Por:
Dom Redovino Rizzardo, cs- Bispo de Dourados/MS
A Campanha da Fraternidade de 2008, promovida pela Igreja do Brasil, escolheu como tema a defesa da vida. Dentre as inúmeras iniciativas a que se recorreu para difundir o evento, uma delas foi a confecção de um DVD por uma organização católica de São Paulo, dedicada à produção de material audiovisual. Nele, foi incluída uma palestra de Dulce Xavier, líder da organização “Católicas pelo Direito de Decidir”. Através da internet, o movimento apresenta sua fisionomia e identidade com estas palavras: “Católicas pelo Direito de Decidir é uma entidade feminista, de caráter inter-religioso, que busca justiça social e mudança de padrões culturais e religiosos vigentes em nossa sociedade, respeitando a diversidade como necessária à realização da liberdade e da justiça. Constituída no Brasil em 1993, promove os direitos das mulheres (especialmente os sexuais e os reprodutivos) e luta pela igualdade nas relações de gênero e pela cidadania das mulheres, tanto na sociedade quanto no interior da Igreja Católica e de outras igrejas e religiões, além de divulgar o pensamento religioso progressista em favor da autonomia das mulheres, reconhecendo sua autoridade moral e sua capacidade ética de tomar decisões sobre todos os campos de suas vidas”.
Contudo, é muito diferente a realidade que se oculta sob palavras aparentemente tão bonitas, que poderiam até ser aceitas se tomadas globalmente. Sempre que suas representantes conseguem se fizer ouvir em congressos ou eventos semelhantes, demonstram que, de católicas, nada conservam além do nome. O seu verdadeiro objetivo não parece ser outro senão a implantação da prática do aborto em todo o mundo.
Ao tomar conhecimento da intervenção de Dulce Xavier, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil solicitou a suspensão da venda do DVD e seu imediato recolhimento. O motivo que levou a produtora a dar voz e vez à expoente de um movimento tão estranho à doutrina católica foi, segundo o seu diretor, proporcionar um contraponto, a fim de suscitar a discussão nas comunidades, de modo que os argumentos pró e contra o aborto pudessem ser confrontados.
Na carta enviada aos bispos do Brasil, o Secretário-Geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, adverte que as “Católicas pelo Direito de Decidir” “não são uma organização católica nem falam pela Igreja Católica, pois promovem posições contrárias ao magistério da Igreja. Trata-se, no caso, de uma apropriação indébita do adjetivo “Católicas” para disseminar, de maneira desonesta, idéias e argumentos errôneos como se fossem autenticamente católicos”.
E dirigindo-se especificamente ao diretor da empresa responsável pela publicação do audiovisual, acrescenta: “Lamento ter que lhe comunicar essa decisão, mas não é apenas o nome da CNBB que está em jogo: é a própria fidelidade à missão evangelizadora da Igreja, chamada a anunciar a todos o Evangelho da Vida”.
O debate que se seguiu em alguns meios de comunicação social girou em torno de uma pergunta: os católicos têm o direito de decidir ou precisam obedecer cegamente às orientações de uma hierarquia não raras vezes acusada de conservadora?
Como pessoa normal, adulta e madura que todo cristão busca ser, ele não pode ceder a outros a responsabilidade de suas decisões. “A decisão é sua”, diz uma canção muito conhecida. A Bíblia não cansa de o lembrar, mas, como reza o lema da Campanha da fraternidade deste ano, também pede: “Escolhe a vida” (Dt 30, 19) e tudo o que concorre para seu pleno desenvolvimento, como o bem, a justiça e o amor.
Bento XVI, ao discursar por ocasião da comemoração dos 25 anos da promulgação do Direito Canônico, no dia 25 de janeiro deste ano, não falou diferente: “A lei da Igreja é, sobretudo lei da liberdade, lei que nos livres para aderir a Jesus”.
Para o cristão, a liberdade se conquista dia a dia, e o leva a ter vontade e forças para escolher sempre o que mais o realiza e o que mais ajuda a sociedade a crescer. Por isso, todas as suas decisões são fundamentadas na palavra de Deus.
Infelizmente, o que alguns movimentos feministas fazem – consciente ou inconscientemente – é pôr-se a serviço da cultura de morte que ameaça todos os segmentos da sociedade. Contudo, não basta ser contra o aborto. Nesse e noutros campos, a credibilidade da Igreja brota de sua presença e de se compromisso com a multidão de pessoas que jazem à margem da estrada da vida…
Fonte: Diocese de Dourados-MS