PEQUENO POLEGAR

  

O texto a seguir foi extraído de trechos do artigo publicado sob o título “O Princípio do Ser Humano”, em Laissez-les vivre, Ed. Pierre Lethhielleux, Paris, 1975, págs. 17-29 por Jerôme Lejeune, médico-cientista, pai da genética moderna e descobridor da Síndrome de Down (mongolismo). Foi o primeiro presidente da Pontifícia Academia para a Família e Vida, mais um dentre os grandes Defensores da Vida Humana, falecido em 1994 e com seu processo de beatificação em andamento.  

“A transmissão da vida é um fato paradoxal, pois óvulo e espermatozóide embora sejam matéria dos pais, sabemos com igual certeza que nenhuma das moléculas, nenhum dos átomos que constituem a célula originária tem a menor possibilidade de ser transmitido, tal qual é, à geração seguinte. Torna-se óbvio, portanto, que o que se transmite não é a matéria dos pais, mas um determinada modificação desta; ou, mais exatamente, uma forma.” 

“Um exemplo: Na fita cassete é possível gravar, por meio de minúsculas modificações de imantação, uma série de sinais que correspondem, por exemplo, à execução de uma sinfonia. Esta fita, colocada num aparelho, reproduzirá a sinfonia, embora nem o gravador nem a fita contenham os instrumentos ou mesmo a partitura.” 

“É de uma maneira semelhante que se reproduz o organismo vivo. A fita de gravação é incrivelmente tênue, pois está representada pela molécula de DNA, cuja pequenez confunde a inteligência. Para fazermos uma idéia, se se reunisse num mesmo ponto o conjunto das moléculas de DNA que especificassem todas e cada uma das qualidades físicas dos seis bilhões de homens que existem neste planeta, essa quantidade de matéria caberia facilmente dentro de um dedal de costura.” 

“A célula original do ser humano é semelhante ao gravador com a fita. Mal o mecanismo se põe em funcionamento, a vida humana desenvolve-se de acordo com o seu próprio programa, e se o nosso organismo é efetivamente um aglomerado de matéria animado por uma natureza humana, isso se deve a esta informação primitiva, e somente a ela. O fato de o novo ser humano dever desenvolver-se no seio do organismo da mãe durante os seus primeiros nove meses não modifica em nada este fato.” 

“Sendo um ser humano, diferente de seu pai e de sua mãe, aninhado no útero: 

No 6° ou 7º dia de sua vida (medindo um milímetro e meio) preside o seu próprio destino: Envia uma mensagem química o estímulo do corpo amarelo do ovário e suspende o ciclo menstrual da sua mãe. 

Entre o 18° e 20º dia de sua vida: Seu minúsculo coração palpita. 

Com 30 dias de vida, medindo quatro milímetros e meio: Estão esboçados os seus braços, pés, cabeça e cérebro. 

Aos 60 dias de vida, mede, da cabeça às nádegas, uns três centímetros: Caberia, dobrado, numa casca de noz. Está quase terminado mãos, pés, cabeça, órgãos tudo está no seu lugar e só tem que desenvolver-se. Já se lêem as linhas da mão e com um microscópio comum, decifram-se suas impressões digitais. Se é menino, a glândula genital evolui como testículo, ou se menina, como ovário. 

Já aos dois meses de vida: Seu sistema nervoso está em funcionamento. 

Aos três meses de vida: Se lhe tocarmos o lábio superior, volta a cabeça, pestaneja, franze as sobrancelhas, aperta os punhos e os lábios; depois sorri, abre a boca e consola-se com um trago de líquido aminiótico. Nada vigorosamente na sua bolsa e revira- se num segundo. 

Aos quatro meses de vida: Mexe-se com tanta vivacidade que a mãe sente os seus movimentos. Graças à ausência quase total de gravidade na sua cápsula de cosmonauta, dá numerosas voltas. 

Aos cinco meses de vida: Agarra fortemente o minúsculo bastonete que se lhe põe na mão e começa a chupar o polegar esperando a libertação aos nove meses. 

A cada dia a ciência nos descobre um pouco mais acerca desta maravilha da existência oculta, deste mundo formigante de vida dos homens minúsculos, mais encantador ainda que o conto de fadas. 

Pois os contos foram inventados com base nesta história verdadeira, e se as aventura do Pequeno Polegar encantaram sempre a infância, é porque todas as crianças, e todos os adultos em que elas se converteram, foram um dia um Pequeno Polegar no seio de sua mãe.” 

(Texto publicado no semanário litúrgico Nova Aliança –  Ano XIV – Nº 46 – 07-10-2007 – Diocese de São José dos Campos – SP) 


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino