O jornal “Economist”, influenciado pelo laicismo anti-católico que hoje se alastra no Ocidente tentando eliminar a Igreja o catolicismo, propôs que a Santa Sé, isto é o Estado Pontifício, renunciasse ao estatuto diplomático, passando a “definir-se como a maior ONG do mundo”. (Agência Ecclesia – 09/08/2007)
O “ministro dos negócios estrangeiros” do Vaticano recusou a proposta do “Economist” e explicou as razões.
Numa entrevista ao quotidiano católico italiano “Avvenir”, o Arcebispo Dominique Mamberti, secretário do Vaticano para as relações com os Estados, defendeu o papel da diplomacia do Vaticano ao serviço da paz e dos direitos humanos, assumindo nomeadamente posições contra-corrente relativamente à cultura dominante.
“Não admira – declarou D. Mamberti – que se queira diminuir o eco da sua voz”. De fato, “desempenhando o seu próprio papel internacional, a Santa Sé está sempre ao serviço da salvação integral do homem, segundo o mandato recebido de Cristo”.
É sempre bom lembrar que a salvação de toda a cultura Ocidental, após a queda do Império Romano, em 476 sob o bárbaro Odoacro, só foi possível por causa da grande autoridade moral e religiosa da Igreja Católica. Sem a Igreja o mundo teria desabado de vez. A História que o diga; a Igreja sustentou o mundo Ocidental na sua pior hora, e agora querem descartar esta mãe…
D. Mamberti disse que “por detrás do convite a reduzir-se a uma ONG, para além da incompreensão sobre o estatuto jurídico da Santa Sé, existe também, provavelmente, uma visão redutiva da sua missão, que não é setorial ou ligada a interesses particulares, mas sim universal, abarcando todas as dimensões do homem e da humanidade”.
Cristo instituiu a Igreja, por isso ela não é uma simples ONG, uma simples Democracia, é muito mais; é o Corpo de Cristo, com a missão universal (católica) de salvar todos os homens; traze-los de volta para a Casa do Pai.
D. Mamberti colocou o dedo na raiz do problema: “É por isso que a ação da Santa Sé, no âmbito da comunidade internacional, é muitas vezes sinal de contradição, porque ela não cessa de elevar a sua voz em defesa da dignidade de cada pessoa e da sacralidade da vida humana, sobretudo do mais débil , assim como na tutela da família fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, para reivindicar o direito fundamental à liberdade religiosa e para promover entre homens e povos relações assentes sobre a justiça e a solidariedade”.
Esse mundo enlameado pelo pecado de uma sexualidade que só busca o prazer, de uma vida onde Deus foi substituído pelo dinheiro, poder e luxo, não suporta ouvir a voz da Igreja, como Herodes não suportava a pregação de S. João Batista, e o degolou no cárcere. Se fosse possível, os tiranos de hoje também degolariam a Igreja, como tentaram Stalin, Hitler, Lênin, e tantos ateus. Aqueles que querem estabelecer em todo o mundo a prática criminosa do aborto, da eutanásia, do bebê de proveta, das manipulações de embriões humanos, do homossexualismo como prática normal, etc… tentam de todas as formas enterrar a Santa Igreja de Deus.
Na referida entrevista, D. Mamberti mostra que a proposta do semanário inglês é “por uma compreensão pouco exata do lugar da Santa Sé na comunidade internacional, (incompreensão) que remonta aos inícios da própria comunidade internacional e se foi consolidando sobretudo no final do século XIX”.
Sabemos que o sonho dos racionalistas dos séculos XVIII e XIX, Renan, Harnack, Rousseaux, Nietsche, Shoppenhauer, e dos maçons, sempre foi o de eliminar a Igreja, calar a sua voz incômoda que denuncia o pecado e tudo que se levanta contra a pessoa humana e sua dignidade. Esquecem-se de que Cristo disse a Pedro que as portas do Inferno jamais prevaleceriam contra a Sua Igreja.
D. Mamberti ainda lembra que “com o desaparecimento dos Estados Pontifícios [1870], tornou-se cada vez mais claro que a personalidade jurídica internacional da Santa Sé é independente do critério da soberania territorial”.
Em 1870 o Estado Pontifício foi eliminado pelas armas violentas de Vitor Emanuel II, na guerra de unificação da Itália. Este Estado dirigido pelo Papa surgiu naturalmente das inúmeras doações de terras na Itália, que muitos príncipes e famílias cristãs doavam ao Papa, por acreditarem nele e na Igreja. Esse Estado durou cerca de 1000 anos, e o povo que nele vivia repetia a frase “é bom viver `a sombra do báculo”.
A partir de 1929, com o Tratado de Latrão, assinado pelo Papa Pio XI e Mussolini, o território da Igreja ficou reduzido a 0,55 km quadrados de terra; um pequeno sitio dentro de Roma. Deste pequeno “corpo” o Papa Pio XI, e todos os seus antecessores desde 1870, “prisioneiros do Vaticano”, não abriram mão, pois assim como Cristo teve um corpo humano para salvar o mundo, a Igreja precisa também de um “corpo” terreno para continuar a missão que o Salvador lhe confiou.
Portanto, a proposta indecorosa do “Economist” é maldosa e carregada de falsas intenções, entre as quais tentar calar a voz de Deus no mundo dos homens. Cabe a nós católicos, rejeitar toda proposta maligna deste tipo, por amor a Deus, a Igreja e aos homens.
Já tentaram afastar a Igreja da ONU, uma vez que esta se converte cada vez mais em um organismo anti-católico; mas o próprio Secretário Geral Kofi Anan, na época, rejeitou a proposta, em vista do papel importante que o Vaticano ocupa no concerto das nações. A Igreja não tem direito a voto na ONU, mas pelo seu passado e pelo seu presente, em beneficio da humanidade, ela tem direito a voz, como observador internacional. É a voz de Deus na decadente ONU.
Prof. Felipe Aquino