A figura emblemática de Pedro
Atualmente existem muitas igrejas cristãs que desprezam o catolicismo por diversos motivos, um deles devido à figura do papa. Dizem que o fundamento bíblico sobre a figura de Pedro no evangelho é insuficiente para demonstrar que a sucessão petrina não é divina, mas humana. Alguns inclusive afirmam ser o papa, a besta do Apocalipse. Enfim, é preciso um esclarecimento sobre uma realidade tão emblemática no meio cristão. O que proponho nesta reflexão poderia ser apresentado de forma muito ampla, contudo trata-se de uma exposição sintética para gerar no leitor a curiosidade de descobrir por si mesmo a verdade.
O título papa é utilizado para indicar o bispo de Roma como o principal bispo da Igreja Católica. O título “papa” no primeiro milênio era utilizado por bispos, sacerdotes e abades. Com a separação das Igrejas no segundo milênio o título recebeu uma conotação jurídica e foi atribuído ao bispo de Roma.
Diante desse dado surge uma pergunta: como era conhecido, no início da era cristã, o bispo de Roma? A resposta é: os cristãos chamavam o bispo de Roma de “sucessor de Pedro” ou “vicário”.
Cresce cada dia mais no âmbito das ciências bíblicas, o reconhecimento da importância do ministério de Pedro no Novo Testamento. Pedro aparece como uma figura de união entre os crentes de origem judaica e com os de língua grega. Ele é a primeira testemunha da ressurreição. Nos escritos aparece como líder e apóstolo universal, reconhecido por todas as comunidades cristãs. O ministério de Pedro, na origem do cristianismo, foi reconhecido como algo querido pelo próprio Cristo.
Cresce também, o consenso no qual o apóstolo Pedro sofreu o martírio em Roma, embora possa não ter sido o primeiro bispo nesta cidade. Contudo, ao se estabelecer em Roma destaca-se como apóstolo universal. Ou seja, como alguém que exerce uma influência em toda a Igreja.
Os autores cristãos dos primeiros séculos manifestam com unanimidade a influência do ministério de Pedro, ou seja, da sucessão do apóstolo Pedro em Roma e toda Igreja. Algo que demonstra que não se trata apenas da pessoa do apóstolo que morreu, mas de algo maior, de uma autoridade presente na Igreja dotada do mesmo dom dado a Pedro. Na Igreja antiga o sucessor de Pedro possuía uma forte influência nas questões doutrinais e disciplinares na Igreja, com ele estava a última palavra quanto as questões doutrinais. Ao mesmo tempo, a igreja de Roma era um centro de intercâmbio entre todas as igrejas orientais, inclusive assistências e econômicas. Com o término das perseguições no século III o Papa recebeu ainda mais autoridade no Império Romano. A literatura cristã do século IV desenvolveu a teologia do ministério petrino, reforçando o elo entre a figura de Pedro e de seu sucessor, o bispo de Roma.
A cisão que houve no segundo milênio (1054) entre a Igreja de Roma e igrejas orientais, formaram a visão atual sobre a figura do Papa. De fato, no segundo milênio o bispo de Roma também se tornou um rei, um monarca que detinha influências civis e religiosas em todo o Ocidente. Nesse contexto, surgiu a figura dos cardeais da Cúria romana com suas Congregações, dos núncios.
Lutero e a Contrarreforma propuseram uma autonomia na vivência cristã semelhante à do primeiro milênio. Contudo, as igrejas se tornaram menos autônomas e a figura do papa monárquico mais centralizador.
A consciência católica diante do ministério petrino foi revigorada há poucos anos com o Concílio Vaticano II (1961-1965). A partir de então no interior da Igreja, desenvolve-se uma restauração da figura do papa como um promotor da comunhão entre todos os bispos católicos.
Jesus disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Como teólogo e biblista, sei que Jesus não deseja a separação entre os membros de seu corpo. Ele mesmo disse: “que sejam um, é o que quero mais”. A nossa divisão é o que impede a muitos de crerem em seu nome. Independente de ser católico ou membro de outra comunidade eclesial saiba que unidade não é fusão. Lembro-me quando morava em Israel, certa vez peguei um taxi e o taxista era cristão. Eu lhe perguntei: Qual igreja você pertence? Ele me respondeu: aqui não nos preocupamos se um cristão é católico, armeno, grego, copta, para nós basta dizer: sou cristão, pois as nossas diferenças não são para nós barreiras que nos separam.
Leandro César
Mestre em Sagrada Escritura