Sempre após um Sínodo de Bispos em Roma, o Papa recebe suas sugestões sobre o assunto estudado e escreve um documento que se chama Exortação Apostólica. Em outubro de 2005 houve o Sínodo sobre a Eucaristia e o Papa recebeu cerca de 50 sugestões dos Bispos sobre o tema. A partir daí ele escreveu a Exortação “Sacramentum caritatis”. Ele diz no n. 5 : “Esta Exortação Apostólica pós-sinodal tem por objetivo de recolher a multiforme riqueza de reflexões e propostas surgidas na recente Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos…”Isto deixa claro que tudo o que foi escrito não é apenas o pensamento do Papa, mas do Magistério da Igreja; Papa e Bispos; é um documento do Colégio Episcopal também. Não sei porque houve tanto alvoroço na imprensa leiga sobre a Exortação sendo que ela quase nada trouxe de novo. Em quase tudo foi apenas ratificado o que a Igreja já ensina sobre o culto Eucarístico. Basta comparar esta Exortação com a encíclica “Ecclesia de Eucaristia” de João Paulo II e com Instrução “Sacramentum Redemptionis” por ele aprovada, para se notar que há muita semelhança nos ensinamentos, especialmente quanto aos pontos de moral católica. O Papa reafirmou que casais divorciados e casados em segunda união não podem comungar; isto já tinha sido dito pelo Papa João Paulo II em 1981 na Exortação “Familiaris Consortio”.Infelizmente houve uma palavra traduzida erradamente para o português quando o Papa se referiu `a segunda união (não as pessoas) como uma “praga” hoje. O Papa não usou a palavra “praga”, usou em latim a palavra “plaga”, que quer dizer “chaga” e não praga. O que o Papa quis apenas dizer é que a segunda união é um mal já que não é licita. Jesus disse: “Todo aquele que repudiar sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar seu marido e desposar outro comete adultério” (Mc 10,11-12). O Catecismo da Igreja assim fala:§1651 – “São numerosos hoje, em muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis e que contraem civicamente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à palavra de Jesus Cristo afirma que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística enquanto perdurar esta situação. Pela mesma razão não podem exercer certas responsabilidades eclesiais. A reconciliação pelo sacramento da Penitência só pode ser concedida aos que se mostram arrependidos por haver violado o sinal da aliança e da fidelidade a Cristo e se comprometem a viver numa continência completa”. §1652 – “A respeito dos cristãos que vivem nesta situação e geralmente conservam a fé e desejam educar cristãmente seus filhos, os sacerdotes e toda a comunidade devem dar prova de uma solicitude atenta, a fim de não se considerarem separados da Igreja, pois, como batizados, podem e devem participar da vida da Igreja: Sejam exortados a ouvir a Palavra de Deus, a freqüentar o sacrifício da missa, a perseverar na oração, a dar sua contribuição às obras de caridade e às iniciativas da comunidade em favor da justiça, a educar os filhos na fé cristã, a cultivar o espírito e as obras de penitência para assim implorar, dia a dia, a graça de Deus”.Sobre a missa em latim o Papa apenas a recomendou em Missas com pessoas de vários países (celebração internacional); e exortou os seminaristas a aprenderem o latim. “A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as diretrizes do Concílio Vaticano II: (182) excetuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina; sejam igualmente recitadas em latim as orações mais conhecidas (183) da tradição da Igreja e, eventualmente, entoadas algumas partes em canto gregoriano.” (n.62)Recomendou aos Pastores que só realizem a Confissão comunitária nos casos previstos; valorizou a Indulgência pela remissão das penas dos pecados, e reafirmou o celibato do sacerdote: “Embora respeitando a prática e tradição oriental diferente, é necessário reiterar o sentido profundo do celibato sacerdotal, justamente considerado uma riqueza inestimável … Com efeito, nesta opção do sacerdote encontram expressão peculiar a dedicação que o conforma a Cristo e a oferta exclusiva de si mesmo pelo Reino de Deus”. (n.24)A Exortação valorizou sobremaneira o Concilio Vaticano II: “De modo particular, os padres sinodais reconheceram e reafirmaram o benéfico influxo que teve, na vida da Igreja, a reforma litúrgica atuada a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II” (n.2). Ninguém pode dizer que o Papa desaprova o Concilio; estaria mentindo. O Papa chamou a atenção para que as músicas na Missa estejam de acordo com o tempo litúrgico e adequadas à liturgia. Pediu que o “abraço da paz” seja sóbrio e apenas dado às pessoas próximas e com discrição. A homilia da Missa deve ser catequética e bem preparada para dar a conhecer ao povo os principais mistérios da fé, usando-se para isto o Catecismo da Igreja e seu Compêndio.A liturgia eucarística deve obedecer ao prescrito no Missal romano. A Papa mostrou com rara beleza que o Sacramento da Eucaristia é o amor maior de Jesus por nós. “Sacramento da Caridade, santíssima Eucaristia é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. Neste sacramento admirável, manifesta-se o amor «maior »: o amor que leva a «dar a vida pelos amigos» (Jo 15, 13). De fato, Jesus «amou-os até ao fim» (Jo 13, 1).Portanto, os que fizeram um escândalo em cima da Exortação do Papa, foi porque simplesmente não a entenderam.
Prof. Felipe Aquino – 15 de março de 2007