No início do Advento deste novo ano litúrgico o papa Bento XVI cunhou a seguinte expressão para marcar este tempo: “A Espera de Deus dá sentido ao presente”. Para esperar é preciso valorizar a realidade circundante, sendo assim queremos verificar a luz que se aproxima.
Este tempo do natal é muito bonito, acredito que é o tempo da “Luz” e o natal em si é a “Festa da Luz”. A luz em si clareia, traz vida, ilumina, irradia nossos ambientes. Olhando para a luz produzida pela corrente elétrica, como energia, gostaria de associar a luz com um elemento da natureza que é a água.
O princípio da energia elétrica é água, a água com sua força, faz com que a corrente elétrica chegue a nossas casas e gere energia. Se nos observarmos a água em si possui uma grande força, a água traz paz, purifica, sacia a sede, a água é tão forte que é capaz de produzir energia. É através da água um elemento natural faz com que visualizemos a luz.
Sendo assim a água nos vemos, a luz nos experimentamos, o que não é empírico e palpável é a força que esta neste ínterim, neste meio, entre água e luz.
Água “Força” energia Luz
Trazendo esta analogia para a espiritualidade do natal, o convite deste tempo é bebermos da fonte que é Deus, que sacia nossa sede, que traz vida, que purifica nossa existência e dá força para exteriorizar a experiência que temos aos outros. Então este tempo faz com que cuidemos da interioridade para exteriorizar Deus. Caso contrário, os presentes, os cartões, as cores deste tempo tornam-se apenas um evento social. Cuide da interioridade para que o exterior seja verdadeiro.
Sendo assim este tempo é marcado com alegria e sobriedade, em vista de uma vivência autêntica do seguimento a Cristo.
Digo com alegria e sobriedade porque o tempo do Natal é a possibilidade de rever nossa fé com um espírito festivo, neste tempo são luzes, são cores, são presentes, são cartões, são votos de felicidade, são abraços, toda alegria não pode ser externada de uma só vez, acontece aos poucos, mas antes desta exterioridade vir à tona, é bom cuidar do interior, por isso a Igreja sabiamente nos ajuda a preparar o nosso coração sendo assim com sobriedade, de forma simples e moderada vamos aproximando-nos da manjedoura.
É um arrumar a casa, o nosso coração se prepara, com cuidado e com zelo, carinho e dedicação aos poucos a Luz-Menino vai criando morada.
Sendo assim de maneira bastante existencial numa linha antropológica, é próprio deste tempo cuidar da existência, cuidar de nós, gostarmos da gente, rever nossa fé. Passar por processos avaliativos e conferir sentido a existência é próprio de quem chega ao final do ano.
Existe um autor que diz “não basta existir, é preciso conferir sentido a existência”. Existem pessoas que passam pela vida, não constrói vida. Para construir vida é bom conhecê-la. O convite desta reflexão fica a cargo então do conhecimento.
“Quanto mais eu conheço algo mais eu confio”.
O que significa “conhecer”? Indo até o nosso dicionário, verificamos que “Conhecimento” seria uma idéia, noção. É um ato ou efeito de abstrair alguma coisa, passa pelo saber, por uma instrução. Poderíamos conceituar que conhecimento é a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer. Daí por exemplo “eu e o dicionário”, “conversa que se desenvolve entre duas pessoas ou mais”. Este produz efeito: “pior coisa num diálogo quando vira um monólogo e um diz para o outro: “choveu ontem”, e outro responde: “choveu né”.
O conhecimento passa pela busca. É verificar porque choveu, quais os estragos da chuva, a chuva refrescou etc, perceba que cresceu o dialogo, e nos temos a capacidade de dialogar com o outro, com o livro, com as informações buscadas.
O tema “conhecimento” não está limitado a, descrições, hipóteses, conceitos, teorias, princípios e procedimentos que são úteis ou verdadeiros. Conhecer é muito mais, é mais do que informação. Um exemplo disso é computador, o seu “PC”, ele não tem todo conhecimento, ele tem dados, informações.
O conhecimento distingue-se da mera informação porque está associado a uma intencionalidade. Por isso que para conhecer é preciso lançar-se, ter uma intenção no aprendizado, existe um propósito, passa por uma utilidade. E o primeiro elemento que leva ao conhecimento é a disposição, uma abertura, é preciso uma busca, um lançar-se.
Sendo assim, a primeira “busca”, o primeiro lançar-se para eu preparar esta reflexão, foi ir até algo que é maior do que eu (que é o dicionário) e esta ida até o livro me coloca na condição de aprendizagem e faz com que eu reconheça nem tudo eu sei, daí a atitude de conhecer passa pela aprendizagem, mas esta precisa acontecer na atitude de abertura, é a pessoa que tem que se lançar, que se jogar, na busca então de conhecer.
Vocês podem estar se perguntando: porque o padre esta dizendo isso sobre o conhecimento: Porque a oração do Angelus cuja motivação foi a Oração da Coleta do 4° Domingo do Advento nos motivava para isso e temos um detalhe que é o conhecer: “Derramai, ó Deus a vossa graça em nossos corações (este é um dado concreto), para que conhecendo pela mensagem do Anjo a encarnação do vosso Filho, chegemos por sua paixão e cruz, a glória da ressurreição”.
Perceba que o conhecimento nos foi transmitido pela graça, mas exatamente pelo anjo, é o anjo (numa linguagem) “a graça” que nos faz conhecer. È o anjo que atribui a Maria o conhecimento.
Maria se coloca a disposição de Isabel numa atitude serviçal porque ela conhece sua prima. Conhecer é envolver-se por isso: “quanto mais se conhece mais se confia”.
– “Partir para uma região montanhosa apressadamente”: é lançar-se ao conhecimento.
– “Entar na casa e saudar” é abrir-se e dizer quero aprender, seja bem vinda a graça.
– Perguntas são feitas, questionamentos são emandos, duvidas pairam sobre o objeto a ser conhecido no caso de Isabel: Como posso merecer que a aquela que “conheceu a graça” transmita a mesma “graça”, Isabel diz: “Não sou digna!”
Dizemos que conheceram a “graça” e confiaram na “graça”.
Confiar e esperar segue a mesma linha, só se espera, só aguarda quando existe a confiança. Confiança é tudo, confiar é dar crédito, é dizer eu deposito algo em você, eu confio em seu taco, é incumbir de uma missão, é ter uma convicção, certeza. Num primeiro momento é um conceito muito subjetivo. Não para medir o grau de confiabilidade sobre alguém, sobre algo, envolve sim vínculos afetivos, mas é um conceito positivo e intrínseco, por isso que dizia no inicio que este tempo do natal é tempo de rever a nossa vida, nossa interioridade, para depois de uma análise vamos externando na vida, nos atos, na história quem somos e quem desejamos ser, ou seja conferindo sentido ao existir.
Isso que falamos enquanto confiança, esperança são sentimentos que vivem no coração de quem caminha nas estradas do Evangelho ao encontro do Senhor. Deus confia em nós, e nós confiamos nEle? Confiança passa pelo conhecimento, na verdade é o resultada sobre o conhecimento de alguém. Quanto mais conheço mais eu confio.
Por isso que o ultimo detalhe deste tempo é a vigilância.
A vigilância torna-se uma necessidade, porque existem armadilhas que podem desviar ou distrair do objetivo de buscar a participação plena realização, daí sim acontece uma quebra de confiança e a espera fica comprometida. Modelando-nos com atitudes defensivas, provocando um desconforto e a desestruturação.
Vigiar com atenção, ser sentinela, defensor da bondade. Pela vigilância nos dominamos nossos instintos como a gula, os desejos, as vontades, as preocupações da vida, somos por vezes impulsivos e a impulsividade faz com que a virtude da temperança, do equilíbrio, da sobriedade não seja externada.
Por fim um elemento que faz com que a confiança seja externada, a espera aconteça com alegria e nunca como peso, a vigilância seja ativa, e o conhecimento seja verdadeiro é a ORAÇÃO. A exortação de Jesus para rezar sempre (Lc 21,34-36) é algo que nos ajuda a buscar um equilíbrio interior, a ter mais fé, a esperar o tempo de Deus agir, a acreditar mais em nós. Por isso com a cabeça cheia de coisas, com preocupações não se toma decisão nenhuma.
Através da prática contínua da oração, a vigilância torna-se mais atenta e as armadilhas internas cedem lugar à presença do Espírito de Deus dentro de si, o mesmo Espírito que mostra os caminhos do Senhor e faz conhecer a estrada divina que conduz ao encontro de Jesus.
Por isso deixe a luz do céu invadir seu coração. Dê lugar ao menino que vem, abra a porta para que ele faça morada e confira sentido a sua vida. Cuide do interior para exteriorizar luz.
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