Karl Marx, ateu radical

  

Por: Cônego Vidigal – 17/07/2008  

Professor no Seminário de Mariana – MG 

 Karl Marx foi sempre um ateu radical. G. Siewerth patenteia que para Marx, “a fé em Deus é, pois, ao mesmo tempo, uma divisão da consciência e uma ilusão. Urge, portanto, desmascarar esta ilusão a fim de restituir ao homem a dignidade perdida da sua interioridade infinita”. Karl Marx tende, ab ovo, ao anti-transcendentalismo. É o materialismo prático.

Escreve ele: “A luta contra a religião implica a luta contra o mundo do qual a religião é o aroma espiritual”. Como verdadeiro discípulo de Feuerbach, Marx conclui que a adesão a Deus tira ao homem a consciência de sua grandeza: é uma alienação. Eis seu asserto contundente: “Mais o homem coloca realidade em Deus e tanto menos resta de si mesmo”.

 A ação de um Deus Supremo impede sua independência total. Sua emancipação exige “a priori” a morte de Deus. É exatamente o trabalho que permite ao homem construir-se enquanto homem.

Fica claro, pois, que o ateísmo não é acidental ao marxismo, impossível ser um “bom” marxista, permanecendo crente.

Marx é taxativo: “O ateísmo é uma negação a Deus e por esta negação coloca a existência humana”.  Entre a razão e a fé o conflito é peremptório. Diria depois Lénine: “O marxismo é o materialismo. Por este título ele é tão implacavelmente hostil à religião, quanto o materialismo dos enciclopedistas do século XVIII ou o materialismo de Feuerbach”. Prossegue ele: “Devemos combater a religião. Isto é o a-b-c de todo o materialismo e, portanto, do marxismo”. Não se trata de um conselho facultativo. Fala categoricamente: “Nossa propaganda compreende necessariamente a do ateísmo”.

  É a própria religião, sob a forma mais pura, que o marxismo considera como alheação perigosa da qüididade do homem. O comunismo, que é o herdeiro mais fiel de Karl Marx, se revela, pois, em lógica conseqüência, intransigente neste ponto.

Lénine assim se manifestou também, em 1905: “A religião é uma espécie de mau vodka espiritual no qual os escravos do Capital afogam seu ser humano e suas reivindicações para com uma existência ainda pouco digna do homem”.

 Marxismo e ateísmo não podem ser dissociados. O ateísmo é intrínseco ao marxismo. É-lhe medular, parte integrante. O ateísmo não é em Marx uma superestrutura. A própria consciência que o homem tem de si exclui, completamente, a possibilidade de Deus. Daí ser um erro primário querer abstrair dos escritos de Marx o ateísmo. É desestruturá-los. Não há meio termo. Há uma contestação terminante à Transcendência.  


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino