MENTIRAS CALCULADAS

           

                     Ubiratan Iorio

         Se a tolerância é uma virtude a ser cultivada e a intolerância um vício a ser combatido, no campo da religião ela pode assumir o status de crime hediondo, a ser extirpado pelo bem da humanidade.

         Quando se fala que o cristianismo é “intolerante” com os homossexuais, é uma grossa mentira, pois jamais Cristo pregou isso. O que condenou – e veementemente – foi o pecado, embora sempre tenha ensinado que os pecadores, uma vez mostrando-se arrependidos, devem ser perdoados, “setenta vezes sete”, se for preciso, ou seja, tantas vezes quantas o arrependimento for sincero.

         O homossexualismo é, para a Igreja Católica e para qualquer cristão, um vício que precisa ser combatido. Mas, se um cristão de verdade, de qualquer denominação, não “discrimina”, não deve e nem pode ser intolerante com os homossexuais, também deve repudiar o homossexualismo, senão não será um cristão de obras, mas de fachada.

         Os mesmos que acusam o cristianismo de ser intolerante com os homossexuais calam-se diante da postura dos islâmicos, que os tratam, no Oriente, com verdadeira intolerância, a ponto de castigá-los fisicamente.  Os acusadores são movidos por duas razões: ideologia e medo.

         As razões ideológicas são bastante evidentes. Existe no mundo de hoje uma infernal orquestração da esquerda mundial que, em seu afã de implantar o “Outro Mundo Possível” – o horror do socialismo – infiltrou-se em todas as manifestações da cultura ocidental, para deformá-la e semear a cizânia. A finalidade, assustadoramente clara para quem tem olhos e quer enxergar, é destruir os fundamentos de nossa sociedade e, entre eles, toda a tradição judaico-cristã, que vêm como um elemento vital do capitalismo e, portanto, como enorme empecilho à implantação do socialismo ateu. Infiltraram-se também no seio da Igreja de Roma, com a “Teologia da Libertação”, que substituiu a figura de Cristo pela de Marx, distorcendo a doutrina do primeiro para tentar justificar as teorias do segundo.

         Condenada diversas vezes por João Paulo II, que chegou a advertir, de dedo em riste, ainda nos anos 70, em um aeroporto da América Central, um famoso cardeal “libertador”, a heresia, contudo, parece ter encantado muitos bispos latino-americanos, incluindo alguns da CNBB, aqui no Brasil. Asseguro que são, dentro do episcopado, minoria, mas provocam barulho, sempre com o palco gratuito e os aplausos interesseiros da mídia esquerdista, por razões óbvias.  Alguns são bem intencionados. Outros, infelizmente, não. Erraram duplamente, pois sua vocação é a política e não o serviço de Deus.

         O atual Pontífice, Bento XVI, desde os tempos em que era o Cardeal Ratzinger, um dos braços direitos de João Paulo II, soube combater o bom combate contra a heresia marxista. Vários “teólogos” marxistas foram expulsos do seio da Igreja e Gaudêncio Boff (cujo nome, quando religioso, era Leonardo), dele retirou-se antes que fosse expulso.

         Muitos, sabendo de minha condição de católico, me perguntam, com justa dúvida, por que a Igreja não “passa um carão” definitivo nos padres e bispos que teimam em rezar (este não seria o verbo indicado) pelo “catecismo marxista”. Sempre respondo que, em seus mais de dois mil anos de história, a postura da Igreja sempre foi de cautela, tolerância e comedimento, porque sabe que a Verdade haverá de vir à tona e que “as forças do inferno jamais haverão de prevalecer contra ela”. De fato, basta conhecer a história da Igreja (ver, por exemplo, a fenomenal obra de Daniel Rops), para saber perfeitamente que a “Teologia da Libertação” não é a primeira e nem será a última das heresias.

         O segundo motivo que move os acusadores da tradição judaico-cristã e, em especial, os que tentam desqualificar como “antiquada”, “conservadora” ou “anti-progressista” a postura firme dos Papas em assuntos como o homossexualismo é o medo. Sim, o medo, ou melhor, a falta dele… Não dos cristãos, mas dos intolerantes de outras religiões, como os fundamentalistas islâmicos. Ora, se não têm medo de acusar cristãos, ou judeus, é porque estes, naturalmente, são tolerantes e jamais açoitarão ou deceparão pescoços de homossexuais a golpes de cimitarra, com transmissão pela TV Al Jahzira, pelo simples fato de serem homossexuais.

         Isto é que é “homofobia”, e não o fato de considerar o homossexualismo um desvio moral! O que o Ocidente judaico-cristão não deve e não pode aceitar são aberrações como a PL 5003/2001, proposta para atender ao movimento “gay” no Brasil, que colocará na cadeia quem pronunciar qualquer palavra ou frase que não seja do agrado desses movimentos, pelo crime de “homofobia”… Como explica magistralmente Olavo de Carvalho em artigo no Jornal do Brasil de 29/3/2007, não existe a escolha entre “homofobia” e “anti-homofobia”, caso contrário, se os heterossexuais usassem as mesmas armas, por absurdo que fosse, poderiam também tentar aprovar uma lei instituindo o crime de “heterofobia”…

         É triste. Tantas pessoas passando fome, tantos políticos roubando, tantos crimes sendo cometidos impunemente contra a população e as pessoas que deveriam zelar pelo crescimento da economia, pela ética e pela ordem pública perdendo tempo com propostas como essa da PL 5003/2001.

         São as mentiras calculadas, que Carvalho denomina de “moldar o debate”, ou seja, de desviar a atenção da plebe ignara da essência dos problemas sociais, canalizando-as para posturas artificialmente impostas, para servirem aos interesses da vontade de poder dos “esquerdopatas”.

         Sinceramente, de tanta desilusão, dá até para pensar em ser “brasilfóbico”… Mas não dá. Um dia, o sol voltará a brilhar


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino