A ARTE DA ESCUTA

A arte da escuta= dar atenção

Durante toda a nossa vida, vivemos de uma forma ou de outra ouvindo as pessoas que estão ao nosso redor. Talvez mais ouvindo e menos escutando. Auxiliada pelo Moderno Dicionário de Língua Portuguesa – Michaelis, o significado de ouvir relaciona-se mais com os sentidos da audição e ao próprio ouvido. Demonstra uma ideia mais mecanicista e funcional do processo. “Entender, perceber pelo sentido do ouvido.” Escutar seria um aprofundamento dessa experiência, significa: “… prestar atenção para ouvir; dar atenção a; ouvir; sentir; perceber…” Ou seja: o ato de escutar requer uma dimensão mais ampla e envolve mais sentidos do que tão somente o da audição. Requer estar atento ao interlocutor e dar um lugar ao que se ouve. Não é a toa que o senso comum manifesta-se assim: “– Quem escuta ouve, porém quem ouve não escuta.”

Ao nascer, a primeira comunicação que a criança estabelece é através do choro. O choro é um meio de comunicação importante que os bebês dispõem no início da vida – do nascimento aos três meses de idade. Em menos de 5% desses bebês existe alguma evidência de doença orgânica que ajude a explicar o aumento de ocorrência de choro¹. Mas, cá para nós, que tarefa difícil já é ouvir o choro e tão mais exigente escutar, buscar compreender o que ele está dizendo.

Apesar de crescermos e nos tornarmos adultos, muitas vezes, na busca de aconselhamento, e de pessoas para nos escutar e não somente nos ouvir, nos sentimos como um bebê que chora. Geralmente, por não ter uma ideia clara de que a arte de aconselhar é arte de escutar, de aprender a ser espelho, e ver a pessoa, e não de sair dando diagnósticos e tratamentos mirabolantes, às vezes, até mesmo tomando decisões no lugar da pessoa.

O mais relevante é constatar que aconselhar significa um serviço de escuta, e de que neste serviço habilidades são necessárias, como a de observar, pois na escuta, a informação vem muitas vezes pela observação, e não pelo que é dito.

Desenvolver esta habilidade de bom observador requer de nós algumas atitudes, como a de que ver é diferente de achar, esta postura é baseada em julgamentos e preconceitos. Outro fator que atrapalha é o nosso pensamento que nos leva a conclusões errôneas diante da pessoa, que estamos escutando. Para desenvolver esta habilidade, fazem-se necessários alguns atributos, como: o da humildade, ciente de que não sou dona da verdade, a paciência, a simplicidade, a discrição, observar o outro sem que ele perceba, a coragem, verificar os fatos, para não construir falsas histórias e a transparência.

Espero que nas minhas relações familiares, de amizade e de trabalho eu busque colocar em prática estes conceitos importantes na difícil, mas tão prazerosa arte de escutar as pessoas.

¹ Enciclopédia no Desenvolvimento da Primeira Infância.

Fabiana Azambuja, Coordenadora Centro de Formação Famílias Novas

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