Nhá Chica, a Mãe dos Pobres
No tempo que Chica Viveu era assim…
Ela nasceu em 1810, numa época e em que, no Brasil ainda existiam imperador e princesas. E viveu num lugar em que as senhoras ricas e importantes eram chamadas de “sinhás” e suas filhas solteiras “sinhazinhas”. As pobres mulheres do povo, eram apenas “nhá” Maria, Nhá Joana… E assim, a nossa beatinha ficou por todos conhecida por Nhá Chica: a mãe dos pobres e conselheira do povo, a santinha de Bependi.
E mais: era negra, num tempo de escravidão no Brasil. Venceu sem esforço todo preconceito pela força da bondade e da caridade: os pobres que a procuravam, brancos, negros ou índios, sempre comiam um pouco de angú, um pedaço de rapadura e recebiam a graça que pediam. Uma família herdou o testemunho de uma avózinha, já falecida, que tendo ela vindo para cidade pedir a oração de Nhá Chica, estava de saída com a filharada, quando Nhá Chica, como uma boa mineira, disse: “O caminho é comprido, vocês antes almoçam comigo.” Mas as panelinhas eram pequenas, porque Nhá Chica morava só e parecia que a comida não dava para todos. Mas todos comeram de ficar satisfeitos.
Chica Menina
Francisca nasceu em São João del-Rei, numa fazenda do Distrito do Rio das Mortes em Minas Gerais, sua mãe Izabel Maria era escrava e solteira, a avó Nhá Rosa veio para o Brasil raptada em Benguela, na Angola. A pequena Chica tinha um irmão já moço, chamado Theotonio, que era filho de um homem branco.
Existe uma lenda romanceada por alguns escritores de que Isabel Maria, a mãe de Francisca era uma escrava alforriada por Chica da Silva, em Diamantina. E que ela conheceu o índio Aymoré chamado Seberê, que era escultor de anjos e aprendiz de Alejadinho, quando ele, fugitivo por ser inconfidente, passou por Diamantina. E que Isabel foi para Baependi em busca do pai da menina, mas nunca mais o encontrou. Pode ser verdade, mas não encontrei nenhuma comprovação histórica…
O fato é que a família de Chica mudou-se mesmo para uma vila nova chamada Baependi, mas ninguém sabe se por escolha própria, por ter conseguido a liberdade, ou levada para lá com a família de seus “donos”.
Izabel Maria levou consigo seu único tesouro, além dos filhos: uma imagenzinha de Nossa Senhora da Conceição. Foi ela quem ensinou os filhos a amarem Nossa Senhora e isso fez toda a diferença na vida deles.
Pouco tempo depois morreu deixando Chica órfã com apenas 10 anos, aos cuidados do irmão. Theotonio era inteligente, acabou ocupando cargos na administração pública e obteve patente militar. Continuou devoto de Nossa Senhora, pois integrou a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte.
Chica Moça
Chica amava Nossa Senhora da Conceição, que chamava de “Minha Sinhá”. Resolveu ainda mocinha, rejeitar um a um dos pedidos dos casamentos, pois uma moça tão boa, não ia passar despercebida dos bons rapazes. Ficou até amiga dos pretendentes, mas decidiu não se casar para continuar tendo todo o tempo para ajudar aos que precisavam dela.
Deus gostou dessa dedicação que Chica tinha em ajudar os outros e lhe deu de presente dons especiais: de oração, sabedoria e profecia. Quando alguém se admirava com a sabedoria e as graças alcançadas por aquela pequena mulher analfabeta, ela dizia: “Isto acontece porque rezo com fé”. Um médico amigo perguntou a ela, já velhinha, porque não tentou aprender a ler, ela respondeu: “Só desejei ouvir as escrituras santas, alguém fez-me esse favor, fiquei satisfeita.”
Nhá Chica e Nossa Senhora
Nhá Chica rezava diariamente aos pés de sua imagenzinha de Nossa Senhora da Conceição. Uma noite sonhou que a Virgem Maria lhe pediu uma Capela em sua honra. Esmolando e com ajuda dos amigos, levantou a capelinha. Então sonhou que a Virgem queria um órgão de fole francês para a capela. Mas Nhá Chica não fazia ideia do que fosse isso – Foi um jeito de Nossa Senhora dar a entender para o padre que se tratava mesmo de sua vontade e não a de uma velhinha com fama de santa – O padre explicou a Nhá Chica que se tratava de um instrumento musical muito caro. Nhá Chica ajoelhou-se diante do altar, rezou para a Sinhá e esta lhe prometeu que o instrumento haveria de tocar às 15 horas de sexta-feira, a hora da agonia de Jesus. É claro que na data e hora marcada, com a capela lotada, não deu outra: os acordes musicais do órgão encheram o ar.
Nhá Chica fez uma Novena à Nossa Senhora da Conceição que ensinava ao povo que ia rezar na capelinha. E, em um determinado dia da semana, convidava os pobres e demais moradores daquela redondeza, alí do bairro Cavaco, para rezar o terço com ela. E guardava devoção especial às três horas da tarde, hora da Agonia do Senhor. Nas sextas-feiras, recolhia-se em oração.
E não eram só os pobres que iam pedir orações e conselhos a Nhá Chica. Como um médico cirurgião, que tinha que tomar uma decisão importante no trabalho e não sabia o que fazer. Pediu a seu neto que fosse perguntar à Nhá Cica. Ela estava rezando e disse à criança que, quando a chama da vela balançasse três vezes, seria sinal de que tudo caminharia bem. Enquanto ela rezava, a criança ficou na janela, à espera de que Nhá Chica acenasse. Assim a beata entregou o caso para que Nossa Senhora resolvesse sem ter que parar suas orações.
Teve também o conselheiro do Império João Pedreira do Couto Ferraz. Ele levou sua filha Zélia para que Nhá Chica orasse por ela, pois estava de malas prontas para entrar num convento na Europa. Nhá Chica rezou e disse ao conselheiro: “Sua filha, primeiramente vai se casar, ter muitos filhos e estes serão consagrados a Deus. Somente no final de sua vida é que Zélia sera de Deus.” E a profecia se cumpriu: Zélia casou, teve dez filhos, cinco mulheres foram religiosas e três homens sacerdotes. Após enviuvar, com 60 anos, ela foi admitida na Congregação das Irmãs Servas do Santíssimo Sacramento, com o nome de irmã Maria do Santíssimo Sacramento.
Quando alguém confundia Nhá Chica com advinha ou benzedeira, era dizia: “Não sou sybilla nem nunca fiz milagres: eu rezo a Nossa Senhora que me ouve e me responde; é por isso que posso responder com acerto, quando me consultam, e afirmar o que digo.”
Nhá Chica e o Perfume de Rosas
Ao falecer, em 14 de junho de 1895, com 87 anos, Nhá Chica foi velada na capela que construiu, onde foi sepultada quatro dias depois. As pessoas que compareceram ao velório sentiram um gostoso perfume de rosas que exalava de seu corpo.
103 anos depois, dia 18 de junho de 1998, por causa do processo de beatificação, o corpo de Nhá Chica foi exumado. A Irmã Célia que estava presente, contou: “À medida que os pedreiros retiravam a laje do túmulo, um perfume de rosas se espalhou pelo ambiente. Dom Diamantino, bispo de Campanha (MG) que estava presente, até brincou comigo: ‘hoje você está perfumada, hein irmã Célia’. Aí falei: ‘não estou usando perfume não, dom Diamantino. Esse cheiro está vindo do túmulo’!”
Era o mesmo perfume de rosas. Muita gente sentiu, começando pelos pedreiros que trabalhavam na exumação do seu corpo. O perfume foi sentido até pelos fiéis que aguardavam do lado de fora da igreja. Como na antiga canção: “Fica Sempre, um pouco de perfume, nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas.”
Nhá Chica fez uma Novena à Nossa Senhora da Conceição que ensinava ao povo que ia rezar na capelinha: “Virgem da Conceição, vós fostes aquela Senhora que entrastes no Céu vestida de sol, calçada de lua, coroada de estrelas e cercada de anjos… Vós prometestes que havereis de socorrer a todo aquele que invocasse vosso santo nome. Agora é a ocasião: Valei-me, Senhora da Conceiçao!” (Faz-se o pedido) e REZA-SE A SALVE RAINHA
Agora clique no desenho de Nhá Chica para ampliar, imprimir e colorir. Fica com Deus e…
Nhá Chica, rogai por nós!