Congresso de Aparecida em defesa da vida proporá ação conjunta pró-vida
Fala o Prof. Dr. Humberto Leal Vieira, membro da Pontifícia Academia para a Vida
BRASÍLIA, quinta-feira, 10 de janeiro de 2007 (ZENIT.org).- Uma série de iniciativas em defesa da vida marca a pauta da Igreja no Brasil neste início de ano, já que a Campanha da Fraternidade da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de 2008 discute esse tema.
Para falar sobre o I Congresso Internacional em Defesa da Vida, que se celebrará no Santuário de Aparecida (170 km de São Paulo) entre os dias 6 e 10 de fevereiro, reunindo autoridades no assunto em âmbito internacional, e também sobre outros temas de bioética, Zenit entrevistou o Prof. Dr. Humberto Leal Vieira, membro da Pontifícia Academia para a Vida, presidente da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família e representante do Brasil da Human Life International.
–Que importância o senhor vê do I Congresso Internacional em Defesa da Vida, a se realizar no Santuário Aparecida, neste início de fevereiro, com a abertura da Campanha da Fraternidade?
–Prof. Humberto Vieira: Sem dúvida um Congresso desse porte, onde especialistas apresentam estudos e experiências sobre assuntos em defesa da vida e analisam, em âmbito mundial, os ataques à vida humana e à família, é de grande importância para todos os que se dedicam a esses assuntos. Por outro lado, foram felizes os organizadores desse congresso, ao fazer coincidir com a abertura da Campanha da Fraternidade, que neste ano tem como tema: “Fraternidade e Defesa da Vida” e como lema: “Escolhe, pois, a vida”.
–Que resultados se esperam do Congresso, para que a CF-2008 seja realmente um momento privilegiado da Igreja no Brasil para fortalecer o trabalho pró-vida em nosso país?
–Prof. Humberto Vieira: Na medida em que os participantes do Congresso são mais bem informados dos ataques à vida humana e à família, poderão melhor exercer suas atividades. Costumo dizer que a atividade em defesa da vida e da família consta de três etapas: 1° informar, 2° informar e 3° continuar informando. Não há dúvida de que as informações obtidas nesse congresso muito ajudarão os líderes pró-vida em sua missão junto à comunidade, junto aos legisladores e junto às mães em perigo de abortar seus filhos. Por outro lado, as pistas apresentadas pelos palestrantes e suas experiências muito contribuirão para o aperfeiçoamento do trabalho que já fazemos.
–Que diretrizes e posicionamentos o senhor espera que sejam contemplados na “Declaração de Aparecida em Defesa da Vida”, que será apresentada ao final do Congresso?
–Prof. Humberto Vieira: Primeiramente é necessário que denunciemos os promotores da “Cultura da Morte” e, em segundo lugar que se estimulem os movimentos que trabalham em defesa da vida e da família. Esperamos que essa “Declaração” seja um instrumento que não só unirá os movimentos e líderes pró-vida, mas que assegure um trabalho em conjunto para se construir a “Cultura da Vida” de que nos fala a encíclica “Evangelium Vitae”.
–Quais os desafios hoje mais relevantes quando se fala em defesa da vida no Brasil e no mundo?
–Prof. Humberto Vieira: Há grandes desafios. Pessoalmente me refiro a dois desses grandes desafios: a aprovação de leis que assegurem a defesa da vida e da família e a não aprovação de leis que atentem contra essas instituições. Além disso, acrescentaria a atenção e apoio às mães que, desesperadas, pensam em abortar seus filhos. Infelizmente poucos são os centros de apoio à mulher em nosso país. Trata-se muitas vezes de trabalho individual e abnegado de alguns. Por experiência sabemos que a gestante que é informada sobre a verdadeira natureza do aborto e recebe apoio para cuidar de seu filho desiste de abortar.
–Que projetos de leis tramitando no Congresso Nacional brasileiro de promoção da família e da vida humana que devemos apoiar e esperar serem votados o quanto antes?
–Prof. Humberto Vieira: Há alguns projetos em tramitação. O mais importante é o PL 478/2007, de autoria do Dep. Luiz Bassuma, PT/BA, que “Dispõe sobre o estatuto do nascituro”. Esse projeto encontra-se na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF). Pretende o projeto proteger o nascituro desde a sua concepção.
–Que experiências bem sucedidas de gestos concretos de acolhida e assistência às pessoas fragilizadas, especialmente mulheres grávidas que optam por não abortar, que o senhor destacaria como um bom exemplo a ser seguido em nosso país?
–Prof. Humberto Vieira: Há experiências bem sucedidas no México, no Chile e na Argentina que conheço pessoalmente. Trata-se de “Centro de Apoio à Mulher (CAM). Em uma casa são recebidas gestantes que pretendem abortar seus filhos. Lá encontram uma equipe que as recebe e orienta. Essa equipe treinada procura conscientizar a gestante, mostrando-lhe a verdadeira natureza do aborto. Através de filmes e de ultra-sonografia mostra-se à gestante que ela carrega em seu útero uma criança que é seu filho. Não se obriga a mulher a não abortar, mas lhe são dadas informações seguras para que possa tomar uma decisão consciente. A grande maioria não aborta seus filhos e até ajuda com seu testemunho para que outras não venham a abortar. Sem dúvida seria um bom exemplo a ser seguido por nós. Esses centros se propõem a treinar e a ajudar a implantação de outros centros na América Latina.
–Como o senhor espera que se desenvolva a CF-2008? O que o senhor considera mais importante como ações prioritárias?
–Prof. Humberto Vieira: Por decisão unânime do Conselho Permanente da CNBB essa campanha deve ser dirigida para a defesa da vida humana. A CNBB dá as diretrizes gerais e cada diocese é livre para orientar o “Povo de Deus” que lhe confiado. Considero importante que a comunidade seja informada sobre os vários ataques à vida humana como: fecundação artificial, aborto cirúrgico, aborto químico, eutanásia, contracepção, uso de embriões para pesquisas etc. Em audiência que me concedeu o secretário-geral da CNBB, D. Dimas Lara Barbosa, ele se mostrou empenhado em que a CF 2008 seja efetivamente dirigida para a defesa da vida humana.
–Que projetos de lei mais graves estão a ameaçar a família e a dignidade da pessoa humana, hoje em tramitação no Congresso Nacional brasileiro?
–Prof. Humberto Vieira: Há vários projetos todavia o mais preocupante é o PL PL 2285/07 de autoria do Dep Sérgio Barradas PT/BA. Que se encontra na Comissão de Seguridade e Família (CSSF). Foi designada relatora Dep Rita Camata PMDB/ES. Em face de requerimento apresentado pelo Deputado Rodovalho DEM-DF, solicitando apensação a um outro projeto foi designado um novo relator o Dep. José Linhares, PP/CE. Esse projeto propõe a desintegração da família e a criação de várias “modalidades de família”.
–Acontecerá dia 20 de fevereiro, no Congresso Nacional, o I Encontro de Legisladores e Governantes pela Vida. O senhor pode nos falar sobre esse encontro, e quais as frentes pela vida mais atuantes temos hoje no Congresso Nacional brasileiro?
–Prof. Humberto Vieira: Temos na Câmara dos Deputados três frentes parlamentares de nosso interesse: a) Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida – Contra o Aborto, liderada pelo Dep. Luiz Bassuma, PT/BA, Frente Parlamentar em contra a Legalização do Aborto – pelo Direito à Vida, Leandro Sampaio, PPS/RJ e a Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida liderada pelos Deputados Henrique Afonso PT/AC, José Linhares, PP/CE, Miguel Martini, PHS/MG e Rodovalho, DEM/GF. Os deputados Leandro Sampaio e Luiz Bassuma estiveram recentemente no Encontro Mundial de Legisladores e Governantes que se realizou em Santiago, no Chile e decidiram trazer essa experiência para o Brasil com o objetivo de criar uma rede de legisladores em defesa da vida humana.
–Também no final de fevereiro, o senhor deve participar da reunião anual da Pontifícia Academia para a Vida, da qual é membro vitalício. O que está previsto ser debatido esse ano na PAV?
–Prof. Humberto Vieira: A Pontifícia Academia para a Vida é constituída de cientistas nos vários campos da ciência que envolve a vida humana: geneticistas, biólogos, filósofos, psicólogos, juristas, moralistas, teólogos etc, além de alguns membros que são ativistas pró-vida. Anualmente a Pontifícia Academia para a Vida (PAV) realiza sua Assembléia Geral para tratar de um assunto relacionado à defesa da vida humana. Neste ano de 25-27 de fevereiro o assunto a ser discutido será “Cuidados dispensados ao doente terminal: aspectos científicos e éticos”. Em outras ocasiões já se tratou, entre outros, dos temas: eutanásia, Identidade e Estatuto do Embrião Humano, Genoma Humano etc.