Em pleno mês da copa, com os olhos voltados para a África, temos pela frente a Semana do Migrante. Aberta no dia 13 (domingo), vai se concluir no próximo dia 20, quando no Brasil celebra o Dia Nacional do Migrante.
A promoção e a organização da Semana do Migrante está a cargo do SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes, o organismo da CNBB incumbido de incentivar a acolhida e a valorização dos migrantes nas comunidades da Igreja.
Desta vez o SPM está completando 25 anos. Um motivo a mais para conferirmos a realidade migratória em nosso país, com as interpelações que ela nos apresenta. Ao longo destes 25 anos o SPM foi se firmando como uma importante referência para a problemática dos migrantes, seja pelos locais de acolhida, espalhados pelo Brasil afora, seja pela atuação sistemática, constante, atenta, de presença e acompanhamento aos migrantes em nosso país.
Para avaliar a importância da atuação da Igreja junto aos migrantes, nada melhor do que conferir os benefícios trazidos pela recente lei da anistia aos indocumentados, oferecendo a possibilidade de regularizarem sua permanência no país, aprovada recentemente. Sem o apoio do Setor de Mobilidade Humana da CNBB, dentro do qual se insere o Serviço Pastoral dos Migrantes, com certeza não se teria chegado a esta lei, com a abertura que ela apresenta, e com as possibilidades que ela proporciona. Uma lei com conteúdo muito humano, que honra o Brasil, e que serviria de exemplo para tantas situações que os migrantes vivem hoje no mundo.
É tradição firmada nestes 25 anos de atuação do SPM, assumir para a Semana do Migrante o mesmo tema da Campanha da Fraternidade. Além de boa, esta opção é estratégica, pois revela a importância de inserir as atividades pastorais num contexto mais amplo da ação da Igreja, para que encontrem respaldo e possam se integrar num processo permanente. Assim, em cada ano, o tema da Campanha da Fraternidade pode ser aprofundado, vendo suas incidências na realidade migratória, de acordo com a proposta de “uma economia a serviço da vida”.
No que se refere à ação cotidiana do SPM, ela tem três focos distintos, que servem de referência para a atuação pastoral junto aos migrantes.
O primeiro deles é constituído pelas migrações sazonais. A cada ano, milhares de pessoas saem em busca de trabalho, sobretudo nos canaviais que se espalham pelo país. Os outros dois focos são os migrantes urbanos, e os imigrantes estrangeiros.
No mundo há situações muito mais tensas. Em cada época, os fluxos migratórios assumem feições que retratam a problemática que os suscita. Hoje a tensão migratória é resultado das grandes diferenças econômicas existentes no mundo, que não são fruto do acaso, mas têm causas bem identificadas.
O continente africano, que nestes dias está na mira de nossas atenções, serve de referência também para entendermos como se apresenta hoje o fenômeno migratório. A situação em alguns países africanos é tão dramática, que se fosse possível a população migraria toda para a Europa. Se as riquezas descobertas nos tempos da colonização européia tivessem sido aplicadas na própria África, com certeza não haveria hoje tantos africanos sonhando com a Europa e forçando a barra para atravessar o mediterrâneo.
As migrações têm o seu lado positivo, de intercâmbio de culturas e de nova composição étnica das nações. Mas revelam também o lado escuro dos processos de exploração que continuam produzindo impasses e provocando migrações forçadas.
Em tempos de copa do mundo na África, quando de novo o esporte serve de utopia da confraternização mundial, é salutar uma Semana do Migrante, para sonharmos com os caminhos que podem tornar este mundo uma casa habitável para todos, sem preconceitos, sem injustiças e sem discriminações.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira