A sociedade colombiana está chocada e se mobilizando contra as terríveis condições de vida dos cerca de 700 seqüestrados do grupo terrorista e guerrilheiro FARC – Força Armada de Libertação da Colômbia.
É um grupo que vive do terror, do seqüestro de inocentes e do tráfico de drogas.
A ex-deputada do Partido Liberal Consuelo González de Perdomo estava seqüestrada e foi libertada; trouxe da selva cartas que fizeram todo o país chorar e se revoltar contra a deprimente situação dos sequestrados. As vitimas são acorrentadas pelo pescoço, obrigadas a marchas forçadas no meio do mato e submetidas a cirurgias improvisadas com facas de cozinha.
Uma jovem guerrilheira de 17 anos com três meses de gestação fugiu faz uns dias das FARC, a que pertencia, para evitar que a submetessem a um aborto A moça denunciou também que é prática comum com as mulheres grávidas deste grupo fazê-las abortar. A jovem escapou em 19 de dezembro e se entregou a soldados da Brigada Móvel Nove, com um recipiente que continha 10 quilos de explosivos que devia ativar na passagem de um comboio militar. Ela é da localidade de Cartago e ingressou nas FARC aos 10 anos – é prática comum desta guerrilha recrutar meninas para suas filas – em São Vicente de Caguán, onde vivia com uma tia. (acidigital.com – 12 jan 2008)
93% da população da Colômbia é contra as FARC e na semana passada (17 jan 08) reuniram-se diante da embaixada da Venezuela em Bogotá com cartazes com a frase: “As FARC são terroristas sim”.
São cartas que vários reféns das FARC enviaram a seus familiares, e que fizeram o povo chorar porque falam de correntes, desespero e desolação. Consuelo foi seqüestrada em 10 de setembro de 2001 e suas filhas bateram de porta em porta pedindo ajuda, mas sem sucesso. Seu marido morreu em 2003 aos 69 anos de uma doença cardíaca depois de participar de dezenas de programas de televisão suplicando sua libertação.
Consuelo González, de 57 anos, reencontrou suas filhas em Caracas em 10 de janeiro, seis anos e quatro meses depois de seu seqüestro e sua mãe. A Colômbia chora seus filhos seqüestrados e maltratados pelas FARC e que hoje são usados como escudos humanos contra as forças do Exército. Uma carta que Ingrid Betancourt escreveu da selva, divulgada em 30 de novembro, diz que “viver ali era estar morta”. Outra conta a caminhada de seis meses feita por Gustavo Moncayo, seqüestrado há dez anos, desde Sandoná, um município humilde na fronteira com o Equador, até Bogotá, onde foi recebido há poucas semanas por mais de um milhão de pessoas, e de Bogotá até Caracas.
As cartas que Consuelo trouxe contam horrores: “Eu tinha de me arrastar pelo barro para fazer minhas necessidades, unicamente com a ajuda dos meus braços porque não podia me levantar”, conta o tenente-coronel Luis Mendieta, que foi seqüestrado há nove anos.”
Alan Jará, ex-governador estadual, refém há seis anos disse: “Todas as noites quando olho para as correntes que nos convertem em parte da árvore em que estamos preso, lembro-me de que foram as FARC que nos seqüestraram”.
Luis Mendieta, coronel da Polícia Nacional, refém das Farc há nove anos disse:”Por estar doente, tiraram a corrente com cadeado do meu pescoço. Mas os meus objetos pessoais tiveram de ser transportados por eles (os seqüestradores) e de um dia para o outro desapareceram. Quer dizer, fiquei sem nada, apenas com o que vestia.” “Eu tinha de me arrastar pela lama para fazer as minhas necessidades, só com a ajuda dos meus braços, porque não podia me levantar.” “Não é a dor física que me detém, nem as correntes em meu pescoço, mas essa agonia mental, a perversidade dos maus e a indiferença dos bons. É como se não valêssemos nada, se não existíssemos.”
Jorge Gechem, ex-senador, refém das Farc há cinco anos, escreveu: “Padeço de muitas doenças: os problemas cardíacos, a coluna vertebral, (…) me leva a não poder agachar com facilidade, não carrego nada, não posso lavar minha roupa, ou mesmo minha colher.”
“Tenho dor de cabeça com freqüência, devido a um golpe (sofrido) quando me levavam transportado em uma maca e me deixaram escorregar…” “Creio que há duas alternativas para minha saúde. Poderiam solicitar ao presidente Fidel Castro que intervenha junto ao presidente Uribe e ao secretariado das Farc, para ver se é possível meu traslado a um hospital de Cuba para tratamento. Se me recuperar, passaria para uma prisão em Havana, na minha qualidade de refém político à espera de um acordo humanitário.”
O jornalista colombiano Jorge Enrique Botero, um dos que têm mais acesso às Farc, afirma que a imagem da guerrilha ficou seriamente prejudicada. “Mesmo que libertassem os presos trocáveis, vai se instalar no imaginário coletivo uma idéia de crueldade que, para uma organização que pretende ser um partido político, é um obstáculo muito grande”.
Os parentes das vítimas convocaram uma manifestação para quarta-feira em Pitalito, outros cidadãos iniciaram uma campanha de coleta de um milhão de assinaturas na Internet e a mídia repete imagens do encontro de Consuelo e Clara com suas famílias, enquanto se ouve a canção que diz: “Só peço a Deus que a guerra não me seja indiferente”.
Consuelo disse que: “Estas provas de sobrevivência causaram horror. Mas espero que a solidariedade que estamos vivendo hoje não se dissipe com uma partida de futebol ou qualquer evento”.
Metade do contingente das FARC já desertou e suas bases na cidade já foram vencidas pelo governo; mas nas selvas continua a fazer novos membros, que são geralmente recrutados crianças por volta dos 12 anos. Estima-se que entre 20% e 30% dos membros tenham menos de 18 anos.
Os jovens são isolados do mundo exterior, da família e perdem o próprio nome, substituído por um “nome de guerra”. Passam por uma “lavagem cerebral”. Clara Rojas, que foi libertada, contou que os membros das Farc só sorriem se recebem autorização superior para isso. Nos últimos doze anos, quase 7 000 seqüestrados passaram pelos cativeiros das Farc. Elas têm no narcotráfico uma fonte rentável de financiamento. A organização domina hoje todas as etapas de produção da cocaína na Colômbia, do plantio à exportação. Estima-se que isso lhe renda 590 milhões de dólares anuais. Os seqüestros continuam para aterrorizar e subjugar os colombianos.
(Fontes: uol.com.br – 23 jan 2008; Revista Veja n. 2044)
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br