O Sorriso que mudou uma vida

O conde de Bruissard era um homem sem religião e, por falta do que fazer, foi a Lourdes a fim de conhecer Bernadette Soubirous, queria desmascarar a menina que dizia ter visto a Virgem Maria. O que ele não esperava era que encontraria no sorriso de Bernadete, o amor de Nossa Senhora que mudaria toda a sua vida…

O conde queria ter uma história divertida para contar aos amigos, dizia: “Vou pegar a pequena numa mentira descarada.” Era o mês de julho de 1858.

A menina que o conde encontrou era bem diferente da que imaginava, Bernadette era discreta e, embora pobre, muito educada e inocente. A sua simplicidade e autoconfiança logo o perturbou, não era popularidade que ela queria. Seria dinheiro? Mas soube pelos moradores dali que Bernadette recusava com horror quando as pessoas tentaram colocar dinheiro em suas mãos e quando pediam a ela para abençoar seus rosários, respondia: “Eu não tenho uma estola roxa.” Soube que quando um bispo veio lhe visitar ofereceu para trocar seu rosário montado em ouro pelo dela, ela agradeceu, mas disse com firmeza que ela preferia o seu próprio.

Eis o que o conde veio contando de Bernadette…

“Estava eu em Cauterets, conta-nos ele, no momento em que se falava tanto das aparições. Não acreditava mais nestas aparições do que na existência de Deus. Era um libertino e, mais do que isto, era um ateu. Tendo lido em um dos nossos jornais que Bernadette tivera uma aparição, no dia 16 de julho, e que a Virgem lhe sorria, resolvi ir a Lourdes, por curiosidade, e tomar a menina em uma flagrante mentira. Dirigi-me à casa dos Soubirous, e lá encontrei Bernadete no limiar da habitação, consertando um par de meias pretas. A mim Bernadete pareceu bastante comum. Entretanto, o seu aspecto sofredor tinha uma certa doçura. A meu pedido ela me contou as suas aparições com uma simplicidade e segurança que me impressionaram. Enfim, perguntei-lhe eu: “Como é que esta bela Senhora sorria?” A jovem pastora olhou-me com certo espanto e, após um momento de silêncio, assim falou: “Oh! senhor, para reproduzir esse sorriso, seria preciso ir até ao céu.” Eu disse: “E não poderíeis vós reproduzi-lo para mim?” Sou um incrédulo, e não creio em vossas aparições.” O semblante da jovem anuviou-se, e tomou uma expressão severa, disse-me: “Então, o Senhor julga-me uma mentirosa?” Senti-me desarmado. Não, Bernadete não era mentirosa, e quase que me pus de joelhos a pedir-lhe perdão. Bernadette disse: “Já que sois um pecador – respondeu ela – eis qual foi o sorriso da Virgem.” Lentamente, a jovem levantou-se, juntou as mãos e esboçou um sorriso celestial que jamais eu vi em lábios mortais. Sua fisionomia iluminara-se de um reflexo perturbador. Ela ainda sorria, com os olhos elevados ao céu, e eu estava de joelhos aos seus pés, certo de ter admirado no semblante da vidente o sorriso da Santíssima Virgem. Desde então conservo comigo no íntimo da alma esse sorriso divino. Durante os anos seguintes, essa lembrança secou muitas de minhas lágrimas: perdi minha mulher e minhas duas filhas, e não me pareceu estar só no mundo, vivo com o sorriso da Virgem, eu vivo com o raio de luz que ilumina e embeleza as ruínas da minha existência”.

O conde de Bruissard, já idoso, podia ser encontrado aos pés da gruta de Massabielle, onde Nossa Senhora apareceu a Bernadete, testemunhando sua conversão a quem lhe perguntasse, com gentileza a um semblante ainda iluminado pelo sorriso da virgem.

(Fonte: “Le Triomphe de Lourdes”, 5ª ed., Victor-Havard Éditeur, 168, Boulevard Saint-Germain, Paris, 1893, 366. Páginas 119 e ss.)

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