O que significa rezar? É importante rezar? Vale a pena? Como rezar? Estas e outras perguntas sobre a oração estiveram no centro da Liturgia da Palavra do domingo passado. E poderíamos continuar a perguntar: qual é o lugar da oração na vida cristã? É preciso rezar, mesmo com tanta coisa para fazer? Vale mais a oração ou a ação?
Uma coisa é certa: Jesus rezava, como nos atestam os Evangelhos. Passava até noites inteiras em oração, a sós com Deus (cf. Lc 6,12); os apóstolos também rezavam enquanto esperavam, com Maria, a Mãe de Jesus, a vinda do Espírito Santo (cf. At 1,22); os primeiros cristãos “eram perseverantes na oração” (cf. At 2,42); muitas vezes, São Paulo rezava e recomendava a oração aos fiéis em suas cartas (cf Ef 1,16; Fl 1,4; Rm 12,12; Cl 4,2). Inegavelmente, a oração faz parte da vida cristã, desde a pregação de Jesus e dos apóstolos e já nos primórdios da Igreja. E ao longo de toda a história da Igreja, a oração é uma das expressões mais evidentes da fé e da vida eclesial. Cristão reza; e quem não reza, deixa de lado um aspecto importante da vida cristã.
Ver Cristo rezando impressionava muito os discípulos, tanto que um deles lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1). Era costume que os “mestres” ensinassem a oração aos discípulos. E ainda hoje isso é parte da missão de quem deve ser “mestre na fé” para seus irmãos – sacerdotes, pastores de almas, catequistas. Aqui já está um dos significados da oração: É traduzir em atitudes aquilo que se aprendeu sobre Deus e a fé: rezar é passar do crer intelectual ao relacionar-se com Deus. Para saber se alguém tem fé, e que tipo de fé, basta observar se reza e como reza. Por isso é bem justificada a afirmação: lex credendi, lex orandi” – o jeito de crer aparece no jeito de rezar e a oração é expressão do jeito de crer.
Há muitos modos de rezar e também hoje há muitos “mestres de oração”. São todos igualmente bons? Jesus já desaconselhava a oração “dos hipócritas”, que são falsos (cf. Mt 6,5) e rezam apenas com os lábios, mas cujo coração está longe de Deus (cf. Mc 7,6); e também pede que não rezemos como os pagãos, que pensam poder convencer Deus com muitas palavras (cf. Mt 6,7). Em vez disso, ensina o Pai-Nosso (cf. Mt 6,9-15; Lc 11,2-4). O cristão deve aprender a rezar de Jesus, cuja oração é “falar com o Pai”.
Em nossa oração não nos dirigimos a Deus de maneira abstrata, como se o Altíssimo fosse uma energia que pode ser capturada com palavras ou ritos mágicos; nem invocamos um poder impessoal com o fim de direcioná-lo e de obter os benefícios desejados… Nossa oração tem base na graça recebida no Batismo, pela qual fomos acolhidos por Deus como filhos (“filhos no Filho”) e recebemos o Espírito Santo, que nos ajuda a rezar como convém (cf. Rm 8,26-27). Como Nosso Senhor Jesus Cristo, também nós podemos dirigir-nos a Deus, como os filhos se dirigem ao pai, com toda confiança e simplicidade. É belo pensar que não somos estranhos a Deus, nem Deus é estranho a nós; somos da “família de Deus”, a quem nos dirigimos com toda familiaridade. Por isso, nossa oração se traduz em profissão de fé, adoração, louvor, narração das maravilhas de Deus, agradecimento, súplica, desabafo na angústia, pedido de perdão, intercessão pelos outros… Filhos amados pelo pai e que lhe dedicam amor filial podem achegar-se ao colo do genitor, falar-lhe livremente, chorar no seu ombro, sentir-se abraçados e envolvidos de ternura, até sem dizer uma palavra…
Naturalmente, não tenho a pretensão de dizer tudo sobre a oração cristã nestes poucos parágrafos… Resta ainda falar da beleza e importância da oração litúrgica, quando não rezamos sozinhos, mas, como comunidade de fé, nos unimos a Cristo Sacerdote, que reza conosco e por nós diante do Pai. É prece de valor infinito, pois é perfeita a oração do Filho e são infinitos os méritos de Sua santa Encarnação, Sua Vida, Paixão e Ressurreição. Por isso, a Igreja recomenda, com tanta insistência, a participação na oração litúrgica, especialmente na Santa Missa dominical.
Cardeal Odilo Pedro Scherer