O QUE A IGREJA DIZ SOBRE PESQUISA HUMANA

 

O episódio da votação da constitucionalidade do uso de embriões humanos para gerar células tronco, com sua consequente destruição, trouxe à baila, mais uma vez, a questão da fé e da ciência, como se fossem opostas. Alguns até andaram dizendo que a “ciência venceu a fé”.  

Em primeiro lugar, é preciso dizer que a ciência e a fé foram dadas ao homem pelo mesmo Deus, que nos deu a inteligência e tudo o mais. O Papa João Paulo II começou a belíssima Encíclica “Fides et Ratio” (Fé e razão) afirmando solenemente que: “A fé e a razão são as duas asas com as quais o espírito humano alça vôo para contemplar a verdade”. E o Papa falou do perigo da “fé sem a razão”, que pode desembocar no perigoso fideísmo fanático e anti-intelectual; e do perigo da “razão sem a fé” que leva ao racionalismo frio, materialista, cruel. 

Logo, se a fé for vencida, a ciência também o será, mesmo que isso não fique muito explícito aos descrentes. Ambas são irmãs que caminham juntas e se ajudam reciprocamente. Em meus livros “Ciência e fé em harmonia” e “Uma História que não é contada” (Ed. Cléofas)  pude mostrar com muitos dados esta realidade.  

A Instituição que mais investiu no mundo, ao menos nos primeiros 16 séculos do cristianismo, foi a Igreja católica. Ela preservou os clássicos da Antiguidade, impedindo que fossem destruídos pelo barbarismo; ela fundou escolas e colégios ao lado de cada catedral desde os primórdios; ela fundou as primeiras universidades do mundo, a partir do século XII: Bolonha, Oxford, Sorbone, Salamanca, Cambridge, Coimbra, Montpelier…; ela desenvolveu a astronomia, a música, a arte, o teatro, a medicina, a arquitetura, a matemática, a física… Vejamos as belíssimas catedrais medievais com seus vitrais deslumbrantes, bem como os castelos insuperáveis. Não tem a menor base histórica se afirmar que a Igreja foi ou que seja  obscurantista, isto é, inimiga da ciência ou que a tenha impedido. È um delírio afirmar isso. Os mais famosos historiadores modernos concordam que se não fosse o longo trabalho de dez séculos após a queda do Império Romano do Ocidente (476) nas mãos dos bárbaros, não teríamos hoje a nossa pujante Civilização Ocidental. 

O Catecismo da Igreja ensina com clareza o que a Igreja aceita em termos de procedimentos científicos. Ela aceita tudo que for para o bem da pessoa humana, mas que respeite a sua realidade transcendente de filho de Deus, dotado de uma alma imortal, criada para cada pessoa, individualmente, no momento da sua concepção. O que a Igreja não pode aceitar é que o fruto da ciência seja usado contra a dignidade da pessoa humana. A moral cristã não pode aceitar que “os fins justifiquem os meios” e que “o bem seja feito por um meio mau”. Isto derrubaria a verdadeira civilização. 

Entre outras coisas ela ensina:  

“As experiências científicas, médicas ou psicológicas em pessoas ou grupos humanos podem concorrer para a cura dos doentes e para o progresso da saúde pública”. (Catecismo §2292 )  

“A pesquisa científica de base, como a pesquisa aplicada, constituem uma expressão significativa do domínio do homem sobre a criação. A ciência e a técnica são recursos preciosos que são colocados a serviço do homem e promovem o desenvolvimento integral em benefício de todos; contudo não podem indicar sozinhas o sentido da existência e do progresso humano. A ciência e a técnica estão ordenadas para o homem, do qual provêm a sua origem e crescimento; portanto, encontram na pessoa e em seus valores morais a indicação de sua finalidade e a consciência de seus limites”. (§2293) 

“É ilusório reivindicar a neutralidade moral da pesquisa científica e de suas aplicações. Além disso, os critérios de orientação não podem ser deduzidos nem da simples eficácia técnica nem da  utilidade que possa derivar daí para uns em detrimento dos outros, nem muito menos das ideologias dominantes. A ciência e a técnica exigem, por seu próprio significado intrínseco, o respeito incondicional dos critérios fundamentais da moralidade; devem estar a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu bem verdadeiro e integral, de acordo com um projeto  e a vontade de Deus”. (§2294) 

“As pesquisas ou experiências no ser humano não podem legitimar atos em si mesmos contrários à dignidade das pessoas e à lei moral. O consentimento eventual dos sujeitos não justifica tais atos. A experiência em seres humanos não é moralmente legítima se fizer a vida ou a integridade física e psíquica do sujeito correrem riscos desproporcionais ou evitáveis. A experiência em seres humanos não atende aos requisitos da dignidade da pessoa se além disso ocorrer sem o consentimento explícito do sujeito ou de seus representantes legais”. (§2295) 

Se essas premissas básicas forem respeitadas, a fé e a razão, a ciência e a pesquisa, caminharão juntas, auxiliando-se reciprocamente, e dando ao homem bens imensos. Vale a pena lembrar o que disse um dia o Papa Paulo VI: “A Igreja é doutora em humanidade”. 

Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br 

 

 


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino