O MANTRA NA IGREJA

Tenho recebido emails de algumas pessoas perguntando se pode-se usar o mantra na oração, na igreja, etc. Para atende a esse pedido publico a seguir uma síntese do artigo de D. Estevão Bettencourt sobre o assunto publicado na Revista Pergunte e Responderemos (Nº 408 – Ano : 1996 – pág. 209).  “Em nossos dias certos autores de espiritualidade católicos recomendam exercícios corporais e ritmos respiratórios para favorecer e provocar a oração. Estas técnicas têm origem na espiritualidade hinduísta, que é panteísta, identificando a Divindade e o homem como se este fosse uma centelha divina apoucada pela matéria.  Os exercícios corporais hinduístas têm em vista colocar o orante em sintonia com a Divindade existente no mundo inteiro; aperfeiçoariam a união com Deus.  Ora os autores católicos, embora tencionem ficar no âmbito do Cristianismo, se exprimem de tal modo que muitas vezes parecem identificar-se com o pensamento hinduísta; as posturas corporais e a respiração ritmada dariam ao cristão o contato mais íntimo com Deus; colocá-lo-iam em contato com a Fonte do seu ser, que está no mais íntimo do homem; fá-lo-iam sintonizar com Deus como se este fosse uma fonte de energia no sentido da Física moderna. – Daí as sérias restrições que as táticas orientais mereceram da parte da Santa Sé e que conservam seu pleno valor diante de publicações recentes como “Orar com o Corpo”, revista carmelitana” (A revista carmelitana “ORAR” nº 9)”. 

“A oração tem dois aspectos: 1) É a procura de Deus por parte da criatura, de modo que supõe a mobilização das faculdades humanas (intelecto, vontade, fantasia, memória …), como aliás é praticada na meditação inaciana, na beruliana, etc.  Desta maneira o corpo e a sensibilidade desenvolvem sua atividade quando alguém quer rezar, somos todos psicossomáticos; nenhum ato da nossa pessoa é meramente espiritual ou meramente corporal.  Verifica-se que, quando a pessoa está cansada ou com dor de cabeça, pode sentir mais dificuldade para concentrar-se e rezar. 2) Mas a oração é também, e principalmente, ação da graça de Deus no orante.  Diz São Paulo: “O Espírito socorre a nossa fraqueza.  Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e Aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito, pois é segundo Deus que ele intercede em favor dos santos” (Rm 8,26s).  A oração é um Dom ou uma graça de Deus”. 

“Compreende-se então que os cristãos procurem condições fisicamente sadias para rezar; mas a Tradição cristã, em seu veio central ou pela palavra de seus grandes mestres, jamais apregoou exercícios respiratórios ou posturas físicas como recursos para rezar bem.  Pode-se até notar que não poucos Santos procuraram posições incômodas para rezar; ajoelhavam-se sobre pedrinhas ou sobre grãos de milho, procuravam não se encostar em suas cadeiras, usavam cilícios … Estas práticas nada tinham (ou têm) de masoquista, mas derivavam-se da consciência de que a mística é inseparável da ascese; a mortificação corporal acarreta o efeito benefício de amainar as  paixões e libertar a mente para que mais facilmente se possa entregar à meditação das realidades transcendentais”. 

“Se a oração é a elevação da alma a Deus, suscitada pela graça divina (definição clássica), ela ocorre segundo a espontaneidade do Espírito Santo, ainda que o orante esteja na mais profunda fossa; talvez mesmo em ocasiões de aflição e angústia ela prorrompa mais forte e espontânea.  Quem muito valoriza os exercícios corporais para rezar, corre o risco de identificar oração e bem-estar higiênico, ou também o risco de identificar gestos corpóreos e valores éticos espirituais, como se pode depreender de alguns textos extraídos das pp. 26s do referido fascículo”.  “Como se pode ver, as diversas fases da respiração vêm a ser como que a concretização de atividades do orante.  Muito mais grave é o que se segue logo após o trecho atrás transcrito: “Pela respiração entro em harmonia com o cosmo e suas vibrações.  Com o ritmo de seu fluxo e refluxo.  O sopro que habita em mim, é o alento de Deus: “Javé insuflou em seu nariz um alento de vida e o homem se fez um ser vivente” (Gn 2,7).  Nestes momentos conscientizar-me de que possuo esse sopro é vincular-me ao Criador.  Esse sopro é seu Espírito que me une com o Pai e o Filho e toda a criação” (p. 27). “Estes dizeres sugerem nitidamente o panteísmo: o ar que alguém respira vem a ser a vida divina, o alento de Deus, alento de Deus que é identificado com o Espírito Santo; esse ar-Espírito une o orante à Divindade e às criaturas todas.  O homem vive não por um princípio vital criado, mas pelo sopro de Deus, que é o Espírito Santo.  Nisto há um abuso da linguagem figurada de Gn 2,7; o texto bíblico concebe Deus metaforicamente como um oleiro, que sopra na face do seu boneco de argila; esse soprar tem o caráter metafórico da imagem aplicada; significa a infusão do princípio vital do homem, que não é o Espírito Santo”. 

OS MANTRAS “O vocábulo indiano mantra significa uma palavra ou uma fórmula “impregnada de um poder particular capaz de unificar energias habitualmente dispersas e contrapostas”. Sua eficácia parece estar radicada em dois fatores: “a vibração que penetra as camadas mais profundas e sutis da consciência, e seu significado …” (p. 34). Essa palavra-mantra é repetida com freqüência “de modo a mergulhar facilmente o orante nas profundidades do seu psiquismo” (cf. p. 34). O mantra nos proporciona “uma certa experiência sensível – em nível de fé, não sensual – da Presença de Deus no centro do nosso ser” (cf. p. 36). A explanação relativa ao mantra dá a impressão de que a vibração do ar decorrente da repetição da “palavra sagrada” tem um efeito físico: ela “põe o orante em sintonia com Deus” (p. 34), como se Deus fosse uma emissora de ondas e energias, que capto desde que utilize a vibração certa ou adequada para atingi-lo.  O mantra tem eficácia física capaz de apreender a Deus como se Deus fosse uma realidade do nosso mundo físico, quantitativo, mensurável.  Isto eqüivale a professar o panteísmo”. 

“O panteísmo também parece insinuado pelas expressões “mergulhar nas profundidades do nosso psiquismo, proporcionar uma experiência sensível – … não sensorial – da Presença de Deus no centro do nosso ser”.  Dir-se-ia que está subjacente a idéia de que o homem é uma centelha de Deus envolvida pela corporeidade.  A fé cristã admite, sim, que Deus habita nos corações puros, mas está longe de professar que Deus pode ser experimentado mediante vibração do ar”.   


Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br Twitter: @pfelipeaquino