Monsenhor Jonas nos ensina no livro “Agora meus olhos te viram” que “Adorar é devolver os direitos que Deus tem sobre nós.”
Deus tem os direitos sobre nós, Ele é o Senhor da nossa vida, da nossa história do nosso futuro. Existe um local dentro de nós que pertence à Ele e que só pode ser Dele. Ele deve ocupar o primeiro lugar na nossa vida, Ele deve estar acima de qualquer pessoa, de qualquer situação porque Ele é o Senhor.
Deus tem direito sobre mim, Deus tem direito soberano sobre mim!
Ele tem direitos, mas Ele não reclama esses direitos à ferro e a fogo, ele deixa cada um livremente escolher e dar a permissão para que Ele se estabeleça como primeiro, como Senhor, como Aquele que de fato tem direito sobre nós, Ele não impõe, Ele propõe, Ele espera a nossa resposta, a nossa adesão.
E essa é a verdadeira guerra daqueles que adoram o Senhor: devolver à Ele aquilo que Ele tem direito, que é a minha pessoa, a minha vida, a minha história, permitir que de fato, Ele seja o Senhor.
É uma iniciativa de Deus, mas requer a nossa participação, a nossa resposta. Da mesma forma como Deus me criou sem minha participação, Ele não me salvará sem minha participação. É dom e tarefa! E essa é a luta que precisamos travar todos os dias, que durará toda a nossa vida até o dia em que estaremos diante Dele.
E contra quem é a minha guerra?
Existe sim uma luta contra o inimigo de Deus, mas essa guerra nós sabemos que temos que enfrentar todos os dias. A guerra que estou falando é a guerra contra nós mesmos, nós somos os únicos que podemos, com nossas escolhas, nos separar do Senhor, nós somos inimigos de nós mesmos.
Na adoração está presente o desejo de finalmente nos libertarmos de nós mesmos, para que possamos estar presos nas mãos de Deus, precisamos declarar guerra à nós mesmos, guerra ao homem velho e à mulher velha que existe dentro de nós.
Cardeal Van Thuan dizia que quando encontramos o Senhor nos entregamos à Ele, e fazemos qualquer coisa por Ele, mas ele diz também, que se a gente se descuidar a gente toma de Deus tudo aquilo que a gente entregou e nos tornamos dez vezes pior.
Essa é a verdadeira guerra que travamos todos os dias: a guerra de permanecermos nesse caminho de contemplação do rosto do Senhor, uma contemplação que nos transforma Nele, Naquele que nós contemplamos. Todos os dias precisamos contemplar o rosto do Senhor.
Não descansarmos enquanto não contemplarmos o rosto Daquele cuja vós nós escutamos: Vem e segue-me!
São Pedro também nos diz que o diabo é como um leão procurando a quem devorar todos os dias, essa é a batalha que enfrentamos.
Por isso, precisamos todos os dias adorar. Muitas pessoas não entendem infelizmente, que adorar a Deus não é somente estar diante do Santíssimo Sacramento, tem pessoas que tem esse conceito, é um conceito reduzido, adorar à Deus é muito mais que isso!
Claro que nós precisamos nos prostrar diante de Jesus na Eucaristia, mas adorar à Deus não é só isso, é amar a Deus, é devolver à Ele aquilo que Ele tem direito e Ele tem direito soberano sobre nossa vida, porque Ele nos salvou com seu sangue, nos resgatou e o preço desse resgate foi sua vida na cruz. Ele tem direito sobe nós!
Na medida que vamos conformando nossa vida na vida Dele, damos à Ele a oportunidade de ser glorificado e se adorar é amar a Deus e devolver à Ele esse direito que Ele tem sobre nós, todos nós somos adoradores, porque Ele imprimiu isso em nós.
No Evangelho de Lucas 9,23: “Em seguida, dirigiu-se a todos: Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salva-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vem a perder-se a si mesmo e se causa a sua própria ruína?”
Pouco antes dessa passagem , São Lucas nos conta o episódio da multiplicação dos pães e a partir desse milagre, as pessoas insistiam em continuar atrás de Jesus, mas por causa do milagre, não por causa do que Ele é de fato.
Buscar a Deus pelo que Ele é não pelo que Ele pode realizar.Muitos de nós procuramos a Deus por causa das curas que queremos que Ele realize, nos esquecendo de buscá-lo por aquilo que Ele é.
Não tem coisa pior do que ser usada pelos outros, quantas vezes fomos buscados por aquilo que poderíamos fazer?
Ele é Deus e precisa ser buscado pelo que Ele é, não pelo que Ele pode fazer, o que Ele pode fazer é consequência.
Com qual intenção você está aqui, porque que você busca o Senhor?
Em seguida, São Lucas nos conta que Jesus perguntou aos discípulos: “Quem dizem que eu sou?” E depois Ele pergunta aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E Pedro responde: “Tudo és o Cristo o Filho do Deus vivo!”
O coração do adorador entendeu que Deus é Deus, entendeu que se Deus não fizer nada por Ele, Ele não deixará de ser o Senhor.
Mas pra chegar a essa experiência precisamos travar essa luta com a gente mesmo.
Depois desse fato, Jesus anuncia a sua paixão e é rejeitado pelos discípulos, e é isso que nós fazemos muitas vezes a gente rejeita o sofrimento, a gente não quer sofrer. Só que não adianta fugirmos do sofrimento, temos que enfrentá-los. Só teremos a libertação quando tivermos a coragem de enfrentar os sofrimentos.
A gente não enfrenta os sofrimentos sozinhos, Jesus diz: “Eu estou no meio de vós.” Ainda que as pessoas não estejam do nosso lado, mesmo que nós mesmo O abandonemos, Ele não nos deixa só.
E então, depois disso Jesus diz: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo. Negar a si mesmo, não é outra coisa se não ter a coragem de trilhar um caminho de conversão.
Há muita maldade dentro de nós, nós que somos senhores de nós mesmos, achamos que podemos tudo, não queremos ser contrariados, não queremos ser corrigidos e Jesus está dizendo: “Nega-se a ti mesmo!” Conversão, mudança de vida, mudança de mentalidade.
Sempre achamos que os outros estão errados conosco, mas nunca achamos que precisamos melhorar. Sempre achamos que os outros precisam melhorar, mas e eu, onde eu preciso melhorar?
Jesus está dizendo pra nós: “Nega-se a ti mesmo!” Negar a si mesmo é trilhar um caminho que nos dê consciência real de quem nós somos. Sabendo que temos sim, virtudes, qualidades, mas precisamos ter consciência também que temos defeitos, temos maldade.
Precisamos duvidar de nós mesmos, deixar o Espírito nos revelar a verdade sobre nós.
“Nega-se a ti mesmo! Tome sua cruz, dia após dia.” Enquanto não enfrentarmos nossa vida, não experimentaremos mudanças. E isso é no dia-a-dia, na sua família, no seu local de trabalho, na sua comunidade, 50% da nossa cura acontece quando temos coragem de enfrentar a nossa realidade.
Qual é a sua cruz hoje? Assuma! Enfrenta! Jesus não desistiu da cruz!
Até Jesus disse para o Pai: “Se é possível afasta de mim esse cálice, mas contudo, não se faça a minha vontade mas a sua.” Ele tem direito soberano sobre mim!
Isso não te impede de dizer a verdade pra Jesus sobre aquilo que está dentro de você. Você não pode impedir que o sentimento venha, mas pode escolher o que fazer com ele. Seguir Jesus requer coragem.
Tomar a cruz é tomar sua vida nas mãos, não entregá-la a ninguém. Não deixe ninguém escolher por você. Faça você as escolhas certas, tome sua vida em suas mãos.
Depois Jesus vai dizer: “Siga-me!” Pra enfrentar essa minha cruz, pra enfrentar esse processo de conversão que precisa ser diário, eu preciso dessa intimidade com Jesus. Seguir Jesus requer assumir a vida Dele.
“Senhor o que queres que eu faça, o que queres que eu diga?”
Seguir Jesus implica em perguntar pra Ele : “Se o senhor estivesse no meu lugar Jesus, como o Senhor faria, como o senhor agiria.”
A gente vai desaprendendo isso, a gente se encontra com Jesus, nos apaixonamos por Ele, mas esquecemos que precisamos estabelecer essa intimidade com Ele, todos os dias, ao ritmo da vida.
O gesto característico do adorador é prostrar-se. Será que tenho me prostrado diante do Senhor? Diante de quem eu tenho me prostrado? É preciso prostrar-se diante do Senhor, diante da Sua vontade, do Seu querer!
O caminho de Deus é o caminho do serviço, é o caminho da mansidão, do amor, da gratuidade, do perdão.
Quando vamos vivendo o que Ele nos ensinou, vamos devolvendo à Ele o lugar que é Dele na nossa vida. É muito fácil falar que Jesus Cristo é o Senhor, mas é preciso fazer valer o que a gente diz. Seja nas grandes alegrias e vitórias, seja no sofrimento. Ele é o Senhor!
Reconhecer isso, é fruto de quem vive a disciplina de se encontrar com Ele todos os dias, porque pra me transformar Nele, eu preciso contemplá-lo, e essa contemplação é fruto de um caminho gasto, eu preciso ir até Ele, me prostrar diante Dele, escutar sua voz, sua Palavra, saber de fato quem Ele é. Essa é a nossa luta, essa é a guerra e só assim posso dizer que os adoradores são de fato guerreiros.
Ele não nos impõe, mas nos pergunta hoje: Você está disposto?