A VOCAÇÃO DE SÃO PAULO- parte II

A VOCAÇÃO DE SÃO PAULO

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A VOCAÇÃO DE SÃO PAULO

(Dos Escritos do Cardeal Carlo Maria Martini)

2) Comparar o texto do capítulo 22 com o texto do capítulo 26 e colher as características da vocação de Paulo. Eis algumas elencadas para que possamos perceber melhor, o nosso próprio chamado; de fato, as vocações, embora muito diferentes entre si, têm algo de comum: a) A fundamental característica é que a vocação do apóstolo Paulo está centrada em Jesus vivo ressuscitado, mas no coração da Igreja, porque Jesus é a cabeça do Corpo que é a Igreja;

b) Uma característica especial, que não é específica de todas as vocações, é a de estar intimamente ligada à conversão; isto é, precisamente no mesmo momento em há um chamamento, acontece uma inversão total de direção, uma conversão. Entendo por conversão não só a mudança moral de direção da vida, mas também a mudança intelectual de horizonte. Na verdade, Paulo não somente se transforma de perseguidor em apóstolo, mas também agora muda o seu horizonte que passa a ser Jesus ressuscitado e a sua missão universal, e já não a comunidade que tinha que defender a todo custo, a comunidade que o aprisionava tornando-o cruel, inquieto e insatisfeito. Este novo horizonte (Deus nos dá novas missões) permite-lhe um olhar mais longe, à medida da eternidade e da intimidade, possibilitando a compreensão de si mesmo (“quanto mais eu descubro o seu rosto, mais ele revela o meu”), em primeiro lugar (Rm 09); deste modo, pode também ver o caminho anterior numa síntese muito elevada e apaziguadora, e intuir a razão de ser do desígnio de Deus, o porquê do chamamento

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dos pagãos e a relação desse chamamento com as profecias ( caminho da nossa história de salvação). Portanto, são dois grandes momentos de conversão paulina: a inversão da direção, mesmo de tipo moral, e a conversão do tipo intelectual, cognitiva, que nos faz sentir parte de um infinito desígnio positivo do Altíssimo acerca de toda a humanidade, para tirar do mal o bem, para fazer passar do mal ao bem. Paulo experimenta a inserção neste movimento que o entusiasma, que vê que é verdadeiro, que corresponde àquele pelo qual sempre se tinha querido bater com todas as suas forças;

c) Uma terceira característica de sua vocação-conversão é a de sentir-se apoiado pelo poder de Deus (V. 17). Paulo nunca se cansará de o repetir nas suas cartas: não sou eu, mas a graça de Deus que está em mim. Uma vocação fundada na certeza de que a força de Deus nunca diminuirá.

d) Por fim, trata-se de uma vocação benéfica para os outros. Ajudará muitas pessoas cegas ou presas em cadeias tenebrosas a verem e a experimentarem a alegria da liberdade de Cristo: por-se-á ao serviço daqueles que estão sujeitos ao poder de Satanás, para conduzi-los à alegria de Deus, viverá o mandato pastoral e apostólico no desejo imperioso de conduzir todos à plenitude da autenticidade.

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