Quando eu e alguns amigos nos dirigíamos à Basílica de São Pedro, mal podíamos prever o que ali se passaria. Eu pensava comigo: “Bem, serão três ou quatro horas de fila no máximo, por isso nem vou levar comida ou bebida”. Quanta ilusão…!
Quando chegamos na Praça de São Pedro, era por volta das 5:00 h. Estava ainda escuro e relativamente frio. Muitos guardas estavam ali controlando a multidão e organizando as pessoas que ansiosamente aguardavam para dar seu último adeus a João Paulo II, este homem de Deus que o Coração Imaculado de Maria nos presenteou em nossos tempos de aflição e temores, tanto para a Igreja como para o mundo.
Chegando lá, qual não foi nossa surpresa ao ver a imensidão da fila. Recordo-me somente do guarda dizendo: “Avanti, avanti”. A interminável fila era dividida em grupos para melhor organizar tudo. E fomos andando, andando, andando até dar uma volta imensa por entre os edifícios que rodeiam o Vaticano. Foi quando pensei comigo: “É, acho que não será tão rápido assim”. Mas, nós não ligávamos, pois tudo era movido pela fé e por amor e de um grande desejo de retribuir ao Papa tudo aquilo que ele tinha feito especialmente por nós, jovens, durante todo o seu longo pontificado. Era uma beleza ver aquela multidão de pessoas caminhando, rezando e cantando. Sim, o clima de fé e amor era contagiante. Pessoas nas sacadas também participavam, acenando lenços, rezando e cantando juntos. A grande maioria dos que ali se encontravam era jovens, oriundos de todos os continentes. Devo confessar que sentia um “santo orgulho” de ser católico, de pertencer à Igreja de Nosso Senhor, que abriga em seu seio todas as línguas, raças, culturas, povos! Uma das notas que constituem a Igreja de Cristo é, sabemos, sua “catolicidade”, e isso pude ver bem presente ali. Nos sentíamos como em uma grande família, todos unidos pelo poder da fé, da mesma fé católica, isso é muito belo.
Passadas algumas boas horas, eu já estava com fome e sede. Eram distribuídas gratuitamente garrafas de água para a multidão. Mas e a comida? Pessoas que nunca tinha visto, vinham oferecer-me bolacha, pão, sanduíche e outras coisas para comer, tudo em um clima muito cristão, muito fraterno. “Vede como se amam”, era o que os pagãos diziam a respeito dos primeiros cristãos. E o tempo foi passando e nós rezando, cantando e conversando também, conhecendo pessoas no meio daquela multidão, partilhando experiências. Outra coisa que muito me impressionou, foi perceber que não se viam empurrões, brigas, ou palavras de ofensa, desentendimento, o que seria até compreensível nestas circunstâncias. Tudo transcorria na paz, apesar do cansaço que acometia sempre mais a todos.
Recordo-me de uma jovem que, após 8 horas na filha, se sentou e parecia não agüentar mais. Começou a chorar e sua amiga abaixou-se e com a mão em seu ombro disse: “É pelo Papa, vamos, ele merece”. As duas se levantaram e continuaram, uma ajudando a outra. Foi uma cena que muito me comoveu, confesso. Realmente não sei também como as pessoas de idade conseguiram percorrer todo o caminho. Havia pessoa de 60 e até 70 anos! Somente a graça de Deus mesmo ajudando.
Quando estava já na entrada da porta da Basílica, não agüentava mais, tinha que ir ao banheiro, como fazer? Pedi ao guarda para dar uma “escapadinha”. Voltei e então entrei na Basílica. Puxa, a emoção tomava conta, não por entrar na Basílica, pois isso já o fizera tantas e tantas vezes, mas então se tratava de um momento todo especial. Em poucos minutos estaria dando último adeus ao nosso querido Papa. Em minha mente e coração trazia meus pais, meus amigos e todas as pessoas de que me lembrava, os doentes, aqueles que pediam orações. Queria fazer uma prece por todos e pedir a Deus por intercessão desse Papa, pois tinha a certeza de que já estava no Céu intercedendo por nós. Considerava-me um privilegiado por estar ali e agradecia a Deus por isso, afinal quantos milhões não gostariam de estar em nosso lugar naquele momento.
Quando cheguei na frente do corpo, fiz minha oração. Breve, pois os guardas não nos deixavam permanecer parados; era uma questão de segundos. Depois, quem quisesse podia ficar mais afastado rezando por mais tempo. Ao final fui saindo exausto, mas com o coração alegre por este momento inesquecível que sei jamais sairá de meu coração, de minha mente. Aí olhei no relógio e só então fui-me dar conta de que tinha passado 12 horas na fila! Eram 17:00 h quando descia as escadas da Basílica para retornar para casa. Na saída me impressionava ver aquela multidão em Roma, parecia “sei lá o quê”, não cabia mais ninguém. Era um “formigueiro”. Bem, tanto que foi proibida a entrada de mais estrangeiros na cidade por motivos de segurança e ordem pública, Roma não suportava mais ninguém. E, em meio a uma sociedade cada vez mais secularizada e hostil ao Cristianismo, me vinham em mente as promessas de Cristo ao primeiro Papa, São Pedro: “Eu te declaro: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Como não ver neste evento um sinal claro do cumprimento das promessas do Senhor?
Irmãos na fé, amigos: Espero que este testemunho possa ajudar mais jovens a sentir a alegria de ser católicos, de valorizar mais sua fé, de conhecer mais sua beleza. E também possa este testemunho ajudar todos nós a amar mais o Papa e estar unidos a ele, a seus ensinamentos, conscientes de que em torno dele formamos a Igreja de Cristo, uma, santa, católica e apostólica. Um abraço a todos e que Nossa Senhora nos guarde e abençoe!
Diogo Hoefel (diogohefel@yahoo.com.br)26 anos – Universitário
Fonte: Publicado na Revista Pergunte e ResponderemosNº 535 – Ano : 2007 – Pág. 42