo passado, Jesus estava na sinagoga, havia pegado o livro nas mãos e começou a pronunciar com destreza os ensinamentos contidos no livro.

Nós estamos exatamente no capítulo 4° (quarto). E para ligar o texto de domingo passado com o este domingo, o evangelho repete a mesma expressão: “E começou a dizer-lhes: hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (v.21). A frase é intensa, é colocada na positiva, no entanto que é enfática, e o profeta pronuncia com destreza.

O que eu gostaria de refletir é a reação dos ouvintes.

Se observarmos o texto, antes da fala de Jesus apresentando o “cumprimento, a realização da Palavra no hoje da história” (que foi domingo passado) e após esta fala existe quase que a mesma reação, a mesma atitude por parte dos expectadores: admiração, tinham os olhos fixos n`Ele, ficavam cheios de encanto pelo mestre, orgulhosos.

Esquema:

Expectativa: o que ele vai falar?

Ação

Reação/sentimento de:

Todos tinham os olhos fixos nEle”. (v. 20)

E começou a dizer-lhes hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (v.21)

Todos davam testemunho e ficavam admirados com as palavras cheias de encanto” (v.22)

Desenvolvimento

Bom, quando falamos alguma coisa para alguém, ou em público, em sala de aula (relação aluno-professor), no trabalho (relação chefe-empregado), a fala, ou qualquer fala, qualquer palavra pronunciada gera conseqüências, a fala possui uma ressonância, repercussão, ela soa, ressoa, ecoa seja a favor ou contra, sendo assim ouvimos: “para toda ação existe uma reação”. Para toda fala existe uma adesão ou aversão, uma simpatia ou apatia.

Só que o que não dá para entender são as duas atitudes dos expectadores para com Jesus.

Dá impressão de que uma hora agrada e/ou outra hora eles desaprovam.

As palavras atraentes de Jesus não revelam uma adesão, um compromisso, ao ponto de dizer “to contigo e não abro”. Pelo contrário a tradução melhor caberia dizer que eles “declaravam-se contra, estranhavam suas palavras”.

Quer dizer, houve uma aprovação imediata seguido de um descontentamento, ao ponto até mesmo de se opor ao histórico de Jesus, aos antecedentes do jovem Jesus. Eles ficaram incrédulos. Mas eu ficava a pensar: “porque tanta desaprovação?”. A assembléia desaprovava a fala de Jesus ou sua pessoa? A rejeição era pela pessoa de Jesus ou pelas palavras de Jesus. Claro que pessoa e fala se completam.

Num primeiro momento dá impressão de que o descontentamento é pela pessoa de Jesus, eles então colocavam em “chek” seu histórico, sua filiação de Jesus (“ele não é o filho de José?” v.22b) e depois a expressão “médico cura a ti mesmo” v.23, apresentando que Jesus não seria capaz de ser Messias, porque era pobre, sem projeção social, incapaz de libertar os próprios familiares da opressão e da miséria. Tipo assim: viraram para Jesus e disseram: “Quem é você? Você não é ninguém”

E além do mais eles pedem sinais, provas, e Jesus responde trazem exemplos de outros profetas como Elias, Eliseu, que também não foram bem recebidos em sua terra.

Penso também que os expectadores desaprovaram também o programa de vida de Jesus explicitado no domingo passado onde dizia “O Espírito do Senhor está sobre mim porque me ungiu e consagrou para levar a boa nova aos pobres, a proclamar liberdade aos cativos, a visão aos cegos, libertar os oprimidos, a proclamar a graça”(Lc 4,18s)

Ele é rejeitado por apresentar a novidade e toda renovação assusta.

Penso que a temática este final de semana encontra-se na pergunta a nós: Quem é Jesus? Ele é bem recebido em nossa terra chamada coração? Suas palavras admiram? Ficamos entusiasmados com sua pessoa e seu programa de vida?

Os expectadores de Jesus acreditavam conhecer, a quem no fundo, desconheciam profundamente.

Hoje Ele é como mais um, sem ser qualquer um. E sem SER qualquer UM, quer SER ENTRE NÓS como um a mais, que não somente é o Caminho, mas também o caminhante conosco.

Conclusão

Hoje é um dia para desejar conhecer o Senhor por dentro, a partir do coração que ora e que ama, a partir do testemunho que narra, com atos simples e cotidianos, o amor que o invade e o torna pleno.

Sendo assim encontramos neste final de semana também a 1° leitura extraída do livro de Jeremias e a 2° leitura da carta aos Coríntios (12 e 13 hino ao Amor). Fidelidade em um texto e amor no outro. Dois elementos que se completam. “Só sou fiel se amo de verdade, e a prova do meu amor é a fidelidade” . A fidelidade e o amor são as bases da vocação profética, que aparecem em todas as vocações na Bíblica, são as bases da vocação e da missão de Jesus, que hoje se apresenta como profeta.

Somente assim, por amor e sendo fiel a Ele poderemos dizer que Jesus não é um estranho profeta na terra da nossa vida, mas um Deus vizinho, que entra em nossa vida, abre e escancara as portas. Com Ele vivemos, nos movemos e somos. E descobrimos que esse Bom Deus, o melhor vizinho, sabe rir e sabe chorar, porque se importa com a nossa vida, com o nosso destino e com a nossa paz.

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