Não soube do mundo

De: Renato de Azevedo

Era tão pequeno

que ninguém o via. Dormia sereno

enquanto crescia.

Sem falar, pedia

– porque era semente –

ver a luz do dia

como toda a gente.

Não tinha usurpado

a sua morada.

Não tinha pecado.

Não fizera nada.  

Foi sacrificado

enquanto dormia,

esterilizado

com toda a maestria.

Antes que a tivesse,

taparam-lhe a boca

– tratado, parece,

qual bicho na toca. 

Não soltou vagido.

Não teve amanhã.

Não ouviu “Querido”…

Não disse “Mamã”…

Não sentiu um beijo.

Nunca andou ao colo.

Nunca teve o ensejo

de pisar o solo,

pezito descalço,

andar hesitante,

sorrindo no encalço

do abraço distante. 

 Nunca foi à escola,

de sacola ao ombro,

nem olhou estrelas

om olhos de assombro.

Crianças iguais

à que ele seria,

não brincou com elas

nem soube que havia.

Não roubou maçãs,

não ouviu os grilos,

não apanhou rãs

nos charcos tranquilos.

Nunca teve um cão,

vadio que fosse,

a lamber-lhe a mão

à espera do doce. 

Não soube que há rios

e ventos e espaços.

E invernos e estios.

E mares e sargaços.

E flores e poentes.

E peixes e feras

 -as hoje viventes

e as de antigas eras. 

Não soube do mundo.

Não viu a magia. 

Num breve segundo,

foi neutralizado

com toda a maestria.

Com as alvas batas,

máscaras de entrudo,

técnicas exatas,

mãos de especialistas

negaram-lhe tudo

( o destino inteiro…) 

– porque os abortistas

nasceram primeiro. 


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino