A esperança não decepciona

Olá, meus irmãos. Sejam bem-vindos ao Tempo da Quaresma! É uma alegria poder chegar até você através destas palavras. Leiamos Romanos 5, 5-8: “Ora, a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, foi então, no devido tempo, que Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa, talvez alguém ouse morrer. Deus, contudo, prova o seu amor para conosco, pelo fato de que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores”. 

O tempo que estamos celebrando, o Tempo da Quaresma, “visa preparar a celebração da Páscoa”1. Não tem, portanto, um fim em si mesmo. Analogamente, assim como a foz de um rio do tipo estuário, “que é constituída por um longo canal de forma afunilada, ou seja, na medida que o rio se aproxima do mar suas margens tornam-se cada vez mais próximas uma da outra, formando uma passagem única e direta”2, o tempo quaresmal, ao longo das semanas que vão como que se afunilando, nos conduz ao grande mar da Páscoa, “a maior das solenidades”3. Este tempo é de grande importância. Ele é como que uma figura da vida humana, toda ela se desenrola, por assim dizer, em direção a uma páscoa definitiva. “Quando irei, diz o Salmista, e estarei ante a face de Deus?” (Sl 42, 3). Irmãos e irmãs, não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir; ela está nos céus, de onde também esperamos ansiosamente como Salvador o Senhor Jesus Cristo; a Cidade Santa, a Jerusalém nova (cf. Hb 13, 14; Fl 3, 20; Ap 21, 2). 

Diante disso podemos perguntar: o modo como nos preparamos para a Solenidade da Páscoa reflete o modo como nos preparamos para nossa páscoa definitiva? Em outras palavras, estamos prontos para a morte? Estamos prontos para encontrar o Senhor? Leiamos o testemunho do sacerdote brasileiro Lucas Perozzi Jorge, que vive em Kiev desde 2004, cidade ucraniana atingida pelas forças armadas russas: “Estamos vivendo cada dia como se fosse uma Páscoa, como se hoje tivéssemos que morrer”4. Irmãos, à luz do mistério pascal de Cristo, de sua morte e ressurreição, o sentido da morte nos é revelado. Nele repousa nossa única esperança5. “E a esperança, diz-nos São Paulo, não decepciona” (Rm 5, 5).  O Apóstolo adverte ainda: “Se temos esperança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (1Cor 15, 19), estaríamos vivendo uma ilusão. “Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram” (1Cor 15, 20). O padre Lucas Perozzi Jorge disse ainda: “(…) a ressureição é o que me mantém em pé, porque se não existisse a ressurreição, não teria sentido estar aqui. Não é se eu acredito, eu estou plenamente convencido na ressurreição dos mortos, isso é o que me permite estar aqui”6.

Peçamos ao Senhor a graça de que, ao longo desta quaresma, possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo e corresponder a seu amor por uma vida santa7. Que seja nossa a oração do salmo: “meu coração está pronto, meu Deus, está pronto o meu coração!” (Sl 57, 8).

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1 EDIÇÕES CNBB. O ciclo anual: O Tempo da Quaresma. In: EDIÇÕES CNBB. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. 7a. ed. rev. [S. l.]: Edições CNBB, 2018. cap. O Ano Litúrgico, p. 164. ISBN 978-85-60263-36-3.

2 HERMUCHE, Potira Meirelles. O Rio de São Francisco. [S. l.: s. n.], 2002. 60 p. Disponível em: https://cdn.agenciapeixevivo.org.br/media/2019/06/Cartilha-sobre-o-Rio-São-Francisco.pdf. Acesso em: 6 mar. 2022.

3 Sacrosanctum Concilium, n. 102.

4 FRACCALVIERI, Bianca. “Estamos vivendo cada dia como se fosse uma Páscoa”, afirma padre brasileiro em Kiev. “Estamos vivendo cada dia como se fosse uma Páscoa”, afirma padre brasileiro em Kiev, [s. l.], 2 mar. 2022. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2022-03/padre-brasileiro-kiev-ucrania-pascoa-lucas-perozzi-jorge.html. Acesso em: 6 mar. 2022.

5 cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1681.

6 Ibidem, n. 4.

7 cf. Oração do dia no 1o Domingo da Quaresma.

 

Marcus Lemos – Segundo Elo – Canção Nova Aracaju

Marcus Lemos é missionário na comunidade Canção Nova, vivendo seu segundo ano de consagração. Natural de Aracaju/SE, é casado com a missionária Nathalie Fontes, trabalha no setor de Educação a Distância (EaD) de um Grupo Educacional, é formado em Gestão da Tecnologia da Informação.

 

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