Quarta-feira de Cinzas

Quarta-feira de cinzas: dia de reflexão

“todo ser humano é como a relva e toda a sua glória, como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor” 1 Pedro 1, 24

A brevidade da vida humana pode ser uma realidade um tanto quanto amarga de se falar. Mas, ao mesmo tempo, extremamente necessária de ser refletida: o ser humano não é onipotente. Como um bom e eficaz remédio, que ao paladar não tem o melhor dos sabores, ser consciente da fugacidade da própria existência pode se tornar um antídoto contra vários inimigos da alma. “Memento mori”, como se saudavam monges católicos, como exercício diário de aceitação da morte.
Essa consciência da brevidade da vida é um dos mecanismos de conversão que o dia de hoje nos evoca. A quarta-feira de cinzas, mais que um dia em que vamos aos templos receber cinzas sobre nossas frontes, deve ser um dia de reflexão: como estamos lidando com a vida que recebemos de Deus? Como estamos aproveitando o tempo que nos é dado? Nossa vida cristã é apenas revestida de atos exteriores ou é reflexo de uma vida interior?
Aliás, revisão de vida é termo chave na Quaresma, tempo litúrgico forte que começamos a viver a partir de hoje. Rever a própria vida é apenas o primeiro passo. Mas o que se faz a partir dele é tão importante quanto. Ser sincero consigo mesmo e com Deus no reconhecimento daquilo que dentro de si e nos seus atos precisa ser configurado ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso mudança de vida, de comportamento. Usando o termo grego μετανοία: metanóia, mudança essencial de pensamento ou de caráter, uma autêntica transformação espiritual.
Na Idade Média, era prática comum o início da penitência pública no primeiro dia de Quaresma. Depois de confessados, os penitentes recebiam cinzas e eram obrigados a manter-se longe, como Adão e Eva separados do paraíso após o pecado, até que se reconciliassem com a Igreja na Quinta-feira Santa. A partir do século XI, o gesto da imposição das cinzas, parte de um rito menos rigoroso, foi estendido a todos os cristãos no caminho para a Páscoa.
E é nessa dupla perspectiva de caminho que precisamos viver autenticamente a Quarta-feira de Cinzas e a Quaresma – de certa forma, toda nossa vida: em primeiro lugar, cronologicamente, como caminho para a Páscoa litúrgica que celebramos a cada ano após a semana santa; mas, de forma ainda mais profunda e exigente, nosso caminho rumo ao encontro definitivo com o Senhor, quando o véu do tempo se desfazer, secar nossa relva de glória, para que resplandeça eternamente a glória de Deus.

George Facundo

Missionário Comunidade Canção Nova