O namoro, como toda relação humana, é encontro. Encontro de dois universos, duas histórias, duas maneiras diferentes de compreender a vida. Nesse encontro cada um carrega o que lhe é próprio: suas circunstâncias, determinismos, a educação recebida por parte dos pais e familiares, enfim, sua identidade. Quando tais diferenças começam a aparecer acontecem os primeiros “choques” relacionais, pois, descobrir um outro que não sou eu, que pensa diferente e que não age do jeito que eu acho que é certo, por hora, causa desconcerto, desinstalando assim meu universo.
Existem realidades na identidade do outro que são sagradas e nos agridem pelo simples fato de existirem. São costumes, formas de pensar, percepções, que, muitas vezes, se chocam com nossos conceitos e inauguram no coração um intenso processo de ira.
Em tais momentos faz-se necessário uma aguçada sensibilidade para acolher a verdade do outro naquilo que o compõe, com respeito e compreensão: Entendendo que, com ele, é diferente, pois sua história foi outra e que, mesmo assim, ele é muito mais do que nossos preconceitos o pintaram. Por isso, precisamos estar abertos para descobrir sua essência para além de nossos julgamentos.
A base para que todo namoro – e relação – seja sadio é o respeito pela história e identidade do outro. Respeito este que se traduz em uma sincera “acolhida” de tal identidade e pela disposição para adentrar naquilo que a constitui.
As cenas acontecidas em nossa história, por mais duras que tenham sido, não têm o poder de nos determinar eternamente no que seremos, pois, o ser humano é sempre um “ser de possibilidades e de superação”.
Para construir um belo e sólido namoro é preciso cultivar e consciência de que a acolhida – com o sagrado respeito – das raízes que emolduram o outro e a disposição para construir com ele uma nova história, a partir do real, são realidades essenciais.
Também acontece que, muitas vezes, o que atrapalha profundamente um relacionamento não são tanto os defeitos que vemos no outro, mas o receio despertado em nós diante da diferença que o caracteriza. Pois tal percepção pode trazer à tona o medo inconsciente de nos perdermos de nossa identidade em virtude de uma outra, com outros valores e significações, a qual aos poucos começa a invadir nosso mundo e a bagunçar nossas estruturas.
Só quem sabe perder pode verdadeiramente ganhar (cf. Mc 8,35); por isso, para crescermos em nossos relacionamentos será necessário nos despojarmos do receio de nos perder e de ser contrariados, para nos lançarmos no amor que se expressa na doação. E doar-se não significa afastar-se do que se é para agradar alguém, isso se chama alienação. A doação se caracteriza quando abrimos mão – com respeito à nossa identidade, é claro – do “nosso jeito”, do que “nós achamos certo”, das “nossas razões”, para assim alargar nossa compreensão e nos permitir apreender com um outro jeito de perceber as realidades. A diferença do outro existe para nos acrescentar algo e não para nos destruir.
A (o) namorada (o) é alguém que está ao nosso lado para nos ajudar a crescer e a compreender o que ainda não somos capazes de enxergar; enfim, para nos completar em nossas ausências. Contudo, a construção do namoro é um processo de lapidação que requer paciência e perseverança. Por mais que ambos pareçam “pedras imóveis e informes” existe – no solo sagrado desses corações – lindos e preciosos diamantes, que cada qual tem a missão de descobrir.
A lapidação é um processo que causa dor, pois nele são arrancados os excessos que não pertencem à essência do diamante. O tempo se encarregará de revelar o que nos é essencial e o que, de fato, não nos pertencia, mas nos foi imposto devido ao solo que nos abrigava.
No namoro ninguém está pronto, ambos têm a missão de se construírem reciprocamente nessa belíssima lapidação, que dá luz ao genuíno amor e que investe a existência de sentido e satisfação. Namoro é uma contínua construção, pois esse relacionamento não se torna maduro da noite para o dia. Nele é preciso investir, construindo no hoje o diamante que se evidenciará amanhã…
“Que a dor ocasionada pela perda de nossos pedaços – será que nossos mesmos?… – não nos impeça de contemplar a beleza do diamante que está nascendo”.
Deus abençoe o seu namoro!
Adriano Zandoná
Seminarista e missionário da Comunidade Canção Nova.