Anunciação do Arcanjo São Gabriel a Nossa Senhora

A anunciação do arcanjo é talvez a passagem da Bíblia mais conhecida e mais repetida. Na recitação da Ave-Maria, no Ângelus, na recitação do rosário e nas diversas manifestações da arte. A vida cristã carrega no coração e tem como princípio e fim a encarnação do Verbo: o Filho de Deus se fez homem para que nós nos tornássemos filhos e filhas de Deus.

Maria pelo anúncio do Arcanjo se torna símbolo de todo crente e da Igreja Inteira. O que aconteceu nela deve acontecer em cada um e em todos nós: O “sim” da criatura que acolhe e gera o Verbo – que é desde o princípio e no qual tudo tem princípio – é a finalidade da criação.

O mistério narrado no Evangelho de Lucas 1,26-38 pode ser contemplado sob vários aspectos. Vai depender do ponto de vista: pode-se considerar Maria como imagem do crente (aquele que crê), vértice do mundo criado, o resto de Israel, realização das promessas e outros. Mas podemos colocar-nos do ponto de vista do próprio Deus. Lugar mais privilegiado que este para contemplar as criaturas não pode existir. Deste ponto de vista, a encarnação é o encontro querido por Deus desde toda a eternidade, o momento – aquele agora, no sexto mês depois de João Batista – em vista do qual o tempo teve início, coroamento do seu sonho de amor, prêmio de todos os seus esforços, recompensa da sua fadiga. Finalmente – esta é a profundidade da acolhida de Maria – das profundezas da criação que se afastou Dele pelo pecado, se levanta um “sim” capaz de atrair o próprio Deus. E Ele, na pessoa do Filho, vem e se compromete para sempre com a história do homem, que, a partir de então, é indissoluvelmente e fisicamente, história de Deus também.

Anunciacao

Não se pode imaginar a alegria de Deus em poder dizer: “Alegra-te” àquela mulher de nome Maria, que não está no Templo, em Jerusalém, mas em sua humilde casa, em Nazaré, esposa de um carpinteiro, de nome José! Como ele talvez desconfiasse, ela tem, de verdade, outro esposo, um misterioso e desconhecido esposo. Esposo que, depois de tantos reveses, encontrou a esposa de seu coração. O sofrimento do Divino esposo acabou, a tristeza foi embora, pois ele é abraçado por quem Ele ama. A sua oferta de amor finalmente encontrou mãos e braços e corpo que a acolhem. Em Maria, os grandes braços do mundo e o corpo mesmo que o universo contêm, concebem e apertam Aquele sem o qual o ser humano não é humano. Diz-nos Santa Clara de Assis: “O amor é, finalmente amado”.

O amor encontrou uma casa onde morar e a casa do homem encontrou alguém para preenchê-la. Não está vazia, esta cheia da graça. A ausência se faz agora presença. No silêncio fala, irreversivelmente, a Palavra. Assim, a encarnação – que não pode ser desligada da Paixão e Morte – tem um caráter “passional”. Revela, à luz da Cruz, a paixão de Deus. É o inicio do casamento entre Deus e a humanidade. Aquele (Deus) já morre de amor; e a humanidade, em Maria, já se sente irremediavelmente atraída por ele. Este amor será mais forte que a morte (cf. Ct 8,6).

A nossa salvação consiste justamente em tornar-nos, pela graça, como Maria. Nossa vocação e destino é dizer “sim” à proposta de amor de Deus, dar carne em nosso corpo ao Verbo eterno, gerar no mundo o Filho. “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”.

Deus abençoe!
Seu irmão,
Padre Gevanildo Torres
Missionário da Comunidade Canção Nova em Curitiba