"Vi o Senhor" (Jo 20, 18).

Maria estava junto ao sepulcro, de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para o interior do sepulcro e viu dois anjos, vestidos de branco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira e o outro aos pés. Disseram-lhe então: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Ela lhes diz: “Porque levaram meu Senhor e não sei onde o puseram!” Dizendo isso, voltou-se e viu Jesus de pé. Mas não sabia que era Jesus. Jesus lhe diz: “Mulher, por que choras? A quem procuras?” Pensando ser o jardineiro, ela lhe diz: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o puseste e eu irei buscar!” Diz-lhe Jesus: “Maria!” Voltando-se, ela lhe diz em hebraico: “Rabbuni!”, que quer dizer: “Mestre”. Jesus lhe diz: “Não me toques, pois ainda não subi ao Pai. Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus”. Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor”, e as coisas que ele lhe disse (Jo 20, 11-18).

Olá, querido e amado irmão! Seja muito bem-vindo a mais um artigo em nosso blog. Estamos na quarta semana do Tempo Pascal e, sob o impulso do acontecimento central de nossa fé santíssima, proponho para nossa meditação o trecho acima, retirado do evangelho segundo São João.

O Apóstolo que reclinou sua cabeça no peito do Mestre1 emprega aqui o verbo ver, que no original grego tem sentido mais profundo do que simplesmente ver com olhos humanos, é um ver de quem fez uma profunda experiência. É ver para além do que simplesmente a razão pode captar, perceber. É possível dizer: é ver pela fé. De fato, disse com acerto o Apóstolo Paulo: “caminhamos pela fé e não pela visão…” (2Cor 5, 7). Os que caminham pela fé viram o Senhor. Esta compreensão é fundamental para nosso progresso espiritual e humano. Existem muitas pessoas paralisadas na vida porque não “viram o Senhor”. Porque não fizeram uma experiência com o Ressuscitado! Estão sempre a ruminar o passado negativo que tiveram, colocar a culpa em terceiros etc. Ao contrário, os que “viram o Senhor”, abrem asas como as águias, correm e não se esgotam, caminham e não se cansam (cf. Is 40, 31), e porque? Porque os que “viram o Senhor” depositam nEle sua esperança. Aleluia!

Recordo-me, com emoção, do acampamento de carnaval de 2015, em nossa casa de missão em Aracaju. Era noite, estávamos numa adoração ao Santíssimo Sacramento, Ele parecia olhar para mim, olhar só para mim. Naquela noite, não tenho dúvidas, “vi o Senhor”. Obviamente não com os olhos da carne, mas pela fé. Por mais que fizesse uso dos mais avançados recursos de redação, creio que eu não conseguiria descrever por completo a experiência daquela noite. O que sei é que “vi o Senhor”. Que fiz uma experiência profunda de seu amor. Amados, que Deus me livre de um dia abandoná-lo e voltar à vida velha, mas mesmo nela, creio, teria a certeza no fundo do coração de que um dia experimentei o amor de Deus. Diz o Salmo: “para onde irei, longe do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se eu subir ao céu, lá tu estás; se descer ao Xeol, estás presente. Se eu tomar as asas da aurora, para habitar nas extremidades do mar, também ali me alcançará tua mão, e a tua direita me segurará” (Sl 139, 7-9). Antonio Royo Marín, O.P., ensina que podemos distinguir até cinco presenças de Deus. Dentre elas, a “presença por imensidade”. “Um dos atributos de Deus é sua imensidade, em virtude da qual Deus está realmente presente em todas as partes, sem que possa existir criatura ou lugar algum onde não se encontre Deus. E isto por três capítulos: por essência, por presença, por potência” 2. Até aqui é o suficiente. Quem sabe retornemos a estes pontos em outra oportunidade. Queridos, porque estou lhes dizendo tudo isso? Para tentar explicar a profundidade da expressão usada por Madalena. Ela viu o Senhor, isto é, fez uma verdadeira experiência com o Ressuscitado. Esta experiência a fez correr para anunciar a seus irmãos. Imagino a geografia daquele lugar, certamente com muitas pedras, muitas subidas e descidas, e Maria a correr, segurando o vestido para não prender em suas sandálias, chega ao local onde estavam os discípulos e, ofegante, diz ter visto o Senhor. Isso mudou para sempre sua vida e a vida daqueles que receberam esta boa nova.

E você, querido leitor, qual foi o dia que você “viu o Senhor”? Não sabe? Peça ao Espírito Santo, pois nos ensina a Igreja que “para estar em contato com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo” 3.

Deus seja louvado!

 

1 – Jo 13, 25.

2 – O.P., FR. Antonio Royo Marín. O Espírito Santo em nós. In: O.P., FR. Antonio Royo Marín. O GRANDE DESCONHECIDO: O Espírito Santo e seus dons. 1. ed. São Paulo: Ecclesiae, 2017. cap. VI, p. 94.

3 – Catecismo da Igreja Católica, no 683.

Marcus Lemos – Segundo Elo – Canção Nova Aracaju

Marcus Lemos é missionário na comunidade Canção Nova. Natural de Aracaju/SE, é casado com a missionária Nathalie Fontes, trabalha no setor de Educação a Distância (EaD) de um Grupo Educacional, é formado em Gestão da Tecnologia da Informação.

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