Nossa Senhora de Guadalupe

Em uma aldeia asteca, no México, no ano de Nosso Senhor de 1424, nasceu um pequeno índio. Seu nome era… Ééé… Não sei dizer, mas leia aí, se puder: “Cuauhtitlantoadzin”. Era de uma família muito pobre, pois os astecas tinham o sistema de “castas”, isso é quem nascia pobre não tinha como melhorar de vida e vivia para servir os mais ricos.

Em 22 de abril de 1519, os astecas viram, pela primeira vez, os espanhóis chegando pelo mar em suas “casas flutuantes”, que eram os navios. Cuauhtitlantoadzin tinha 45 anos. junto com os colonizadores, vieram os freis franciscanos para cuidar da alma dos viajantes e evangelizar os colonizadores e o povo nativo  daquela terra. O comandante da expedição, Hernán Cortés, a pedido dos franciscanos, fizera toda a  sua tropa recitar o terço de joelhos na areia da praia de São João de Ulúa.

“Cuauhtitlantoadzin” já tinha 50 anos quando foi evangelizado pelos freis franciscanos e só em 1474, foi batizado com o lindo nome de Juan Diego Cuauhtlatoatzin. Ufa! Bem melhor, não é?! Também se batizaram seu tio a quem foi dado o nome de João Bernardino e também nesse dia foi batizada uma índia com o nome de Maria Lúcia. Juan e Maria se casaram, mas logo ela veio a falecer, deixando Juan viúvo.

Juan Diego era calmo, gentil e demonstrava sempre os valores cristãos que aprendeu dos freis da missão franciscana. Era humilde, muito mesmo! Nossa Senhora é incrível! Através dela, Deus sempre escolhe os humildes, os simples, as crianças para grandes missões. É porque Deus é assim, como nossa Senhora mesmo disse: exalta os humildes! Viva Deus!

E como Nossa Senhora apareceu a Juan Diego?

Juan Diego saia de madrugada de sua aldeia e fazia um percurso de vinte quilômetros de ida e outros vinte de volta, para participar da Santa Missa dominical na Igreja da Missão, podia nevar ou chover que ele nunca faltava. Ele passava, ainda de madrugada, por uma colina na serra conhecida como Tepeyac que, na língua materna do povo asteca, que mais ou menos significa significa “pequena montanha com nariz”, que eles chamavam também de serrinho. No sopé desta colina, nos dias claros, era possível ver uma das mais belas vistas do vale do México, porém Juan não parava ali para ver o dia amanhecer, porque ele gostava de chegar bem antes Santa Missa começar.

Juan Diego que já tinha 54 anos. Numa dessas suas idas para a Igreja da Missão, num sábado, no dia 9 de Dezembro de 1531, ia enrolado em sua “tilma”, um tipo de capa grossa como uma lona, feita de fibra vegetal, usada pelos homens astecas, pois era inverno. Juan ia apressadinho, para escapar do frio. Por volta das três e meia da madrugada, entre a vila onde morava e a montanha, Juan Diego ouviu cantos de vários pássaros acima da montanha de Tepeyac, isso elevou seu coração e lhe chamou tanto a atenção, que Juan esqueceu até esqueceu o frio e a pressa. Não era hora de passarinho cantar e nem primavera, para que eles aparecerem por ali. Juan disse para sí mesmo:

Porventura, sou digno do que ouço? Será um sonho? Estou dormindo em pé? Onde estou? Será que estou agora em um paraíso terrestre de que os mais velhos nos falam a respeito? Ou quem sabe estou no céu?”

O som era muito suave e Juan esticou os ouvidos para distinguir que pássaros estavam cantando… Às vezes parecia ser “coyoltototl” (o Melro, seu canto é parecido com um sino, agradável e doce), às vezes “tzinizcan” (as cores desse pássaro estão na bandeira do México) e de outros pássaros que Juan não conseguiu definir.

Ele estava olhando para o sopé da montanha, na direção do sol, de onde vinha o canto quando, de repente, os pássaros silenciaram e tudo ficou calmo. Foi nessa hora que Juan ouviu uma voz doce que lhe pareceu familiar. Ela o chamou:

“Meu Juanito, meu Juan Dieguito!”

Juan não sentiu em seu coração nenhum constrangimento, nenhuma perturbação. Na verdade, ele se sentiu muito feliz e, rapidamente, subiu até o sopé de Tepeyac para ver quem o estava chamando. Quando ele chegou ao cume, teve a alegria de ver uma linda jovem índia, como ele, grávida, que tinha no olhar e na voz, aquele tom bondoso que só encontramos em uma mãe amorosa, infinitamente agradável e ao mesmo tempo majestosa. Com um gesto, ela o convidou a chegar mais perto.

Transbordando de felicidade, ele alcançou sua presença. Ficou muito surpreso, suas roupas brilhavam como o sol, ao redor de sua cabeça havia um halo que parecia de pedra jade. Ia vestida como Juan já tinha visto Nossa Senhora nas imagens: com um longo manto. Porém, esse manto era muito mais lindo: parecia vivo: o recorte de um pedaço do céu em uma noite muito estrelada. E a terra onde ela pisava estava brilhando como um arco-íris no nevoeiro. O verde das árvores pareciam esmeraldas, turquesas suas folhagem e seus troncos, e galhos brilhavam como ouro. E Juan que já sabia, só de olhar, que aquela era a mãe de Jesus, se ajoelhou.

Ela falou no idioma nativo de Juan Diego, o Nahuatl:

“Juanito, o mais pequeno dos meus filhos, onde vais?”

Juan respondeu:

“Minha senhora, minha rainha, minha garotinha… Vou chegar à tua casa do México Tlatelolco. Eu vou atrás das coisas de Deus, que se digna de nos dar ensinam-nos os nossos sacerdotes, que são imagens do Senhor, nosso dono”.

E Nossa Senhora foi dando a Juan toda uma “catequese” sobre Seu filho Jesus, na língua asteca, para que ele depois transmitisse para o seu povo:

“Tem a bondade de enterarte, por favor coloque em seu coração, filhinho meu, o mais amado, que eu sou a perfeita sempre Virgem Maria e tenho o privilégio de ser mãe do verdadeiríssimo Deus, de “Ipalnemohuani” (Aquele por quem todos receberam a vida e vivem), de “Teyocoyani” (Aquele que cria todas as coisas), de “Tloque Nahuaque” (Aquele que é o princípio de todas as coisas), de Ilhuicahua Tlaltipaque (Aquele que é Senhor do céu e da terra)”.

E Nossa Senhora explicou como pretendia mostrar o Seu Filho Jesus para o povo de Juan, que O conhecia, ainda, tão pouco:

“Muito quero, ardo em desejos, de que aqui tenham a bondade de construir-me meu “templocito” (um pequeno templo), para ali mostrá-Lo a vocês…”

Nossa Senhora explicou que queria que o povo de Juan, nesse templo adorassem a Seu filho Jesus:

“Engrandecê-Lo, entregarem-se a Ele, a Ele que é todo meu amor, a Ele que é meu olhar compassivo, a Ele que é meu auxílio, a Ele que é minha salvação.” 

E porque Jesus deu essa missão a Nossa Senhora no México? Ela explicou:

“Porque, em verdade, eu me honro em ser mãe compassiva de todos vocês: tua e de todas as pessoas que aqui nesta terra estão. E dos demais variados povos que me amam, os que clamam por mim, os que me procuram, os que me honram confiando na minha intercessão. Porque lá (nesse templo) estarei sempre pronta para ouvir o seu choro, a sua tristeza, para purificar, para curar todas as suas diferentes misérias, suas tristezas, suas dores. E para realizar com toda a certeza o que pretende Ele (Jesus), meu olhar misericordioso.”

Que lindo, Nossa Senhora chama Jesus de “meu olhar misericordioso”.

E Nossa Senhora deu essa missão importante a Juan Diego:

“E para realizar, com toda certeza o que pretende Meu filho, meu olhar misericordioso, espero que aceites ir a al palacio do Bispo do México e lhe narres como, nada menos do que eu, te envio como embaixador para que lhe manifeste quão grande e ardente desejo tenho, de que aqui me providencie uma casa, de que levantem nesta planície meu templo. Absolutamente tudo, com todos seus detalhes, lhe contarás: tudo o que viu e admirou, e o que ouviu. E fique seguro de que muito te vou agradecer e pagar, pois te enriquecerei e te glorificarei. E muito mereces com isso que eu recompense o teu cansaço, tua moléstia de ir a executar a embaixada que te confio.”

Agora Juan não era mais um pobre índio asteca. Era também o embaixador de Nossa Senhora. Ela se despediu dizendo:

“Já ouviu tudo, filho meu, o mais amado, meu alento, o que vai levar minha palavra” espero que aceites e tenha a bondade de por todos os seus esforços.”

Se nossa Senhora falasse assim com a gente e nos pedisse um favor com todo esse carinho e educação, quem é que não faria o que ela pediu? Ainda mais Juan Diego que era a gentileza em pessoa. Imediatamente se prostou na presencia de Nossa Senhora e, respeitosamente, disse:

“Senhora minha, minha menina, claro que já vou pôr em prática sua venerável vontade, tua amada palavra. Por agora de ti me despeço, eu, teu humilde servidor.”

E Juan, como era simples como um menino, nem esperou Nossa Senhora ir embora,  desceu correndinho da montanha para ir a pôr por empática seu encargo e tomou a estrada que levava ao México. lá foi ele para o palácio do Bispo.

Quando chegou no interior da cidade, foi diretamente para o palácio do novo Bispo, Dom Juan de Zumárraga, que também era franciscano.

Juan rogou que o deixassem ver o Bispo, aos empregados do palácio, que fossem anunciá-lo.

Depois de uma longa espera, finalmente vieram chamar Juan que o Bispo ia o receber. Quando entrou, na presença do Bispo, Juan se ajoelhou e se prostrou. E, em seguida, contou, respeitosamente, tudo o que viu e ouviu da rainha do Céu. Porém, o Bispo não deu muito crédito e disse a Juan:

“Filhinho meu, volte outra vez e ainda com mais calma te ouvirei, desde o princípio. Observarei, pensarei no que te fez vir aqui e considerei tua vontade, teu desejo.”

Mas não era o desejo de Juan Diego, era o de Nossa Senhora. Porém, quis a divina providência que o Bispo agisse assim, pois, tudo concorre para o bem daqueles que amam o Senhor, não é mesmo?

Juan Diego saiu abatido, muito triste, porque sua “encomenda” não se realizou de imediato.

Pouco depois de acabar o dia, Juan regressou para casa. Passando por Tepeyac, resolveu subir o cerrito e lá em cima, na planície, Nossa Senhora o esperava bondosamente. Juan apenas a viu, se prostrou en su presença, se jogando por terra e disse:

“Dona minha, senhora, rainha, filhinha minha, a mais amada, minha “Virgencita”, fui lá onde tu me enviaste como mensageiro, fui a cumprir tua venerável vontade, tua amável palavra. Mesmo que muito dificilmente, entrei no lugar onde estava o chefe dos Sacerdotes. Eu o vi, em sua presença expus tua venerável vontade, tua amada palavra, como tiveste a bondade de mandar-me. Me recebeu amavelmente e me escutou bondosamente. Porém, pela maneira como me respondeu, seu coração não ficou satisfeito.”

E contou o que o que o Bispo disse. Juan podia ser simples, mas também era inteligente. Ele disse a Nossa Senhora:

“Me dei perfeita conta, pela forma que me respondeu, que pensa que o templo que Tú te dignas conceder-nos o privilégio de edificar aqui, talvez seja mera invenção minha, que talvez não é um pedido de seus veneráveis lábios.”

E Juan implorou a Nossa Senhora:

“Pelo qual, muito te rogo, Senhora minha, minha rainha, minha Virgencita, que talvez algum dos ilustres nobres, que seja conhecido, respeitado, honrado, a ele lhe concedam que se tenha recebido o cargo de tua venerável vontade, de tua preciosa palavra para que seja acreditado. Porque eu, na verdade, não valho nada, sou “mecapal” (uma alça para carregar carga, que os índios astecas prendiam na cabeça), sou “cacaxtle” (uma caixa de varas onde os astecas carregavam cargas nas costas). Sou mais: submetido à ombros e a cargo dos outros. Qual é meu paradeiro e meus passos para quem a Senhora se digne a me enviar? Por favor, perdoe-me: afligirei teu venerado rosto, teu amado coração. Irei cair em tua justa irritação, em sua digna cólera, senhora, dona minha.”

Imagine se Nossa Senhora iria “se irritar” com ele? É que Juan, por ser tão pobre, muitas vezes, nos trabalhos mais duros, como o de carregar cargas nas costas, sofria com a irritação dos patrões, quando a carga era grande demais para suas pobres forças. Ma Nossa Senhora foi diferente, ela disse:

“Escuta, filhinho meu, o mais pequeno, tem por seguro que não são poucos meus servidores, meus embaixadores mensageiros, a quem poderia confiar que levassem minha vontade, minha palavra, que executassem minha vontade. Mas é indispensável que seja precisamente você quem negocie e gerencie, que seja totalmente por tua intervenção que se verifique, que se leve a cabo minha vontade, meu desejo.”

Jesus escolheu Juan Diego e Nossa Senhora não abriu mão da vontade de Seu Filho. Ela também disse:

“E muitíssimo te rogo, filhinho e com meu consentimento, com rigor te mando, que amanhã vá, outra vez a ver ao Bispo. E, da minha parte, adverte-lhe, faça ouvir bem claro minha vontade, meu desejo, para que realize, para que faça meu templo que lhe peço. E, de novo, comunica-lhe, de maneira que nada menos que eu, eu a sempre Virgem Maria, a Venerável Mãe de Deus, a ele te envio de mensageiro.”

Juan Diego, com um novo ânimo, respondeu respeitosamente:

“Senhora minha, rainha, “Virgencita” minha, espero que não se aflija eu teu venerável rostro, teu amado coração. Com o maior gosto irei, vou certamente colocar em ação sua venerável vontade, tua amada palavra. De nenhuma maneira me permitirei deixar de fazê-lo, nem considero penoso o caminho. Irei, pois, desde já, a colocar em ação sua venerável vontade, porém bem pode suceder que não seja favoravelmente ouvido, ou, se for ouvido, talvez não serei acreditado, porém, amanhã pela tarde, quando se ponha o sol, virei a devolver o que me respondeu o chefe dos Sacerdotes. Já me despeço, filhinha minha, a mais amada, “Virgencita” minha, senhora, rainha. Por favor, fique tranquila.”

E lá foi ele, mais uma vez sem esperar Nossa Senhora sair primeiro, para sua casa descansar.

No dia seguinte era domingo. Bem de madrugada, quando ainda estava escuro, Juan Diego saiu de sua casa e foi rumo a Tlatelolco: primeiro participar da Santa Missa e aprender as coisas divinas. Lá pelas 10 da manhã, acabada a Missa e a catequese, Juan Diego, foi para o palácio do Senhor Bispo. Fez todo o possível para ter o privilégio de o ver e, só com muito custo, conseguiu. A seus pés se pôs de joelhos, chorou, se entristeceu, dialogou, novamente expôs a venerável vontade da Virgem Maria, a “palabra de la Reina del Cielo”. O Bispo lhe fez muitas perguntas, as examinou, pediu detalhes, como onde a viu, que aspecto tinha. E a tudo respondeu Juan Diego.

Por tudo isso, o Bispo foi se assombrando e viu que, clarissimamente , parecia mesmo se tratar de uma aparição da mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas ele lhe disse que não só por causa da sua palavra, do seu pedido, que ele seria executado. Que todavía, era era indispensável um sinal, para que ele pudesse acreditar que foi justamente ela, a rainha dos Céus, quem se dignou enviá-lo como mensageiro.

E, tão pronto como lhe ouviu, Juan Diego disse respeitosamente ao Bispo:

“Senhor Governante, por favor, veja qual será o sinal que você gentilmente pede, porque irei imediatamente solicitá-lo à Rainha dos Céus, que se dignou a me enviar aqui como mensageiro.”

, quando o Bispo viu que tudo confirmava, que desde a primeira reação não hesitou nem duvidou de nada, o mandou para casa. Mas assim que Juan saiu, ordenou a alguns servos, em quem tinha grande confiança, que o seguissem, para espioná-lo cuidadosamente para onde ia e com quem via ou falava. E assim foi feito.

Juan Diego ia a frente, descendo a estrada. E os servos do Bispo o seguiram, mas perto de Tepeyac, sobre a ponte de madeira, o perderam de vista e, embora o procurassem por toda parte, não o viram mais em lugar nenhum, então voltaram muito bravos. Foram até o Bispo e disseram que não deveria acreditar em Juan. Inventaram que o que ele estava fazendo, era apenas enganá-lo, que Juan inventou ou sonhou toda aquela história. E combinaram entre si, agarrar e bater em Juan Diego se ele voltasse a tentar falar com o Bispo, para que não andasse por aí contando mentiras e enganando as pessoas.

Enquanto isso, Juan Diego, inocente de tudo, estava com a Virgem Maria em Tepeyac, contando sobre o sinal que o Bispo tinha pedido. Nossa Senhora respondeu:

“Isso está bem, meu filho amadíssimo. Amanhã você virá aqui novamente para levar ao Grande Sacerdote a prova, o sinal que ele lhe pede. Com isso ele acreditará imediatamente em você e não desconfiará, nem suspeitará de você. E tenha plena certeza, meu Filho predileto, de que lhe retribuirei o cuidado, o serviço, o cansaço que esbanjou por amor a mim. Anime-se, meu garotinho! Que amanhã aqui com muito interesse terei que esperar por você.”

Porém, na segunda-feira, quando Juan Diego deveria levar o sinal para o Bispo,  não regressou até Nossa Senhora para buscá-lo, porque em sua casa, o tio de Juan Diego, Juan Bernardino, muito doente, estava morrendo. Juan Diego passou o dia atrás de remédios e, ao anoitecer, seu tio lhe pediu que fosse para Tlatelolco buscar um Sacerdote, para receber os últimos Sacramentos.

Em plena noite, Juan Diego saiu de sua casa para buscar o Sacerdote. Ao passar por perto do cerrito de Tepeyac, de onde sai o caminho para subir ao pico, no lugar de onde se põe o sol, disse pra si mesmo:

“Se sigo em frente por esse caminho, pode ser que eu veja a nobre Senhora, porque como das outras vezes, me fará a honra de me deter, para que eu leve o sinal ao chefe dos Sacerdotes, conforme ao que se dignou mandar-me. Que, por favor, primeiro nos deixe nossa aflição, que eu possa ir rápido a chamar respeitosamente o Sacerdote. Meu venerável tio não faz, senão, o estar aguardando.”

Em seguida, deu a volta ao monte pela “saia”, subiu a outra parte, por um lado, até onde sai o sol, para ir a chegar rápido ao México, para que não o fizesse demorar a Rainha do Céu.

Ai, ai… Juan imaginou que Nossa Senhora não ia ver o que ele estava fazendo, justo ela que,  por amor aos seus filhos,  está sempre nos vendo. Nossa Senhora o estava observando atentamente. Veio até ele e disse:

“O que foi, meu filho mais pequeno? Onde vai? O que vai ver?”

Juan, triste, com vergonha, se prostrou e cumprimentou Nossa Senhora com muito respeito:

“Minha Virgencita, filha minha, a mais amada, minha rainha, espero que esteja bem. Como amanheceste? Estás bem de saúde? Senhora minha, minha menininha.”

Vê se isso é coisa que se pergunte a Nossa Senhora? É que ele estava envergonhado de tentar fugir dela. Ele expliucou:

“Causarei pena a teu venerado rosto, a teu amado coração: Por favor, tome em cuenta Virgencita minha, que está gravíssimo um “criadito” teu, meu tio. Está muito doente e não tardará a morrer. Assim que agora tenho que ir urgentemente a sua casita do México, a chamar algum dos amados de nosso Senhor, nossos sacerdotes, para que tenha a bondade de confessá-lo, de prepará-lo… Pois para isso nascemos: viemos aguardar o tributo da nossa morte. Porém, assim que eu fizer isso, apenas termine, de imediato regressarei aqui para levar tua venerável vontade, tua amada palavra, Senhora, virgencita minha. Por favor, tenha a bondade de perdoar-me, de ter toda paciência, filha minha, a mais pequena, minha princesinha, porque o primeiro que farei amanhã, será voltar aqui a toda pressa.”

Mas Nossa Senhora disse a Juan:

“Por favor, preste atenção a isso espero que fique bem gravado em seu coração, filho meu, o mais querido: Não é nada o que te assustou, te afligiu. Que não se altere teu rosto e teu coração. Por favor, não tema esta doença, ou nenhuma outra ou dor que possa entristecer. Acaso não estou eu aqui, eu que tenho a honra de ser sua mãe? Acaso não está sob meu manto, a minha sombra, e sob meu amparo, minha proteção? Acaso não sou eu a fonte de sua alegria? Não está você em meu colo, no cruzamento dos meus braços? Ainda têm necessidade de mais alguma outra coisa? Por favor, que já nenhuma outra coisa te perturbe, espero que não te angustie a doença do seu honrado tio: de modo algum ele morrerá dela agora. Te dou a plena certeza de que já sarou.” 

Exatamente nessa hora, na casa de Juan Diego, seu tio ficou curado. Juan não tinha como saber disso, porém, apenas ouviu Nossa Senhora, acreditou, se consolou e se alegrou em seu coração. E suplicou a ela que lhe enviasse imediatamente como mensageiro até o Bispo, para levar o sinal para que ele acreditasse. Nossa Senhora disse a ele que subisse no pico do cerrito, de Tepeyac, que o sinal estaria na pequena planície, ela disse:

“Suba, meu querido filho, até o morro onde você me viu e eu lhe dei ordens. Lá você verá que estão semeadas várias flores: corte-as, junte-as. Então as traga aqui para mim.” 

Imediatamente Juan Diego subiu o morro e, ao chegar ao cume, ficou mudo de espanto com as flores variadas, excelentes, maravilhosas, todas espalhadas, cheias de botões estourando, quando ainda não era a hora de aparecerem. Porque na verdade as geadas estavam muito fortes. Seu perfume era intenso e o orvalho da noite parecia cobri-las de pérolas preciosas. Imediatamente ele começou a cortá-los, juntou-as todas, encheu com elas sua tilma.

E note que o topo da colina não é um local onde crescem flores. O que cresce por lá em abundância são somente cardos com suas folhas espinhentas, cactos, arbustos e alguma erva daninha. E era o mês de dezembro onde tudo é aniquilado pelo gelo.

Feliz da vida, Juan desceu trazendo à Rainha dos Céus as diversas flores que tinha ido colher. Ela, ao vê-las, teve a gentileza de pegá-las em suas mãozinhas e, gentilmente, voltou para colocá-las na tilma de Juan. Disse:

“Querido filho, estas flores diferentes são a prova, o sinal que você levará ao Bispo. Em meu nome você dirá a ela para, por favor, ver meu desejo nela e, com isso, execute meu desejo, minha vontade. E você… A você dei plenos poderes, já que depositei toda a minha confiança em você. E, com todo o rigor, ordeno-te que só exclusivamente diante do Bispo abra a sua tilma e lhe mostres o que está levando nela. E você vai contar a ele detalhadamente como eu lhe disse para subir o morro para cortar as flores, e tudo o que você viu e admirou. E com isso você moverá o coração do Grande Sacerdote para que interceda e se faça, se erga meu templo que tenho pedido.”

Juan se despediu de Nossa Senhora e foi muito feliz pela estrada, para o México, confiante que, desta vez, tudo daria certo. Ia tomando muito cuidado com as flores em sua tilma, para que nada caísse, extasiado com o perfume das flores, tão diferentes e maravilhosas.

E quando chegou ao palácio episcopal, o mordomo e até outros servos do Bispo saíram ao seu encontro. Ele implorou que lhe dissesse que queria vê-lo, mas ninguém concordou, não quiseram prestar atenção nele. Ainda não tinha amanhecido e disseram que o Bispo estava dormindo, achando que aquele índio só aparecia para incomodar, era insuportável aparecer numa hora daquelas.

Juan então esperou. E esperou muito tempo segurando sua tilma com cuidado, de cabeça baixa, sem fazer nada. Até que perceberam que ele tinha algo em sua tilma e se aproximaram para ver o que ele carregava e, quando Juan Diego viu que era impossível esconder deles o que carregava e que por isso iriam maltratá-lo, mostrou-lhes um pouco que eram flores. Ficaram muito maravilhados, ainda mais quando viram como eram frescas e sentiram o seu perfume e tentaram roubá-las mas não conseguiram, porque quando tentaram agarrá-las já não viam as flores, mas viam-nas como pinturas, como bordados ou aplicações na tilma. Com isso, foram imediatamente contar ao Bispo que quis ver Juan Diego.

Imediatamente o levaram para casa e, quando entrou, prostrou-se diante do Bispo. E novamente, e com todo respeito, contou-lhe tudo o que tinha visto, admirado e sua mensagem. E concluiu dizendo:

“Quando cheguei ao topo da pequena montanha, fiquei emocionado: estava no paraíso! Ali foram reunidas todas as flores preciosas imagináveis, de qualidade suprema, coalhadas de orvalho, resplandecentes, de modo que eu – entusiasmado – comecei imediatamente a cortá-las. E dignou-se conceder-me a honra de vir entregá-las ao Senhor, que é o que faço agora, para que nelas veja o sinal que pediu, para que possa colocar tudo em execução. E para que fique evidente a verdade da minha palavra, da minha embaixada. Aqui estão eles, dê-me a honra de recebê-los!”

Juan Diego, em pé, desdobrou sua tilma branca, em cujo meio carregava as flores. E assim, ao mesmo tempo que se espalharam as diversas flores preciosas pelo chão, apareceu a venerada imagem da sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, impressa na tíbia de Juan. E assim que o Bispo a viu, todos os que ali estavam, ajoelharam-se maravilhados. Depois de um primeiro momento de emoção, levantaram-se para vê-la melhor, profundamente comovidos. O Bispo, com lágrimas, implorou a Nossa Senhora que o perdoasse por não ter executado imediatamente a sua santa vontade. E levantando-se, desatou do pescoço de Juan o manto e, imediatamente, com grande respeito, carregou-o e deixou-o instalado em seu oratório. Juan Diego passou um dia inteiro na casa do bispo e teve o prazer de ficar com ele contando tudo de novo o que viu e ouviu da Virgem Maria. No dia seguinte, o Bispo disse a Juan:

“Vamos! para que você possa mostrar onde é a vontade da Rainha do Céu, que erga seu pequeno templo.”

Então o Bispo contou a todos os católicos que se prontificaram ajudar a levantar a nova Igreja.

E você pensa que acabou?

Juan Diego, depois de ter mostrado onde a Senhora do Céu ordenou que construíssem o seu pequeno templo, pediu-lhes então licença. Ele ainda queria ir para casa ver seu tio Juan , que havia deixado doente em casa. Pense na alegria quando o encontrou perfeitamente curado e feliz. O tio Bernardino lhe contou que viu a Virgem Maria que veio curá-lo. E que ela lhe pediu que também fosse até a cidade para ver o Bispo e lhe contar o que tinha visto, quão maravilhosamente se dignou curá-lo e que concedesse, como favor, que sua preciosa imagem fosse chamada precisamente como a “Sempre Virgem Santa Maria de Guadalupe”.

E porque será que Nossa Senhora queria ser conhecida como Nossa Senhora de Guadalupe?

Uma antiga história oral, isto é, que foi contada de pai para filho, narra que quando São Lucas evangelista morreu, uma imagem de Nossa Senhora, que lhe pertencia, foi enterrada ao seu lado.

Depois foi transportada com seus restos mortais da Acaia, Ásia Menor, para Constantinopla no século IV. De lá, o Cardeal, São Gregório, quando foi eleito Papa no ano 590, levou a imagem para Roma. Depois, o papa a entregou ao arcebispo da cidade de Sevilha, São Leandro e a imagem foi transferida de Roma para Sevilha, passando a ser venerada na matriz  até o início da invasão árabe em 711. Por volta do ano 714, alguns Padres fugidos de Sevilha levaram a imagem consigo e algumas relíquias de Santos mas, com receio de serem capturados e devem ter sido, pois não voltaram para buscar, esconderam a imagem nas margens do rio Guadalupe, perto da encosta sul da serra de Altamira, nos vales de Las Villuercas.

“Guadalupe” são duas palavras árabes, juntas, que significam “rio do lobo”. Essa palavra apareceu na Espanha pela primeira vez, dando o nome de um rio e, depois, a um povoado ao seu redor.

A imagem ficou desaparecida por 600 anos e só foi encontrada em 1326, pelo pastor Gil Cordeiro, com orientação da própria Nossa Senhora que lhe apareceu e mostrou onde estava enterrada. A imagem foi colocada na igreja de Guadalupe, uma pequena ermida pobre e humilde, guardada nos primeiros anos pelo Padre Pedro García (1330), despertando grande devoção no povo daquela região, que passou a chamar a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.

O rei Afonso XI ouviu os relatos milagrosos que se contavam da Virgem de Guadalupe e encomendou-se à ela antes da famosa Batalha do Salado, do qual saiu vitorioso apesar da inferioridade numérica das suas tropas. Agradecido, fez uma peregrinação até Guadalupe e concedeu à sua humilde igreja as rendas que permitiram a construção do santuário. Dom Alfonso XI em 1340, o distinguiu como Real Mosteiro de Guadalupe, o entregando à Ordem de São Jerónimo. O santuário está situado na vila de Guadalupe, província de Cáceres, Estremadura, na Espanha. O próprio Cristóvão Colombo esteve no monastério, antes e depois de sua viagem à América, para consagrar a Nossa Senhora suas especializações e, depois, agradecer a ela.

A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe é “Theotókos” (mãe de Deus), pois ela traz o menino Jesus no braço esquerdo e um cetro na mão direita. De madeira, perdeu suas cores originais e está enegrecida, provavelmente pelo tempo que passou enterrada e incensada por velas nas centenas de anos de veneração.

A palavra “Guadalupe” não significava nada para os índios astecas do México, mas significava muito para os freis, missionários espanhóis que estavam no México, significava muito para o Bispo, Dom Juan de Zumárraga, que nasceu em Durango, na província de Biscaia da Espanha. O índio Bernardino ouviu pela primeira vez a palavra “Guadalupe” da boca da Virgem, mas o Bispo, que já conhecia bem a história de Nossa Senhora de Guadalupe, não teve mais nenhuma dúvida de que se tratava de Nossa Senhora.

E Juan Diego?

Juan Diego passou a ficar o dia todo na ermida e as pessoas o procuravam para pedir que levasse a Nossa Senhora seus pedidos, o que Juan fazia, além de nunca desperdiçar a oportunidade de narrar seu maravilhoso encontro com a Virgem de Guadalupe. O povo simples o reconhecia e o venerava como um verdadeiro santo e os índios o usavam como modelo para seus filhos. O povo passou a chamá-lo de “Homem Santo”. E assim viveu Juan Diego, feliz da vida, servindo a sua “Virgencita”, até os seus 74 anos de idade, quando Nossa Senhora veio buscá-lo para estar junto a Seu filho Jesus, para sempre no Céu, no 30 de maio de 1548. Juan Diego foi canonizado, isto é, reconhecido como Santo pela Igreja Católica em 31 de julho de 2002 pelo Papa João Paulo II… O primeiro índio asteca Santo, que orgulho para seu povo!

E a “casita” de Nossa Senhora?

Primeiro, a gente já sabe, foi construída uma ermida, que é uma pequena igrejinha. Mas logo precisaram construir uma igreja maior que recebeu o nome de “Templo Expiatório a Cristo Rey”. Como o povo era pobre e ajudou a construir, começou a ser levantada em 1531 quando Juan Diego ainda vivia e só foi concluída em 1709. Muito tempo depois, em 1904, o Papa Pio X a consagrou como Basílica.

Acredita que em 1921, os socialistas, os mesmos que perseguiram e mataram os Sacerdotes do México, explodiram uma bomba na Basílica?! Mas o Céu protegeu o manto desse ataque do inferno e não conseguiram o destruir.

O Papa Leão XIII coroou Nossa Senhora de Guadalupe, em 1875, como rainha do México.

Ao lado dessa Basílica, foi inaugurada, em 1970, uma muito maior em uma grande festa, pois 20 milhões de pessoas, do mundo inteiro, a visitam todos os anos para conhecer a pintura que não foi feita por mãos humanas e, para ali, fazer o que Nossa Senhora pediu: adorar o Seu filho Jesus.

O Papa Pio XII no dia 12 de outubro de 1945 deu a Nossa Senhora de Guadalupe a missão de padroeira de toda América Latina e, todo dia 12 de dezembro, o México católico festeja Nossa Senhora de Guadalupe.

 

Fonte:

https://virgendeguadalupe.org.mx/el-relato/

https://monasterioguadalupe.com/

E a história mudou de figura… Saiba o que aconteceu assistindo o “Amigos do Céu”

A alguns anos atrás, quando eu ainda morava na Missão Canção Nova de Aracajú, em 2001, gravei a história do índio Juan Diego para o Cantinho da Criança, detalhe: meu marido Júlio fez a voz do Véio Cajú… Eheheh. Assista ai´…

 

 

Quer colorir o meu desenho de Nossa Senhora de Guadalupe? Legal! É só clicar nele para ampliar…

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