Os bispos da Venezuela estão radicalmente contra o projeto de nova Constituição para o país proposto pelo Presidente Hugo Chaves, que deseja ser reeleito de maneira indefinida; tal desejo toma claramente ar de ditadura disfarçada de democracia.
Assim, o primeiro Vice-presidente da Conferência Episcopal Venezuelana (CEV), Dom Roberto Lückert, qualificou a reforma constitucional empreendida pelo Presidente Hugo Chávez como “o traje à medida para um militar”; e indicou que o interesse de submetê-la a um referendum é para que a opinião pública internacional acredite que a Venezuela é um país democrático e “infelizmente não é assim”. (2007-09-04 (ACI))
O Bispo disse a “Unión Radio” que: “Aqui estão impondo um militarismo democrático, mal chamado democrático; pois isto será consultado, em referendum, e vai parecer ante a opinião pública internacional que isto é um país democraticamente constituído onde as coisas se fazem por votação, e infelizmente não é assim. É a vontade de um cavalheiro que demorou seis meses para fazer uma reforma e agora nos impõe três meses para poder aprová-la”.Dom Lückert criticou também que o Presidente planeja a reeleição indefinida porque com isso liquida a alternância no poder. Acrescentou que não dar suficiente tempo para que o povo debata este projeto “não é democrático”.
Também o Arcebispo de Coro anunciou que os bispos se reunirão para analisar o texto enviado por Chávez à Assembléia Nacional; e que poderiam ser os encontros prévios para uma reunião extraordinária da CEV em outubro, onde se fixaria uma posição oficial.
Dom Roberto Lückert, advertiu que a reforma constitucional do Presidente Hugo Chávez é um diálogo de surdos porque não se atendem aos pedidos da oposição, e indicou que o objetivo do mandatário é ter uma Constituição “vermelha vermelhinha” que esteja a favor de seu grupo e não da Venezuela.
“O Presidente disse publicamente que a nova Constituição é vermelha vermelhinha, o que quer dizer que não é uma Constituição para a Venezuela mas sim para o grupo que está com o ‘processo’”, declarou o Bispo ao jornal
La Verdad; uma vez que recordou que “a Constituição é a Carta Magna de todos os venezuelanos e não deve ser vermelha vermelhinha, deve ser amarelo, azul e vermelho”; as cores da bandeira venezuelana.
O Vice-presidente da CEV também criticou o “parlamentarismo de rua”, que é levar simpatizantes em ônibus aos atos oficialistas com o fim de fazer acreditar que há um respaldo majoritário. Existe um “diálogo entre surdos”, expressou, “porque para a oposição ou os que são adversários o processo parece que não têm nada que fazer porque os atropelam”.
O Bispo se referiu às reivindicações trabalhistas propostas no texto chavista, as quais só procurariam captar votos. “É um caramelo que puseram ali, porque quem pode opor-se a que se reduza a jornada trabalhista” e se dêem outros benefícios sociais, advertiu Dom Lückert; e indicou que tais votos permitirão a Chávez “dizer ao final que 70% da população venezuelana votou a favor dele”.
“Mas a população não quer que se quebre a alternabilidade democrática neste país, os venezuelanos querem que o Presidente deixe o poder ao cabo de seu período e lhe dê lugar a outros muitos dirigentes de seu grupo e de quem é adversário. O mais grave desta reforma é o desejo de poder que tem o Presidente da República”, denunciou.
Por outro lado, o Prelado expressou seu temor de que as tropas populares se convertam em aparelhos repressivos do Estado pois “isso o diz a mesma letra da proposta, que são para os inimigos externos e internos do processo”. “Eu tenho muito temor a essas tropas populares, que se retratem na Rússia e em Cuba, o que estas tropas supõem e fazem, e os atropelos às liberdades”, advertiu.
O também Arcebispo de Coro alertou que tirar a autonomia ao Banco Central da Venezuela a favor do Presidente pode alentar a corrupção, pois “considero que ao redor dele não estão os melhores”; além que é mais poder para Chávez “e isso não convém ao país”.
Um sacerdote que por motivos de segurança preferiu permanecer no anonimato, expressou à associação “Ajuda à Igreja Necessitada” (AIN), seu temor de que o Governo de Hugo Chávez comece a confiscar escolas católicas e centros de saúde administrados pela Igreja, como mecanismo para amedrontar e impor seu projeto ideológico à população.
Nesse sentido, acrescentou que o Estado está pressionando às escolas para que usem o material aprovado por ele, com o fim de doutrinar à população.
Em seu diálogo com o AIN, o presbítero afirmou que os programas sociais do Governo venezuelano não terão efeito em longo prazo porque “só servem para satisfazer as necessidades mais imediatas” e ganhar adeptos ao regime.
Do mesmo modo, depois de advertir que a sociedade venezuelana nunca esteve tão dividida, o sacerdote afirmou que a Igreja e o país esperam momentos muito difíceis.“Os sacerdotes e bispos devemos ser precavidos na hora de denunciar estas situações, mas tampouco devemos sê-lo muito, porque nosso serviço à verdade poderia perder sua missão profética”, assinalou. ( 2007-09-05 (ACI))