Vigilância Interior

 

Tentemos encarar este pequeno desafio: interpelar um homem e sacerdote, tão distante no tempo, como cura d’Ars, a respeito da vida e da missão do padre de hoje.

            Gostaria de perguntar ao Cura d’Ars como um pároco de hoje deveria se comportar em relação a quem participa pouco ou quase nade da liturgia e da vida da Igreja. Talvez, ele me responderia mais ou menos assim: No meu tempo,as paróquias eram menores – a minha era bem pequena – e nós, párocos, ficávamos alai por muito tempo, até mesmo por toda vida. Era mais fácil, para nós conhecer pessoalmente todos os paroquianos e, por isso, as palavras que lhes dirigíamos não eram mensagens para estranhos: podiam ser feitas listas longas e profundas. Pra vocês, padres de hoje, é muito diferente, mas há um conselho que lhes gostaria de dar da mesma forma. Na formação – tão diferente daquela de vocês – os superiores insistiam em fazer atenção ás “paixões” desordenadas da alma. Na minha longa experiência de confessor, sempre constatei dolorosamente que as pessoas cometem muitos erros e pecados quando não têm consciência daquilo que acontece no seu intimo: olham para fora e vêem injustiças, maldades, provocações… Que, talvez, existem, mas parecem multiplicadas pelas suas paixões. Pergunte-se: tenho certeza de não me sentir inferior ou – como vocês dizem – esnobado pelos seus paroquianos que não vão a Igreja? Você lamenta por eles ou por si?

 

            Se quiser exercer a caridade pastoral, não deve agir com cólera. Pelo contrario, coloque diante do senhor, na oração, seus sentimentos de inadequação e insegurança, sua necessidade de ser reconhecido e apreciado. O senhor o  chamou, o conhece e o aprecia e , certamente, entre seus paroquianos, há muitos que o estimam e lhe querem bem. Agora olhe, com os olhos do senhor, aqueles paroquianos que quase sempre vivem longe da igreja: é para eles que o Filho de Deus se fez homem; por amor a eles, derramou seu preciosismo sangue. Infelizmente, nunca fui bom na sagrada eloqüência. Já no fim da minha vida terrena, nem conseguia mais dizer uma só palavra: ao ver meus paroquianos, meus olhos se enchiam de lagrimas e me dava um nó na garganta. Conseguia apenas olhar para eles, enquanto chorava, e eles entendiam que eu os estava olhando com os olhos do senhor e se arrependiam dos seus pecados.

 

            Queria responder-lhes que não sou santo como ele e não é fácil para mim seguir seus conselhos.Entretanto, compreendo que ele tem razão: a palavra que eu pronunciar do púlpito, para ser eficaz, deveria nascer do amor pelas pessoas que me foram confiadas, não pela cóleras ou pela frustração. Tantas coisas mudaram desde o tempo do Santo Cura d’ Ars, mas o espírito humano é sempre o mesmo e a vigilância interior nos revela,aos poucos, os seus segredos.

 

 

 

 

 

 

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