Eu gostaria de lhe perguntar: como você se sentiria se não conhecesse seu pai ou se soubesse que você tem muitos outros meio-irmãos que também não conhece? Pois bem, isso hoje acontece e muito!
Há muito tempo, começaram a aparecer os frutos amargos das fertilizações “in vitro” (FIV, bebê de proveta), desde sempre condenadas pela Igreja, que é “perita em humanidade”, como disse, um dia, Paulo VI.
Um número cada vez maior de crianças e jovens, gerados em laboratórios, já não sabem quem são seus pais, porque alguns países permitem que os homens sejam doadores anônimos de esperma para os programas de fecundação in vitro (FIV).
A agência de noticias Zenit.org relatou o caso triste da jovem Katrina Clark
Em 17 de dezembro, o jornal americano “Washington Post” contou a história dessa estudante da Universidade de Gallaudet, com 18 anos, que disse: «não sei nada da metade das minhas origens». Isso é muito triste, a pessoa não conhecer a sua história é algo frustrante e desumano, que pode ter profundas consequências psicológicas.
Clark foi concebida por meio de sêmen de um doador desconhecido, quando sua mãe tinha 32 anos e tinha medo de não conseguir ter uma família de outra forma. Clark denuncia que o debate sobre a fertilização “in vitro” tende a centrar-se nos adultos, sendo que muitas crianças, resultado da FIV, sofrem de problemas emocionais. Ela afirmou: “É hipocrisia que os pais e os profissionais da medicina assumam que as raízes biológicas não terão importância para os “produtos” de seu serviço de crio-bancos, quando o que, em primeiro lugar, leva clientes a esses bancos é alcançar uma relação biológica».
As investigações de Clark a levaram há pouco tempo a descobrir seu pai, mas muitas outras crianças FIV não têm a mesma sorte. Mas mesmo que descubram quem são os seus pais, é triste saber que foram geradas fora de uma relação de amor entre eles, sendo que isso é o “ato fundante” da vida para a Igreja.
Ato criador do ato de amor do casal
Não se pode dissociar o ato criador do ato de amor do casal. A Igreja ensina que: “O ato fundante da existência dos filhos já não é um ato pelo qual duas pessoas se doam uma à outra, mas um ato que ‘remete à vida e à identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos, e instaura um domínio da técnica sobre a origem e a destinação da pessoa humana. Uma tal relação de dominação é por si contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos” (Donum Vitae, II,741,5).
“A procriação é moralmente privada de sua perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. Somente o respeito ao vínculo que existe entre os significados do ato conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação de acordo com a dignidade da pessoa” (idem, II,4).
Destruição da instituição familiar
O jornal “Daily Telegraph”, da Austrália, também publicou, em 27 de setembro de 2006, um artigo onde relata a situação de Justin Senk, do Colorado, EUA, que descobriu, aos 15 anos, que havia sido concebido “in vitro” de um doador anônimo.
Senk investigou a sua origem e chegou à complicada conclusão de que tinha quatro irmãos e irmãs que viviam em um raio de 25 quilômetros — com um total de cinco crianças nascidas de três mães que haviam se submetido a um tratamento de fertilidade na mesma clínica. A identidade do pai segue sendo desconhecida. Não é preciso fazer um esforço de reflexão para entender que isso significa a total destruição da instituição familiar.
Outro caso narrado aconteceu em Virgínia, EUA, onde 11 mulheres tiveram filhos concebidos do esperma de um mesmo homem. O “Daily Telegraph”, da Austrália. calcula que só 30% das crianças concebidas com esperma doado conhece a identidade de seu pai. Isso além de ser uma enorme injustiça e maldade com as crianças, é um fator terrível de destruição da família. E o que será da sociedade sem a família?
Problemas de saúde
Em 11 de agosto, a “Associated Press” descrevia que se criou nos Estados Unidos um “web site”, “Donor Sibling Registry”, para ajudar a identificar aos nascidos com o esperma de um mesmo doador. O site foi criado por Wendy Kramer, para conseguir que seu filho Ryan, também concebido com esperma doado, encontrasse seus irmãos.
Por meio dele, uma mãe, Michelle Jorgenson, descobriu que, além de ser pai de sua filha Cheyenne, o mesmo doador teve outros seis filhos, sendo que dois deles sofrem de autismo, e outros dois mostram sinais de disfunções sensoriais.
Segundo a “Associated Press”, o site se converteu em um ponto de referência para quem busca informação sobre problemas de saúde perigosos. Kramer afirma: «Há pessoas em nosso site que buscam irmãos, porque seus filhos têm problemas médicos, para assegurar-se, porque nem sequer diante de uma emergência medica os bancos de esperma permitirão algum contato, o que é frustrante». Vemos, assim, que outro mal das fertilizações “in vitro” é que podem gerar e propagar graves problemas de saúde.
No ano passado, o “New York Times” apresentava outro caso de um doador de esperma que transmitiu uma grave enfermidade genética a cinco filhos, nascidos para quatro casais. O artigo, publicado em 19 de maio, observava que não se sabe com exatidão de quantas crianças é pai. As crianças, todas de Michigan, carecem de um tipo de glóbulo branco, o neutrófilo. Isso significa que são muito vulneráveis às infecções e propensos à leucemia.
Catecismo da Igreja
O Catecismo da Igreja ensina que o filho é um dom de Deus para o casal (§1652), mas não é um “direito” das pessoas: “O filho não é algo devido, mas um dom. O dom mais excelente do matrimônio, e uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso ‘direito ao filho'”.
Nesse campo, somente o filho possui verdadeiros direitos: o “de ser o fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção”. (§2378)
A Igreja Católica, infelizmente, quase que sozinha, levanta a sua voz, em nome de Cristo, para dizer que tudo isso é um grave erro, e que essa forma de conceber não é ética: «As técnicas que provocam uma dissociação da paternidade são gravemente desonestas», porque elas “lesam o direito da criança de nascer de um pai e de uma mãe conhecidos por ele e ligados entre si pelo matrimônio». (Catecismo §2376).
Lamentavelmente, como acontece hoje em outras práticas imorais, como no aborto, quem sofre a consequência de tudo isso são as inocentes crianças. É uma grande violência, é o desrespeito do forte contra o fraco, do adulto contra a criança. Isso ofende gravemente a Deus e é mais um sinal da franca decadência da civilização ocidental, porque rejeitou o Cristianismo que a modelou.