Com o tema da primeira colocação “Repensando a minha vida”, neste retiro o Padre Roger Araújo vem trazer a nós a reflexão sobre a passagem do Evangelho de Lucas capítulo 4, versículo 1 – 2.
“Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias.
“Se não vamos ao deserto nós não nos esvaziamos. Jesus estava cheio da graça de Deus, se Ele precisou ir ao deserto por quarenta dias, imagina eu e você. O deserto é necessário para termos o encontro com Deus, encontro uns com os outros e conosco mesmo”.
Nós não nos conhecemos de verdade, quando nos propomos a conhecer como realmente somos nos deparamos com nossas fraquezas, nossos limites. Uma pessoa só é sábia quando conhece a si mesmo, se ela não conheceu a si mesmo ela não conhece nada, é preciso conhecer-se, seus limites, suas carências, suas qualidades. Quando vamos nos encontrar com o outro, passamos um tempo nos arrumando, porque precisamos nos apresentar para o outro, mas na verdade não necessitamos de nada disso, é preciso apresentar-se como realmente é. Diante de Deus nos apresentamos do jeito que viemos e o deserto nos conduz do jeito que somos, no nosso nada, para as nossas misérias mais profundas. Assim como São Luis Maria Grignion de Monfort no livro O Verdadeiro Tratado da Devoção a Santíssima Virgem Maria, o primeiro capítulo do tratado fala do reconhecimento de si mesmo, precisamos nos reconhecer como realmente somos.
No dia em que você se conhecer de verdade, ninguém mais vai ser capaz de julgar ninguém. Se ainda julgamos o outro é porque ainda não nos conhecemos. É preciso voltar para mim mesmo para me conhecer como eu sou. É para o deserto que Deus quer nos levar, assim como Jesus, Ele mergulhou naquilo que Ele mesmo era. Ser gente não é fácil, para Jesus reconhecer a humanidade também não foi fácil, assim como diz as escrituras onde Jesus suou sangue, nós nem chegamos a esse ponto. Jesus também assumiu a sua humanidade, ficava triste, chorou, você acha que foi fácil lidar com os fariseus? Também não foi fácil. Jesus assumiu a sua humanidade e por isso Ele foi para o deserto. Era muito bom ficar com o pai e a mãe, mas agora Ele precisava assumir a sua vida pública,Ele precisava ir aos lugares anunciar, um novo tempo, uma nova etapa.
Existem três coisas para guardar no coração, na cabeça e no papel: o deserto, o silêncio e a solidão, sem essas três coisas você não mergulha em si mesmo. Quase sempre as três coisas podem estar juntas, mas as vezes não, o deserto é um desafio, mas as vezes você precisa dele. Por mais que você esteja acompanhado, com seus filhos, você só se encontra consigo mesmo quando você tem um tempo só para você. Um coração só vai ser bom para o outro quando ele encontra a solidão e é para nos tornarmos melhores, fecundos, se a solidão não for fecunda ela deprime, machuca. Triste é morrer sem se encontrar com você mesmo. As pessoas gostam de você, mas é você que precisa gostar de você mesmo primeiro, mas cuidado para não confundir com egoísmo, quem gosta de si mesmo, cuida de si, e volta -se para seu interior para ser melhor para si mesmo e para os outros. Ir para o deserto é a proposta de se encontrar consigo mesmo, é ir para encontrar com seus sentimentos.
Conhecer-se a si mesmo é a coisa mais difícil, primeiro pelo silêncio, que dificilmente conseguimos ficar em silêncio, e não é só não falar, mas é ficar sem pensar em nada. Ora pensamos demais, pensamentos preocupantes demais, pensamentos torturantes. Não consegi conhecer a mim mesmo se eu não fico em silêncio e o silêncio mais inteligente é o do pensamento. Os demônios nos tentam, os pequenos, os “demoniozinhos”, que começam pelos pensamentos, são eles que nos atormentam dia e noite. Por isso que é na minha cabeça o lugar onde eu preciso de paz. Nós meditamos pouco, nós silenciamos pouco, precisamos cuidar do essencial, do corpo e da mente, pois o essencial é cuidar do corpo e da alma, temos como exemplo Maria, que vivia a mística da contemplação. Quando temos muitos devaneios em uma experiência de silêncio quer dizer o combate que enfrentamos em meio ao deserto e não tenha medo, é disso que precisamos desse mergulho na alma. O combate espiritual acontece dentro de nós, começa de nós, e eu só conheço uma pessoa sábia, quando ela tem pensamentos sensatos. Vá ao deserto para silenciar a mente.
Desejamos muito que Deus faça uma obra nas nossas vidas, e onde Deus começa uma grande obra nas nossas vidas? Deus criou o mundo de quê? Do nada, nós éramos alguma coisa antes? Não éramos nada, Deus não faz mais em nós porque nós colocamos jeitos que Deus faça em nós. Nos frustramos porque não queremos as coisas que Deus quer nos mostrar, mas somente aquilo que nós queremos.
No meu nada Deus me conduz, no meu nada Ele me leva. No deserto Jesus experimentou o seu nada e ali Deus fez.
Como diz em Filipenses capítulo 2, versículo 5:
“Dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens”.
Ele é o Cristo que se aniquilou, se humilhou e foi exaltado por Deus. Agora na vida nos humilhemos na presença de Deus, que possamos reconhecer o nosso nada.
Assumir a sua história, as dificuldades, pois Deus nos dá a graça da superação. Deus é aquele que nos dá a graça de superar e superar é renovar. Assuma a sua história, mas coloque um olhar nela, dê um sentido a sua vida, mas faça uma releitura da sua história, repense a sua vida e sua história no prisma da fé, da superação. Você precisa fazer uma escolha, você quer ficar na dor, ou quer sair dela? Você quer ficar na tragédia que passou ou quer superar ela? Repensar a vida é essa capacidade de olhar a minha história e colocar um olhar sobre ela, como eu superei as minhas dificuldades. Caminhar para frente é assim que a vida se constrói, é assim que a vida anda, levantar e continuar.
Na segunda colocação Padre Roger fala sobre “Repensar a vida é repensar a própria imagem e a própria história”.
No evangelho de São Mateus, capítulo 1, versículo 1 a 16, com o título Genealogia de Jesus Cristo filho de Davi e Abraão, neste trecho podemos ler sobre toda a genealogia de Jesus, assim como a nossa história não começou quando nós nascemos ou quando fomos gerados, mas começou com nossos antepassados, Jesus conta sua história assumindo seus antepassados. Você precisa olhar para a sua história, ´pois para se conhecer é preciso conhecer a própria história que não começa em você, mas nos seus antepassados. O temperamento é tudo o que nós herdamos dos nossos avós, seja ele fleumático, colérico, sanguíneo ou melancólico. A genética não é só no físico, mas na forma de agir ou pensar, seja ele positivo ou negativo. Um comportamento genético, é a carga da genética que está sobrecarregada sobre nós. Deus é aquele que faz nova todas as coisas, se a natureza nos puxa para isso, temos que pedir que a graça aja sobre a natureza”.
Se você prestar atenção em certos comportamentos é algo que se repete, por exemplo quando a filha está copiando a mãe. É preciso querer mudar a sua história, não pode deixar que a história se repita para esse lado. para eu repensar a minha história, eu preciso conhecer a minha história. você já parou pra montar a sua árvore genealógica? Vimos no evangelho a arvore genealógica de Jesus, do jeito que ela é, Jesus não começa sua história com José e Maria, mas com Abraão. Não tenha medo de encarar a sua história, você precisa saber quem foram seus avós, seus bisavós. No evangelho de Lucas, fala sobre a arvore genealógica que começa em Adão e Eva, e aí a árvore é maior ainda. Não tenha medo de assumir a sua história, vá la no fundo de onde é sua história, de onde você veio, e assim você pode ver que Deus realmente faz nova todas as coisas.
A história humana está salva, porque Deus assumiu todos os nossos pecados. O lugar que moramos, o ambiente que vivemos tudo isso forma a nossa história, o jeito que somos, também é muito importante conhecer a história do seu pai, da sua mãe. Nós herdamo os traços físicos, culturais, também os comportamentos. Leia a sua história com olhar de superação, como um homem de Deus, como uma mulher de Deus, saber de onde você veio, onde você nasceu, mas é preciso assumir se ficou algum trauma. Muitos de Nós não assumimos a nossa história, e quando não assumimos, nos tornamos pessoas incompletas, nos frustramos conosco mesmo, ficamos olhando sempre para o lado negativo de acontecimentos da nossa história.
Não me comparo com ninguém, pois cada um é único. Cada um de nós tem um espinho na carne, para ninguém se achar aquilo que não é, mas para lembrar o que realmente somos. Contemple o espinho na carne, mas também a graça de Deus que está em você. Não limite o amor de Deus a ninguém, seja você, autêntica quem você é. Pe Roger Araújo ainda comenta: Não catalogo ninguém por aquilo que ele gosta de usar, porque cada um tem a sua história. Até a igreja repensa as suas atitudes, o seu modo de ser, imagina nós, o quanto precisamos repensar as nossas atitudes, por isso eu estou provocando você a se assumir, e muitas pessoas não assumem a sua história por causa dos outros. Quando eu não assumo a minha história, nem o que eu sou, eu crio traumas dentro de mim, eu preciso gostar de mim mais do que ninguém. O olhar pelo prisma mundano te enxerga como bonitinho, mas logo te descarta, mas quando você não se olha do prisma mundano, você vê aquilo que realmente é. Ninguém ama de verdade o outro quando não ama a si mesmo.
O que fica é o que você é, seu sorriso, mesmo que você tenha mágoas, sentimentos, supere elas, você é muito mais do que isso.