União Soviética e o Atentado a João Paulo II

Mais uma informação de peso confirma que o Papa João Paulo II foi vítima de um atentado em 13 de maio de 1981, programado pela extinta (este foi o seu castigo?) União Soviética, comunista.

Quem confirma isto é o cardeal polonês Stanislaw Dziwisz, secretário pessoal do papa durante quase quatro décadas. Esta declaração consta das memórias do ex-assessor, no seu livro intitulado “A Life with Karol” (uma vida com Karol), a ser lançado pela editora italiana Rizzoli.

Em um capítulo do livro, o Cardeal Dziwisz recorda o 13 de maio de 1981, dia em que o turco Mehmet Ali Agca atirou contra o pontífice quando este percorria a praça de São Pedro a bordo de um carro aberto, no início da audiência geral realizada semanalmente.

Ele diz que “Agca era um assassino perfeito”. O Cardeal estava ao lado do Papa. “Ele foi enviado pelos que acreditavam que o papa era perigoso, inconveniente, pelos que o temiam.”

Na época do ataque, os fatos que se desenrolavam na Polônia, onde nasceu João Paulo II, deflagravam um efeito dominó que terminaria por levar à queda do comunismo no Leste Europeu, em 1989.

O Papa foi um aliado fiel do sindicato polonês Solidariedade e, segundo a maior parte dos historiadores, teve um papel fundamental nos eventos que acabaram provocando a queda do Muro de Berlim.

O Cardeal pergunta: “Como alguém não teria pensado no mundo comunista (como estando por trás da tentativa de assassinato)? É preciso levar em conta todos os elementos daquele cenário: a eleição de um papa odiado pelo Kremlin, sua primeira viagem de volta à Polônia (como pontífice, em 1979), o fortalecimento do sindicato Solidariedade (em 1980)”. “Tudo não aponta nessa direção? Todos os caminhos, mesmo que diferentes, não levam à KGB?”

No ano passado, uma comissão parlamentar de inquérito da Itália disse que líderes da ex-União Soviética eram os responsáveis pelo plano e que Agca, um turco que hoje cumpre pena de prisão perpétua em seu país natal, não agiu sozinho.

O Cardeal Dziwisz também descreve como os médicos que operaram o papa estavam convencidos de que ele não resistiria. João Paulo considerou que não morreu porque Nossa Senhora de Fátima o salvou; tanto que no dia 13 de maio do ano seguinte ele foi a Fátima agradecer pessoalmente a Nossa Senhora e levou a bala do atentado para ser incrustada na Coroa de Nossa Senhora. Ele disse a Michel Frossard: “Um mão puxou o gatilho, outra guiou a bala”.

O Papa João Paulo II passará para a história como o Pontífice que contribuiu decisivamente para a queda do comunismo, modelo político que conheceu pessoalmente porque viveu nele durante mais de três décadas. Desde sua primeira encíclica, “Redemptor hominis”, de 1979, e seu primeiro documento social, o “Laborem exercens”, de 1981, ele combateu o comunismo, ao qual criticou por causa do ateísmo e da perseguição dos cristãos, mas também pelos aspectos antropológico e sociais, como sistema injusto que alienava a pessoa humana.

A luta do Papa travou-se na sua Polônia, onde o Sindicato Solidariedade aglutinou o movimento popular contrário ao poder comunista. Os primeiros anos da década de 80 foram muito difíceis para a Polônia. O sindicato foi declarado ilegal, seus dirigentes perseguidos e foi proclamada a lei marcial.

O apoio da Igreja e a intervenção direta do Papa foram vitais. Em 1986 acabou a lei marcial e foram libertados os sindicalistas.
Em 13 de junho de 1987, o então líder polonês, general Wojciech Jaruzelski, foi recebido pelo Papa no Vaticano, e nesse mesmo ano João Paulo II voltou, pela terceira vez, à sua terra. Em Gdansk, 750.000 pessoas lhe aclamaram. Ali lhes confiou que todos os dias rezava por sua pátria e por seus compatriotas e cumprimentou o Solidariedade, no meio da alegria e euforia coletiva.

Segundo os observadores políticos, a visita de Jaruzelski ao Vaticano e o ato de Gdansk marcaram o começo da derrota do comunismo, primeiro na Polônia e depois em outros países.
O golpe definitivo viria em janeiro de 1989, quando Solidariedade foi legalizado definitivamente e, em agosto desse mesmo ano, quando o católico Tadeusz Mazowiecki, que foi assessor do sindicato, chegou ao poder, derrotando os comunistas.

A Polônia foi a primeira pedra do “efeito dominó”. Sua queda arrastou a Hungria, que abriu suas fronteiras e seus cidadãos fugiram para a Áustria; depois a Alemanha Oriental, cujos cidadãos também fugiram propiciando em 9 de novembro de 1989 a queda do Muro de Berlim.

Em 1º de dezembro de 1989, Mikhail Gorbachov cruzou a praça de São Pedro do Vaticano para o encontro histórico com o Papa. Depois caíram os regimes da Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia e já em agosto de 1991 o da URSS.

Jaruzelski disse do Papa que “é um eslavo que percebeu melhor que outros as realidades de nossa região, de nossa história”.
Em conversa com o jornalista católico Vittorio Messori, o Papa João Paulo II disse que: “Seria simplista dizer que a Providência provocou a queda do comunismo. Caiu por si mesmo, como conseqüência de seus próprios erros e abusos. Caiu por si mesmo por causa de sua própria e inerente fraqueza”.

O “triunfo da liberdade” ficou patente em 1996 durante a viagem que o Papa fez à Alemanha unificada. Diante da Porta de Brandeburgo fez um apaixonado chamado, afirmando que não existe liberdade sem verdade, solidariedade e sacrifício. Disse que a porta tinha sido “pervertida”, primeiro pelo nazismo, e depois pelo comunismo e acrescentou: “não apagueis o espírito, mantende aberta esta porta para vós e todo o mundo”. (Fontes: UOL notícias – 22.01.2007 – ROMA, e 02/04/2005, Juan Lara, Cidade do Vaticano, 2 abr (EFE)).

O jornalista francês, Bernard Lecomte, investigou arquivos do Leste europeu e de Paris, e descreveu a história da queda do comunismo, pondo em destaque a atividade do Papa João Paulo II nessa derrocada. Bernard Lecomte se especializou em assuntos da União Soviética e dos países do Leste Europeu. Durante anos fez suas pesquisas em Paris, Moscou, Cracóvia, Praga e Gdansk (Danzig). É repórter do L’Express e co-autor com Jacques Lesourne, de “Lapres ­communisme de l’Atlantique a I’Oural” (O pós-comunismo desde o Atlântico até os montes Urais). Escreveu sobre o papel do Papa João Paulo II no combate ao comunismo ateu no livro “
La Verite’ I’emportera sur le Mensonge” (“A Verdade prevalecerá sobre a Mentira”) publicado em 1991 e editado em tradução portuguesa em 1993 com o titulo “O Papa que venceu o Comunismo” (Editora ASA, Lisboa, 358 pp.). É obra semelhante a de Bernstein-Pout – “Sua Santidade”.


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino