UMA IGREJA DEMOCRÁTICA?

Há uma tendência muito errada por parte de alguns segmentos da Igreja, especialmente os ligados à teologia da libertação, de querer “uma Igreja democrática”, como se fosse uma mera instituição humana como as demais democracias. Esta mentalidade distorcida põe em risco a identidade e a missão da Igreja Católica.

Não há dúvida de que a melhor forma de governo, apoiada e e incentivada pela Igreja, é o regime democrático, o governo exercido pelo povo e em seu nome, mas a Igreja não é uma simples instituição humana; é muito mais que isso, ela “veio do alto”, foi fundada por Cristo sobre S. Pedro e os Apóstolos, com regras claras e imutáveis dadas pelo Senhor. Portanto, a tentativa de transformar a Igreja numa democracia parlamentar ou presidencial foge da vontade de Deus e desvirtuaria o projeto do Senhor. Colocar o Projeto de Deus para salvar a humanidade, sob a aprovação do povo é casuísmo e grave desrespeito a Deus; pois a Igreja, como disse o Catecismo da Igreja, é “um projeto que nasceu no Coração do Pai” (§759) e não da vontade do povo.

É fundamental que os fiéis conheçam o que o nosso Catecismo ensina sobre a Igreja (§ 748 a 987) para não ser enganado por vozes estranhas.

É claro que a Igreja usa muitos processos democráticos nas suas decisões administrativas; os bispos usam o voto para decidir muitas questões e colher o consenso da maioria; e a própria eleição do Papa se dá por votação. Mas, nos assuntos
em que Jesus definiu de maneira permanente para a Igreja, esses não podem ser mudados pelo voto, nem dos membros da hierarquia e nem pelos votos dos fiéis.

A propósito, D. Estevão Bettencourt, “esse humilde e fiel servo da vinha do Senhor”, publicou em sua revista “Pergunte e Responderemos”, um artigo sobre esse assunto, de Mons. M. M. Leonard, Bispo de Namur (Bélgica), que temos a alegria de reproduzir com sua autorização. Vai a seguir:

Em síntese: Democracia quer dizer “governo do povo pelo povo”.

Ora a Igreja não se enquadra neste conceito, pois Ela não tem origem na vontade de um povo que resolve constituir-se em autarquia e viver segundo os ideais meramente humanos que tal população concebe.

A Redação de PR recebeu de Mons. M. M. Leonard, Bispo de Namur (Bélgica), a seguinte mensagem, que apresentamos traduzida do francês e que será brevemente comentada. UMA IGREJA DEMOCRÁTICA? Em virtude dos seus fundamentos mesmos, a Igreja não pode ser democrática, porque não procede da autodeterminação dos homens como ocorre em qualquer democracia, mas Ela só existe por iniciativa que não procede dela mesma. Não fomos nós que decretamos a Encarnação do Filho de Deus. Também não decretamos a existência de Deus nem decre­tamos o nosso vir a ser ou a nossa criação nem o fato de que Deus se fizesse homem para que o homem se torne filho adotivo de Deus. Não fomos nós que decidimos que a Igreja haveria de existir. Somos dependen­tes de uma dádiva, de um presente; por conseguinte a Igreja em sua base não é democrática. Se Ela fosse uma sociedade pura e simplesmente democrática, haveria muito tempo que Ela teria abandonado a Revelação Divina.

Com efeito, se, no decorrer da história, se pusesse em votação a questão de saber se Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem e se Deus é realmente trinitário, haveria muito tempo que os ho­mens se teriam desembaraçado da Trindade e da Encarnação, porque teria havido uma maioria de pessoas que teriam pensado: “Bem podemos dispensar-nos de tais convicções”. A Igreja existe e é fiel à doutrina tão somente porque Ela não pousa apenas sobre procedimentos democráticos.

Comentando Se democracia é o governo do povo pelo povo, como indica a etimologia deste vocábulo, a Igreja não se enquadra neste conceito. Na verdade, democracia supõe uma multidão de pessoas que resolvem viver em sociedade por iniciativa própria ou por consentimento tácito e conseqüentemente escolhem seus governantes. Ora a Igreja não se deve à livre iniciativa dos ho­mens; Ela é “Ek-klesia” ou Convocação. Por sua livre vontade Deus concede aos seres humanos a graça de pertencer ao seu povo santo (cf. 1 Pd 2,1-7). Por isto não pode ser equiparada às sociedades que os homens fundam e governam como melhor Ihes parece.

O Bispo Mons. A.M. Leonard observa que, se fosse entregue ao mero arbítrio dos homens, a Igreja daí resultante teria posto de lado verdades fundamentais da Revelação Divina como sendo teorias dispensáveis à vida cotidiana dos seres humanos.

É muito a propósito que o Bispo de Namur oferece estas considera­ções, que contribuem para mais ainda compreendermos e valorizarmos a autoridade e o magistério da Igreja, à qual Jesus prometeu sua assistência infalível até o fim dos séculos (cf. Mt 28,18-20). Positivamente falando… A Igreja não é uma democracia, mas é um Sacramento, o que significa que Ela é uma realidade divino-humana pela qual Deus comunica a graça aos seus fiéis. É o Senhor Deus quem dirige a Igreja mediante instrumentos humanos, cuja fragilidade às vezes é bem visível, mas que não impedem chegue a graça de Deus a quem se dispõe a recebê-Ia dignamente. Por isto as autoridades da Igreja não são meros represen­tantes do povo católico, não são deputados,… mas são pastores que o Espírito Santo vai acompanhando através de altos e baixos.

Fonte: Revista: “Pergunte e Responderemos – nº 543 – Ano XLVIII – Setembro de 2007

Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino